Capítulo 3

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Dias depois, Freya voltara da caçada junto do seu pai e os membros da Irmandade, vitoriosos após terem caçado uma matilha de licantropo e tê-los queimados na fogueira, transformados em nada além de cinzas sobre a terra.

-Obrigada, vovó.

Freya fez uma careta ao ingerir a mistura de ervas desconhecidas que Guenevire havia preparado a pedido da neta.

A jovem caçadora havia sentido fortes dores na cabeça durante a caçada à alcateia, pontadas insuportáveis que a levaram a perder a consciência no meio da floresta da cidade vizinha, correndo o risco de ter sido atacada em um momento de fragilidade. Quando retornou a Nyadra, precisou de uma das infusões de ervas da sua avó para aliviar suas fortes dores de cabeça constante e trazer alívio para sua aflição.

-Por que não tenta dormir um pouco, querida?-sugeriu Guenevire, repousando a mão suave nos cabelos da jovem.

Freya bocejou demoradamente, entregando a xícara para a avó ao esticar as pernas sobre o velho sofá diante da lareira acessa.

-Me sinto exausta, dormir é uma boa ideia.

Guenevire se calou, e bastou uma espiada em sua direção para que Freya notasse o descontentamento no rosto da avó.

-Por que odeia tanto a Irmandade?

Guenevire bufou alto, sacudindo a cabeça, incredulidade lhe tomando o rosto.

-A Irmandade já assassinou centenas de inocentes, derramou sangue magicae, o mesmo sangue que corre pelas minhas veias, Freya, não estou segura.

Freya lambeu os lábios secos.

-Ninguém jamais vai te machucar, eu não vou permitir.

Guenevire cobriu a mão da neta com a sua e sorriu tristemente, uma emoção estranha cobrindo os olhos azuis dela.

-Eu admiro seu coração humano, Freya, agradeça aos deuses por tê-la poupado da maldade do homem, mas se a Irmandade descobrir a verdade sobre quem eu sou, estou perdida.

Freya encostou a cabeça pesada no travesseiro, as pálpebras pesando pelo forte sono que lhe dominou os sentidos, deixando-a sonolenta. As poções de Guenevire sempre lhe provocavam aqueles efeitos colaterais de cansaço e dormência.

-O mundo é cruel, minha doce Freya, sombrio e obscuro. Todos fomos criados pelos mesmos deuses antigos, mas a barreira nos separou e nos condenou a um destino horrível.

Lentamente, as pálpebras de Freya foram se fechando conforme recebia o carinho da avó em seus cabelos.

-Eu vou te proteger dos monstros do outro lado da barreira-sussurrou Freya, caindo do sono.

Guenevire apertou os lábios trêmulos, os olhos enchendo de lágrimas ao observar a neta adormecida sobre o sofá do pequeno chalé. Freya se tornou tão parecida com Mavka, que em todos os momentos quando olhava para a jovem caçadora, Guenevire se recordava da filha que perdeu há quase vinte anos atrás.

A dor da ausência de Mavka não diminuiu com o tempo, somente se tornou suportável.

Guenevire tocou os dedos com suavidade na testa de Freya, notando a alta temperatura do corpo da jovem que calmamente começou a esfriar quando a infusão de ervas e magia agia no sistema dela, reprimindo, contendo e escondendo a verdade.

Gareth entrou no chalé poucos minutos depois, sujeira impregnada nas botas gastas do caçador. Ele lançou um olhar silencioso sobre a filha adormecida antes de tirar a espada presa na bainha em sua cintura, o metal fez barulho ao ser colocado sobre o chão. O caçador se livrou do manto grosso que trazia nos ombros, mas permaneceu com as diversas lâminas escondidas nos bolsos de suas roupas velhas.

Chamas e Sombras (Livro 1-Nascidos Do Caos)Onde histórias criam vida. Descubra agora