Lembranças

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Kepa chegou em casa bêbado. Fazia muito tempo que ele não se sentia tão bem. A festa foi divertida e o clima melhorou muito depois que decidiu deixar os problemas de lado. Pelo menos por algum tempo.

O goleiro estava com sono e se jogou na cama. Estava cansado.

Meses antes

Ele passava alguns dias na casa dos pais, no litoral espanhol. As férias, daquela vez, eram maiores. A namorada foi junto, mas preferiu ficar em um hotel. Kepa não se opôs, mas preferiu ficar com os pais para matar a saudade.

Naquele dia, alguns amigos o convidaram para ficar a parte da tarde em uma praia nas proximidades. Ele aceitou e foi andando. Eram quarenta e cinco minutos de caminhada. Ele não se importava com a distância, só queria sentir que estava em casa novamente. Passou a tarde inteira com os amigos. Eles conversaram, bateram bola na areia e jogaram cartas na sombra. Em vez de beber, o goleiro tomou suco, pois sairia com Marina à noite.

Quando o sol começou a se pôr, Kepa decidiu caminhar com os pés na areia de um lado a outro da praia. No canto direito da orla, havia uma formação rochosa que ele gostava de escalar quando era criança. Não quis fazer outra coisa senão lembrar dos velhos tempos e observar a paisagem. Quando chegou à parte mais alta, viu as ondas quebrando na praia e ouviu o som das águas indo e vindo. Sentiu-se calmo. Estava em casa.

O espanhol decidiu voltar para o lugar onde os amigos estavam, mas viu algo que o deixou estarrecido. Marina estava deitada em uma esteira de bambus com um homem que a beijava como se fossem um casal apaixonado. Ele simplesmente travou onde estava e ficou sem reação. A mulher o viu e se assustou.

— Kepa... não é o que está pensando! — ela levantou rapidamente e despachou o homem. — Vá!

— Não ouse sair daqui! — o goleiro gritou para o homem. — Então é por isso que está tão sumida pela região, não é? Fazendo uma viagem paralela à terra da promiscuidade... que legal! Quando ia me contar sobre essa aventura?

— Não é isso...

— Vá em frente! Posso fazer isso o dia todo.

— Simplesmente aconteceu...

— Mas é claro que simplesmente aconteceu. Eu simplesmente estava caminhando tranquilo pela orla da praia que mais gosto em todo o mundo e encontro repentinamente a mulher que amo atracada com outro. Continue tentando explicar! — Kepa ironizou. — Se ousar ir embora, vai se arrepender — ele gritou para o homem. — Há quanto tempo isso vem acontecendo?

Marina chorava copiosamente, sentindo-se humilhada.

— Por favor, pare com isso! Aqui não — ela pediu, ouvindo o riso sarcástico do goleiro em seguida.

— Você realmente acha que não vai passar vergonha? Então por que fez isso? Sabe quem tem esse tipo de atitude? Gente que não tem escrúpulos! A partir de hoje, continue sua boa vida com esse aí, não apareça em Londres e não me procure mais!

Por fora, Kepa esboçava revolta diante do que presenciou. Por dentro, a situação desencadeou o caos. Ele quase ficou fora de si, mas controlou-se.

— Não faça isso, eu te amo! — Marina disse, pegando nas mãos dele, que soltou-as bruscamente.

— Se amasse, estaria na casa dos meus pais comigo. Se amasse, não teria feito essa viagem paralela. Se amasse, não teria feito isso. Se amasse... há quanto tempo está com esse merda?

— Oito...

— Oito o quê?

 — Oito meses...

Cartas | Kepa ArrizabalagaOnde histórias criam vida. Descubra agora