Escolha

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Jorginho acordou durante a manhã para beber água. Foi difícil desvencilhar-se de Kepa, que dormia como uma criança. Antes de se soltar dele, observou-o dormindo e ficou com dó de sair da cama. Mas ele precisava se hidratar.

Ele olhou o relógio da cozinha e ainda eram oito da manhã. Sentou-se no sofá da sala para organizar os pensamentos.

— Perdeu o sono? — Kepa perguntou, esfregando os olhos. — Percebi que você acordou.

— Foi por minha causa?

— Não, mas vou voltar para a cama. Ainda estou cansado... você vem?

— Daqui a pouco... ainda preciso pensar em algumas coisas.

— Vou esperar por você — Kepa sorriu.

— Em no máximo dez minutos eu volto, tudo bem?

O goleiro foi à cozinha, bebeu água e voltou para o quarto novamente. Jorginho ficou olhando uma das fotos que tiraram na madrugada. Quis congelar o tempo para eles. Queria que ficassem ali, juntos. Porque sabia que nunca seria decepcionado pelo amigo. E ele também não o decepcionaria.

Lutou por Kepa porque sabia que havia a chance, mesmo que fosse mínima, de ver o amigo sucumbir em meio ao que passava. Seria inaceitável vê-lo perder a batalha. Pouco a pouco, Jorginho fez de tudo. Falava com o goleiro depois dos treinos, sentavam lado a lado nos voos, aparecia na casa dele repentinamente e sempre tentava deixá-lo confortável.

Mas Kepa também lutou por Jorginho. Não de forma totalmente direta, mas sabia e entendia o que ele também passava no dia a dia. Fez o que pôde por ele, ajudando e retribuindo a força e o apoio que recebia. O goleiro não estava sozinho. Sabia que tinha outras pessoas e uma delas era ele. Em muitos momentos, bastava que se olhassem rapidamente para entenderem um ao outro.

Jorginho levantou do sofá e foi para o quarto. Encontrou-o quase dormindo. Fechou a cortina por completo, deixando o ambiente um pouco mais escuro.

— Demorei? — ele se deitou novamente ao lado do espanhol.

— Não... eu também estava pensando em algumas coisas. — Kepa fitou os olhos verdes do brasileiro. — A vida é muito maluca, não é?

— Pode apostar que sim. É tão bom estar aqui com você...

Eles se abraçaram e combinaram que dormiriam o máximo possível, principalmente porque estavam juntos ali e nada mais importava. Nem mesmo a leve fome que sentiam depois de horas sem comerem nada.

Kepa sentiu que Jorginho estava levemente diferente do que nas horas anteriores, mas evitou preocupar-se com aquilo. Manteve-se abraçado a ele, que fechou os olhos e mudou até o ritmo da respiração. Desacelerou-se, ficou mais calmo e dormiu. O espanhol fez o mesmo e caiu no sono também.

Horas depois, o goleiro acordou com o som dos trovões. Abriu os olhos e percebeu que Jorginho não estava mais ao lado dele. Um cheiro bom tomou conta da casa. Kepa levantou e desceu para a cozinha. Encontrou-o de frente para o fogão.

— Depois de tudo que aconteceu ontem e hoje, me senti em débito com você e resolvi preparar algo para comermos. Aprendi a cozinhar bem depois de tantos anos vivendo na Itália.

— Sabe, eu poderia me acostumar facilmente com isso. Nós dois, cozinhando um para o outro... — ele o abraçou de lado, acariciando o rosto do brasileiro.

Mas Jorginho não deu muita atenção ao carinho recebido. Estava perdido em pensamentos. 

— Você ouviu o que eu disse? — Kepa o observou.

Cartas | Kepa ArrizabalagaOnde histórias criam vida. Descubra agora