Até logo

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Kepa se sentia muito bem quando estava com Jorginho, mas a madrugada foi muito inquietante. Chovia forte e os trovões acordaram o espanhol, que estava com o sono leve. Ele foi para a janela e se sentou no parapeito. Abriu a coberta que havia ali e ajeitou as almofadas para observar a chuva.

— Perdeu o sono? — Jorginho perguntou, ao perceber que ele estava na janela. O goleiro não ouviu. — Kepa...

— Oi — respondeu, desanimado. — Perdi o sono. Acho que foi por conta da chuva.

— Vai ficar tudo bem — ele saiu da cama e o abraçou. Jorginho se sentou do outro lado do parapeito e também observou a chuva.

— Já teve medo do futuro? — Kepa perguntou, enquanto fitava as luzes do outro lado da rua.

— Sim... mais vezes do que pode imaginar. Você está se sentindo assim?

— Estou. É horrível. Não quero que Isa fique sozinha em Barcelona.

— Ela disse que vai ficar na casa dos amigos. Não se preocupe com isso... quando tivermos alguma folga, você poderá visitá-la.

— Será que eu vou conseguir?

— Não sei, mas posso ir com você se precisar. Vamos dormir... o treino é bem cedo.

— Pode ir. Ainda estou sem sono.

Jorginho cruzou os braços e o encarou. O quarto estava quase escuro, a não ser pelas tímidas luzes da rua que invadiam o ambiente. Kepa forçou um sorriso, pois sabia que o outro estava preocupado.

— Venha — ele pegou a mão do goleiro e puxou-a cuidadosamente.

O outro cedeu e voltou para a cama. Jorginho o manteve envolvido em um abraço quente, acarinhou o cabelo dele com as mãos e brincou cuidadosamente com os fios que davam pequenas voltas e o deixavam ainda mais bonito.

— Incrível como você me acalma... — Kepa disse.

— Fazemos tão bem um ao outro — ele o beijou e bagunçou o cabelo dele. — Ti amo.

— Nik ere maite zaitut.

— Espero que seja um "também te amo". Você falou em basco?

— É isso. Sim, em basco. Mas posso dizer de um jeito que entende melhor... yo también te amo. — Kepa fez uma pausa. — Nunca usei o meu idioma nativo para dizer isso a alguém. Saiu automaticamente.

— Então acho que saiu daqui — Jorginho colocou uma das mãos sobre o lugar onde ficava o coração dele.

— Sim. Saiu — o espanhol ficou tímido.

Aquela demonstração de carinho desencadeou o momento mais bonito entre eles. Ficaram de pé no escuro, abraçados e unidos como um só. Jorginho também estava cheio de preocupações e incertezas, mas o outro o ajudava a atenuar todas as complicações sem necessariamente dizer algo.

Pouco a pouco, Jorginho o conduziu até a cama. Ele não tinha pressa, apesar do sono que sentia. O goleiro encostou a cabeça no travesseiro e olhou para ele. Era como se pudesse vê-lo completamente. Adorava as metáforas que criava na cabeça quando estava com ele.

O meia sentiu que Kepa não acionava mais nenhuma defesa interna quando estavam juntos. Sentiu-se vitorioso com aquilo. O objetivo era um só: fazer com que se sentisse suficientemente confortável. Aparentemente, conseguiu. Um feito que parecia improvável antes do primeiro beijo. O beijo que ele, inclusive, não planejou.

Porém, aquela atitude mudou toda a trajetória das coisas. Se antes ele tinha que fazer um esforço descomunal para tirar Kepa de casa para que fosse a alguma festa ou até mesmo para um treino, depois do beijo tudo ficou muito mais fácil. Bem mais fácil.

Cartas | Kepa ArrizabalagaOnde histórias criam vida. Descubra agora