Duas semanas depois
Kepa e Jorginho se mantiveram ao lado de Isabel. Ela apresentou piora no estado de saúde, mas ainda não havia dito ao melhor amigo o que estava realmente acontecendo. Como ele tinha que saber de uma forma ou de outra, combinou um encontro com o goleiro em um pub que havia perto de casa.
Ela odiava dar notícias ruins para as pessoas que amava e aquela talvez seria a noite mais difícil de enfrentar. Isabel simplesmente não sabia como dizer a verdade a ele e pela primeira vez na vida não sabia o que vestir. Demorou o triplo do tempo habitual no banho. Não queria ter que encarar os olhos tristes do outro.
Depois da primeira partida como capitão do time, Kepa se sentia o homem mais forte do mundo. Parecia que nada seria capaz de derrubá-lo e até então tudo estava bem. Pegou uma sequência de três jogos depois daquele e se saiu bem em todos. Quatro partidas disputadas e apenas um gol sofrido. Sentiu-se confiante e teve o apoio da torcida. Leu sobre os jogos na internet e ficou feliz com tantos comentários positivos.
Ele se arrumou para encontrar com Isabel. Jorginho não iria porque estava indisponível: o brasileiro recebeu a família em Londres e ficou inteiramente por conta da mãe e da irmã. Kepa foi para casa, mas aceitou o convite para jantar com ele e a família em outra noite naquela semana.
O espanhol foi para o pub onde combinou de se encontrar com Isabel. Pediu uma mesa mais reservada ao dono do local. Começou com uma cerveja, pois sabia que ela poderia demorar. A amiga nunca foi muito pontual para os compromissos.
Dito e feito. Isabel chegou com o fenomenal atraso de uma hora e meia.
— Desculpe a demora — ela o abraçou. — Eu sei, você odeia atrasos. É que eu não conseguia escolher o que vestir, sabe?
— Isso acontece quando você está desconfortável com algo. E sobre o atraso, não se preocupe... eu olhei para os carros passando na rua todo esse tempo. Tem uma banda legal tocando logo ali e já pedi pelo menos cinco músicas em espanhol para eles. Acho que se cansaram de mim — Kepa riu. — Você está linda!
— Obrigada. O seu cabelo fica tão bonito assim, não acha?
— Como? — ele puxou uma mecha e brincou com os fios.
— Assim... do jeito que é — Isabel chamou um garçom e pediu drinks para eles. — E você está elegante... parece que saiu de um filme dos anos setenta.
— Diga, pareço mais o herói ou o vilão? — Kepa semicerrou os olhos e forçou a mandíbula.
— Desse jeito parece um vilão que rapta donzelas... ou seria um certo brasileiro? — ela bebeu um pouco e os dois caíram na gargalhada.
— É impossível ficar sério perto de você! — ele secou as lágrimas que se formaram com a risada. — Falando nisso, o que nos trouxe até aqui? Foi só uma vontade louca de encher a cara?
— Queria lembrar os velhos tempos... lembra quando você ainda dava os primeiros passos da carreira e nós nos encontrávamos em uma lanchonete para jogarmos conversa fora?
— Lembro. Aquilo sempre terminava em batata frita com alguma sobremesa na sequência ou em um delicioso sanduíche com milk shake que você sempre escolhia e eu sempre gostava.

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Cartas | Kepa Arrizabalaga
FantasyKepa começa a receber cartas de alguém que o motivam a acreditar mais uma vez nas pessoas. Ele terá que se reconectar com as próprias raízes para reconstruir a vida depois de perder o espaço que tinha no time e na seleção e de sofrer ataques de pess...