Cartas | Kepa Arrizabalaga

Jogo

Eles acordaram cedo no outro dia. Tomaram café da manhã e foram para o local onde o time tinha o costume de se reunir antes dos jogos.

— E se a torcida reagir mal à minha escalação? — Kepa perguntou enquanto estavam no ônibus.

— É claro que não vão fazer isso — Azpilicueta, que se sentou ao lado dele e de Jorginho, disse. — Preocupe-se apenas com o jogo dentro de campo. Deixe o resto de fora.

— Estou com o Azpi — o brasileiro concordou. — Foque em fazer o que você faz a vida inteira.

A equipe foi direto para o vestiário assim que chegou ao estádio. Jorginho levou Kepa para a sala onde Isabel os aguardava. Ela parecia abatida, mas o espanhol imaginou ser algo normal devido ao tratamento.

— Eu não poderia deixar de vir — ela o abraçou com força. — Bom jogo!

— Você veio mesmo! — ele sorriu. — Obrigado. Como está se sentindo?

— Um pouco fraca, mas com toda a vitalidade do mundo para torcer por você como sempre fiz.

— Dê isso a ela — Jorginho sussurrou e entregou um embrulho para ele.

— Aqui está — Kepa entregou o pacote para ela em seguida.

— Eu preciso vestir agora! — depois de abrir, Isabel tirou uma camisa com o nome e o número do melhor amigo e comemorou.

— Use aquele banheiro — o brasileiro apontou para uma das portas. — Eu vou para o vestiário. Bom te ver, Isa.

— Bom jogo, Jorgi!

— Antes que eu me despeça, queria te dizer uma coisa... — ela fitou os olhos do espanhol. — Lembro dos seus jogos quando ainda estava na equipe secundária do Athletic como se tivessem acontecido ontem. Você cresceu muito desde então...

— Eu sempre fui alto — Kepa riu.

— Não... eu falei sobre o quanto evoluiu até aqui. Você passou por tantas coisas e merece tanto entrar em campo hoje... tenho muito orgulho do homem que se tornou e sou tão feliz e grata por termos nos reencontrado... — Isabel segurou as mãos dele. — Hoje sou a pessoa mais feliz nesse estádio!

— Então eu sou o segundo mais feliz aqui! Obrigado por tudo. Como sei que gosta de canapés e taças de champanhe, espero que aproveite o camarote. Hoje pode, não é?

— Sim! Hoje posso fazer tudo! Já estava me esquecendo... — Isabel procurou algo na bolsa e tirou um objeto dela. — É de Nossa Senhora de Begoña.

— Eu lembro desse terço! Você ganhou da sua mãe antes de...

— Sim, meses antes de ela morrer. Ela me disse que com isso eu me sentiria a mulher mais forte do mundo.

— Mas por que está me dando então?

— Porque apesar de ser uma lembrança viva da minha mãe, não preciso mais dele. Tenho outras coisas que foram dela e descobri que só preciso de você e do Jorgi para ser forte. É seu agora — Isabel sorriu. — Faça bom uso.

— Obrigado por não ter desistido de mim.

— Qualquer pessoa que desistiu de você não sabe o homem maravilhoso que é. Bom jogo, meu campeão.

— Te vejo em breve — o goleiro a abraçou.

Isabel não queria soltá-lo. Kepa era praticamente a única razão para que lutasse pela vida. Não sabia quanto tempo teria, mas faria questão de ver todos os jogos do melhor amigo. Sentia-se feliz perto dele e de Jorginho. Era onde ela queria estar.