Na segunda levanto atrasada – de novo – e vou às pressas para o trabalho depois de passar na padaria e comprar o café da manhã da minha chefe preferida. Assim que chego ao trabalho vou deixar a sacola em sua mesa e subo para o balcão. Pego o batom de Vanessa emprestado e, enquanto o passo nos lábios, ela e Mari me observam curiosas.
— Que foi? O que tanto vocês duas me olham? É a maquiagem que não tá legal? — Pergunto, devolvendo o batom à Vanessa.
— Nós queremos saber de tudo. Sem enrolação — ela fala cruzando os braços sobre o peito, assim como Mari também o faz.
— É. Fala tudoooo. Nós duas queremos saber quem era o cara com quem você saiu da minha festa no sábado. Fala tudo e nem se atreva a poupar detalhes.
— É, sem poupar os detalhes — Vanessa repete apoiando o cotovelo no balcão e o queixo nas mãos, esperando que eu conte minha história. — Queremos saber tudo sobre o cara: endereço, telefone, idade, profissão, se é bonito ou não.
Solto um suspiro. O que eu poderia fazer? Teria que dizer a verdade a elas também. Mas não toda, é claro. Contaria o mesmo que contei a Cris.
— Ãhnm... pois é. Saí mesmo com um homem no sábado à noite e aí nós... transamos.
— Oh, my God! — Mari exclama levando as mãos ao rosto.
— E quem é esse cara? — Vanessa pergunta toda eufórica.
— Éééé... bom, um cara qualquer. Nem conheço ele.
— Como assim? Como você foi pra cama com um cara que não conhece?
— Acontece que bebi demais na festa, eu e esse cara conversamos e bebemos juntos, dançamos e depois eu dei a louca de ir para o motel com ele.
— Você foi para um motel? — As duas indagam juntas, completamente piradas com tudo o que estou contando.
— Eu sei, é estranho demais pensar que uma pessoa sensata como eu algum dia iria para um motel com um cara. Nem eu mesma acredito que fiz isso. Foi a maior loucura da minha vida.
— Mas e aí? Quem é esse cara? — Mari pergunta muito ansiosa. — Como ele é? Se você falar as características talvez eu saiba. Afinal todos os convidados da festa eram amigos meus.
— Já disse que não sei — digo exausta. É muito ruim ter que mentir para as minhas amigas assim. Mas seria mais vergonhoso admitir que fui pra cama com aquele brutamonte sendo que dias atrás eu disse a elas que não iria para a cama com ele nem que estivesse bêbada. Como o destino é cruel comigo! — É só um cara. Eu custei a me lembrar da noite que passamos juntos. Agora eu só quero esquecer.
— Mas foi ruim? O cara não era bom de cama?
— Bem... isso ele era — falo um tanto corada. — Mas estou muito arrependida do que fiz. Tudo aconteceu por causa de muita bebedeira e irresponsabilidade motivada unicamente pelo meu nervosismo. Tenho certeza de que vi Ian do lado de fora do salão, fiquei nervosa e bebi demais. Foi só por isso que fui pra cama com esse cara. E o pior de tudo é que ainda transei com ele sem proteção.
— Ah, meu Deus! Sério?
— Ahan. Mas aí tomei a pílula do dia seguinte e deu tudo certo.
— Mesmo? Não sei não, Juju, essas pílulas nem sempre funcionam — Vanessa apoia o queixo com a outra mão.
— Ah, é? — Digo, sentindo uma pontada de medo me atingir bem na espinha. — Mas o cara da farmácia me garantiu a funcionalidade dela.
— Não sei. Já ouvi muitos casos de mulheres que tomaram essa pílula e mesmo assim engravidaram.
— Eu também já vi muitos casos — Mari concorda, e meu corpo todo fica como pedra.
— Ai, por favor, gente, vocês estão me deixando assustada.
— Talvez essas mulheres que engravidaram não tomaram a pílula no tempo certo, né? Deve ser isso.
— É claro que é isso. Deus me livre! Não posso engravidar de jeito nenhum!
Ainda mais daquele brutamonte.
Deus me livre!
— Mas estamos felizes por você ter arrumado alguém pra se distrair, Juju. Você tava precisando mesmo. Depois que terminou com aquele diabo em forma de gente nunca mais quis pegar ninguém. Finalmente nossa amiga saiu da seca!
— Mariana! — A repreendo, envergonhada.
— E esse cara, como ele era? Era bonito? Diz pra gente, amiga!
— Olha, gente... sinceramente... não estou a fim de falar disso.
— Deixa ela, Mari. Acho que estamos pressionando demais a garota. O importante é que ela se divertiu. Juju, você disse que bebeu demais porque viu seu ex de fora do salão. Tem certeza de que era ele?
— Não sei, Vanessa. Mas tenho quase certeza de que vi o rosto dele.
— Meu Deus! Será que ele tá te perseguindo como naqueles filmes onde o cara maníaco persegue a garota inocente?
Meus olhos se arregalam e ficam maiores que a minha cabeça.
— Para com isso, Mari! Você e seus comentários inconvenientes. Tá assustando a garota. Talvez nem fosse ele. Estava de noite, não como termos certeza. Talvez a Juju tenha se confundido.
— Não sei não, Vanessa. Mas tomara que você tenha razão — digo.
— Quer saber? Nós nem deveríamos estar falando desse mané, falar dele é como falar do próprio diabo. Vamos falar de coisa boa. Vamos falar sobre a minha festa. Eu queria agradecer por terem ido e pelos presentes, adorei de paixão. Valeu, meninas — Mari nos agarra e nos envolve num único abraço apertado.
— A festa estava boa? Eu tive que sair mais cedo por causa da Isa que começou a chorar. Nem pude aproveitar nada da festa.
— E eu queria pedir desculpas por não ter ficado para os parabéns, amiga.
— Tudo bem. Eu entendo — Mari me lança uma piscadela que me deixa com as bochechas rosadas. — Mas vocês duas perderam o melhor da festa. Foi inesquecível. Bebi todas e dancei até o sol raiar. Teve até striptease de graça.
— Striptease? — Vanessa e eu perguntamos ao mesmo tempo, em choque total.
— Segundo meu pai sim. Eu estava tão doidona que não me lembro de nada. Mas segundo meu pai eu subi numa mesa e comecei a tirar a roupa na frente de todo mundo.
Faço uma expressão de espanto e Vanessa faz um o com a boca. Só a Mari mesmo pra fazer uma loucura dessa. Às vezes acho que lhe faltam neurônios no cérebro.
— Tá brincando, amiga.
— Tô não. Meu pai me disse que é a última vez que me dá uma festa de aniversário. Ele me deu a maior bronca — diz tristonha, mas logo muda o humor. — Mas também peguei uns gatinhos. Eu queria ter pegado aquele irmão gostoso da Cris, mas quando fui procurá-lo ele tinha sumido da festa. Caramba, aquele homem é tão gato. E ainda é mineiro. Como eu adoro os mineiros. Acho que estou apaixonada. Foi tipo assim, amor à primeira vista. Aquele homem ainda vai ser meu, escrevam isso.
Merda, mais um motivo para eu não contar que fui pra cama com Vinícius. A minha amiga está interessa nele. Era só o que faltava.
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Apartamento 201 (Série Apartamento - Livro 1)
RomanceAna Júlia mora com sua melhor amiga, porém seus dias de sossego estão contados com a chegada de um novo hóspede: o irmão da sua melhor amiga. Como se não bastasse, ela acaba descobrindo que esse mesmo cara é nada mais nada menos que o homem que ela...