Entre BH, RJ e Tóquio.

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Oi, gente! Sim, mudei o nome do marido de propósito. Ainda não sei qual o papel do dito cujo na fic e não quero levar um processo por difamação kkkkkkk , então se em algum momento o sobrenome dele for usado, também será modificado. 

Podem divulgar a fic, se quiserem, desde que não divulguem pros personagens hahaha

 As atualizações devem vir em dias alternados, provavelmente nas madrugadas. De resto, espero que gostem. Lembrem de votar e comentar! Beijinhos 

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SHEILLA

Depois de deixar a Gabriela no aeroporto, resolvi parar em um café no caminho. As coisas dentro de casa não estavam do melhor jeito possível, a guarda compartilhada das meninas, os trâmites burocráticos do divórcio, tudo confuso e complicado. É sempre bom tomar um ar antes de lidar com o caos que se tornariam meus dias entre me deslocar até o RJ para comentar as transmissões, ser mãe, um fuso horário invertido e o fim de um divórcio. Na pior das hipóteses, Thaísa lá estaria me socorrendo do inferno que essas semanas seriam.

Quando cheguei em casa, aproveitei meu último dia com as pequenas antes de dirigir por umas 7 ou 8 horas até o estado vizinho e trabalhar na madrugada por semanas. O dia foi relativamente tranquilo, pelo menos até que o pai das meninas chegasse. O Bruno estava especialmente irritante e absolutamente tudo que acontecia era motivo para briga. Meu casamento sempre foi mais complexo do que aparentava, nenhum de nós seguiu à risca a ideia de fidelidade, quer dizer, eu segui. Até agora, pelo menos.

Sempre fomos mais parceiros do que um casal, desde que voltei para a seleção de vôlei parece que nem parceiros éramos mais, as coisas esfriaram de vez, compartilhávamos as meninas e as contas, nada mais. As brigas se tornaram constantes, ele me traiu mais uma vez, eu estava completamente desconectada dele emocionalmente ou era o que eu achava até pedir o divórcio.

A verdade é que depois daquela noite em Saquarema, as coisas ficaram intensas rapidamente com a Gabriela e o caminho entre a VNL e as olimpíadas foi muito reduzido, tudo em uma velocidade assustadora. Tudo isso somado aos meses que ficamos com treinos parados pela pandemia, meses nos quais meu casamento ruiu de vez e nos quais a maternidade me sugou e cansou de uma forma que nem eu imaginava que poderia, afinal, embora eu ame as meninas meu plano nunca foi viver para elas assim como não pretendo que elas vivam para mim. É, minha vida está numa situação risível e minha cabeça não consegue esquecer aquela noite em Saquarema e nem todos os outros dias que passei perto dela.

(Meses antes, em Saquarema)

Depois de um dia exaustivo de estudo tático e treino físico sem bola, os piores devo dizer, resolvi passear pelos arredores do alojamento, talvez ir até o lago e ligar para o meu até então marido. Saí de casa brigada com ele e desde então as ligações tem sido resumidas a "como vão as meninas?", "e a escola?", " o pediatra?", "o cachorro?" e todas essas baboseiras nada íntimas. Quando desliguei só conseguia pensar em como eu precisava acabar com esse casamento falido antes que ele acabasse comigo. Sentei no gramado e continuei com a mente a mil, eu não tinha nem tomado banho ainda e meu uniforme de treino não era exatamente quente, mas o vento parecia levar com ele um pouco do caos acumulado em minha cabeça enquanto esfria meu corpo.

- Posso? – Ouvi a voz da Gabriela que se aproximava.

- Oi – respondi um pouco assustada com a chegada repentina – Claro.

- Te assustei? – Ela perguntou ainda de pé.

- Não, não. Tava falando com o Bruno e acabei me distraindo com a vista.

- Trouxe teu casaco, tá frio pra você estar aí de camiseta e shortinho, não? – Sorri com a delicadeza e o cuidado dela. Nunca fui muito de ser cuidada, sempre geri as coisas muito bem sozinha, mas confesso que as risadas que a Gabriela sempre me arrancava e esses gestos gentis sempre me acalentavam.

- Obrigada, dona Gabriela. – Falei enquanto ela se sentava.

- Quer conversar? Ficar sozinha? Ficar acompanhada em silêncio?

- Vamos conversar. – Falei enquanto vestia meu casaco. – Quer falar de que?

- Quer desabafar?

- Hum, vou mudar a pergunta. Quer falar de que? Qualquer coisa que não seja minha vida pessoal... – Falei e a ouvi soltar uma gargalhada.

- Vamos então falar sobre como você está tentando pegar uma gripe violenta antes da Liga. – Ela disse ainda rindo.

- O que você tava fazendo aqui fora?

- Te seguindo, óbvio – Ela respondeu como quem ria da minha pergunta idiota. – Meu plano é te seguir e imitar até conquistar dois ouros olímpicos. – Não aguentei e agora quem gargalhava era eu.

Conversamos pelo que pareciam minutos e no final eu já estava realmente desabafando sobre meu casamento e seus fracassos. Falamos de cachorros, das meninas, das nossas experiências na Turquia, do vôlei, das famílias e no final parecíamos amigas de infância e no caso eu realmente era quase isso dela, já que a vi crescer pelos arredores dos treinos de base da seleção. Gabriela tinha 26 anos, eu literalmente a vi crescer. Nunca fomos muito íntimos, embora desde que retornei para a seleção tenhamos nos aproximado bastante. Gabriela era uma máquina de fazer rir, nada pesava perto dela.

- Você é casada há quanto tempo? – Ela perguntou do nada enquanto falávamos sobre lasanhas.

- Oito anos... Quase oito anos. – Respondi um pouco confusa sobre o quão repentina foi a pergunta. – Vamos entrar? Tá frio e eu nem tomei banho ainda.

- Eita, vai dormir sem banho hoje? Eca – Ela disse tampando o nariz e me arrancando gargalhadas de novo.

- Me respeita, menina. Eu vou tomar banho sim, palhaça.

-Vamos – Ela levantou rapidamente, me estendendo a mão.

(Fim do flashback)

Engraçado como eu me lembro de toda a conversa que tivemos naquele dia e sei que esse foi o momento exato em que parei de ver a Gabriela como uma menina, embora minhas palavras ainda tenham refletido a forma que eu a via horas antes. Agora, pela primeira vez fora de quadra, Gabriela parecia alguém igual, não alguém que eu deveria ajudar a crescer e sim alguém que crescia junto comigo enquanto nos ajudávamos. Ela não fazia ideia, mas naquele dia eu passei a admirá-la talvez com a mesma intensidade que ela me admirava profissionalmente. Eu sei bem o que fazer quando a bola da levantadora cai em minhas mãos, mas a delicadeza de levar um casaco e dizer as palavras certas eu nunca tive.

Até agora nenhuma mensagem, não quero atrapalhar, ela está numa viagem de quase 30 horas, não precisa de gente enchendo o saco, precisa é dormir. Vou dormir também que amanhã cedo vou com a Thaísa para o RJ. Amanheceu e eu não estava me aguentando de ansiedade para começar a trabalhar, finalmente. A verdade é que eu queria mesmo estar naquele voo rumo à Tóquio. Thaísa quis dirigir e que bom pois isso me permitia mexer no celular.

(mensagem de texto)

G: Acabei de parar na conexão, faltam só umas 20 horas de voo rs. Como estão as coisas aí? Já tá no RJ.

S: Por aqui tudo bem, estou indo pro RJ com a Thaísa de piloto de fuga, rs. E aí? Tudo bem no primeiro voo?

G: Acabei de entrar no segundo voo, na verdade, aí a internet você já sabe que não deve ficar das melhores. Tá tudo bem, só parece que não chega nunca, acho que zerarei o catálogo de filmes.

S: Saudades filme.

G: Saudades você.

S: Saudades você. – Respondi com um sorriso tão idiota que fui interrompida pela Thaísa.

- Ahhh a Gabriela. – Ela dizia fazendo um sinal negativo com a cabeça enquanto ria em deboche. – Sheillinha, meu amor, tá rindo bobo e tudo.

- Para, Thaísa. – Falei enquanto adentrávamos a Barra da Tijuca, onde nos hospedaríamos no RJ.

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Votem e comentem.

Sheibi - FacasOnde histórias criam vida. Descubra agora