Capítulo 39

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Quando Freya abriu os olhos naquela manhã, uma rara sensação de paz a envolveu, um alívio temporário que ela não experimentava desde a fatídica noite em que descobriu seus poderes e perdeu sua família. O rosto de Gareth, seu pai, ainda fresco em sua mente, trouxe uma nova clareza, como se ela finalmente tivesse a chance de se despedir de seu passado e das correntes que a mantinham prisioneira nas memórias dolorosas.

Mas a paz logo deu lugar à inquietação. O sonho com seu pai continuou a perturbá-la, ecoando em seus pensamentos como um presságio sombrio. Durante toda a noite, a imagem dela, morta e com Kael chorando sobre seu corpo, a assombrava, sugerindo um futuro que ela temia enfrentar. Era a segunda vez que sonhava com sua própria morte, e o pensamento gelava seu sangue. Seriam essas visões do futuro? O destino estava lhe dando um vislumbre cruel do que estava por vir?

As palavras de Gareth reverberavam em sua mente, forçando-a a refletir sobre a verdadeira natureza de seu nascimento e o mistério que cercava seus poderes latentes. Na manhã seguinte, Freya mal tocou no café da manhã, a comida insípida diante do turbilhão de pensamentos sombrios que a consumiam. Tentando compreender seus enigmas, ela se dirigiu de volta ao quarto, ansiando por mais um momento de solidão.

Mas Kael estava lá, esperando-a, como se soubesse que algo estava errado.

-O que houve? Você mal tocou na comida-Sua voz, calma e profunda, interrompeu seus pensamentos, e antes que ela pudesse responder, ele a puxou suavemente pela cintura, pressionando-a contra a parede, seus olhos analisando cada nuance de sua expressão fechada.

-Não é nada-Freya murmurou, desviando o olhar.

Kael, porém, não a deixou escapar tão facilmente. Com um gesto firme, ele segurou seu queixo, forçando-a a olhar para ele. Seus olhos, como tempestades contidas, encontraram os de Freya, cheios de preocupação e algo mais, algo que a fez tremer por dentro.

-Você não precisa esconder sua dor de mim, coração humano-ele sussurrou, sua mão deslizando para acariciar o ponto sensível abaixo da orelha de Freya. O toque dele, sempre tão controlado, enviou um arrepio que percorreu toda sua espinha, um misto de conforto e desejo.

Freya fechou os olhos por um momento.

-Tive um sonho com meu pai-confessou, sua voz quase se perdendo em um sussurro. -Sinto falta dele... tanto.

Kael inclinou a cabeça, estudando-a com uma intensidade que a fez sentir-se nua diante dele.

-Quer falar sobre isso?-Sua voz era suave, um convite silencioso para compartilhar a dor que ela tentava esconder.

Freya balançou a cabeça rapidamente, recusando-se a desenterrar aquela ferida emocional.

 -Não... não agora. Na verdade, eu preciso te dizer algo.

Havia um peso em sua expressão, algo que Freya não pôde ignorar. 

Kael concordou, sugerindo a torre de vigia como um local discreto para a conversa. Eles subiram as escadas de pedra, o som de seus passos ecoando no vazio. Quando chegaram ao topo, uma brisa fria os acolheu, carregando consigo a tensão palpável que pairava entre eles.

Kael foi o primeiro a quebrar o silêncio, abordando os planos de vingança que ambos compartilhavam. 

-Precisamos agir com precisão. Não podemos nos dar ao luxo de falhar-disse ele, sua voz baixa, mas carregada de determinação.

-Você acha que o plano vai funcionar?-Freya perguntou, a incerteza nublando seus olhos.

Kael a estudou por um momento, vendo a força que ela tentava esconder sob a dúvida. Com um gesto suave, ele passou o polegar pelo queixo dela, seu toque uma mistura de conforto e promessa. 

Chamas e Sombras (Livro 1-Nascidos Do Caos)Onde histórias criam vida. Descubra agora