Sou despertada ao som de pássaros cantando.
Meu braço imediatamente se estica e alcança a mesinha de cabeceira, tateando em busca do celular. Quando finalmente o encontra, faço aqueles malditos pássaros calarem a boca. Como eu os odeio. Me deem só mais cinco minutos...
***
De repente meus olhos se arregalam, no mesmo instante em que meu cérebro processa uma informação.
Que não é nada boa.
— Merda!
Mais que depressa pego o celular para ver as horas e bato a mão na testa ao confirmar a tragédia.
— Merda! Merda! Merda! Mil vezes merda!
Salto imediatamente da cama. Devido à sonolência devo ter desligado o alarme, ao invés de colocá-lo no modo soneca. Como pude ser tão burra? Essa merda sempre acontece.
Agora tenho que correr mais rápido que o Flash, e depois de fazer as higienes básicas, abro o guarda-roupa e visto meu uniforme habitual de vendedora, só que para variar o zíper da saia emperra. Tento puxar aquela merda, mas ela não obedece. Eu tinha que correr, pois estava muito atrasada, ou a bruxa Má do Oeste iria comer o meu fígado.
O problema é que, quando se está com pressa, nada parece dar certo. Principalmente quando se quer fechar um zíper. Parecia que quanto mais eu puxava o zíper, mais ele emperrava. Na minha opinião, vestir uma roupa quando se está com pressa deveria contar como exercício físico.
Por fim o zíper resolve colaborar comigo e posso dar continuidade ao processo. Passo uma chapinha bem rápido nos meus fios loiros e depois a maquiagem na cara. Começo passando muita base, mais na parte acima do meu lábio superior, no lado esquerdo do buço, tentando esconder um pouco a cicatriz. O corte não é tão pequeno, pois desenha uma linha fina na vertical que atravessa todo o buço, por mais base que eu passe o corte não desaparece. Mas pelo menos disfarça um pouco.
As lembranças de como o consegui vem à minha mente. Fico olhando-o por um tempo no espelho e lembrando daquele dia...
Não!
Não posso ficar lembrando disso. Isso é passado. Hoje vivo uma nova vida. Preciso ser uma mulher determinada e forte que não fica mais chorando pelos cantos.
Termino de fazer a maquiagem destacando meus olhos verdes, calço os sapatos e por último coloco minha correntinha de ouro no pescoço que meus pais me deram quando fiz dezoito anos. Nunca saio sem ela.
Cris já havia levantado, sua cantoria afinada preenchia todo o nosso pequeno apartamento, além do cheiro delicioso de biscoito assado. Encontro ela na cozinha retirando biscoitos, roscas e bolos redondos de sacolas marrons e colocando em cima da mesa. Suas mechas onduladas e castanhas balançam para um lado e outro enquanto dança e canta Cobaia juntamente com a Lauana Prado do seu telefone.
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Apartamento 201 (Série Apartamento - Livro 1)
RomanceAna Júlia mora com sua melhor amiga, porém seus dias de sossego estão contados com a chegada de um novo hóspede: o irmão da sua melhor amiga. Como se não bastasse, ela acaba descobrindo que esse mesmo cara é nada mais nada menos que o homem que ela...