Chamas e Sombras (Livro 1-Nascidos Do Caos)

Capítulo 4

Freya estava imersa em sonhos novamente. Sua jornada pelas terras sombrias do outro lado da barreira se desenrolava diante de seus olhos, como se ela estivesse realmente lá.

A grama seca sob seus pés descalços era áspera e quebradiça, ecoando o silêncio mortal que permeava a paisagem ao seu redor. O cheiro de queimado pairava no ar, penetrando suas narinas e fazendo seus olhos lacrimejarem com a fumaça que se erguia dos incêndios que devoravam a terra.

A espada curta em sua mão direita reluzia à luz fraca do ambiente, seu brilho prateado contrastando com o vermelho do sangue que a tingia. Gotas escarlates gotejavam da lâmina, deixando uma trilha sinistra no chão enquanto Freya avançava com em direção à barreira, o portal misterioso que se erguia no centro de uma montanha rochosa.

As tochas ao redor da entrada da caverna se acenderam repentinamente, lançando uma luz avermelhada que dançava nas paredes de pedra e nas sombras profundas que se espalhavam ao redor. Freya sentiu um arrepio percorrer sua espinha quando uma rajada de vento gélido a atingiu, fazendo-a estremecer antes de seguir em frente, guiada por seus instintos e pela força de sua vontade.

Dentro da caverna escura, o cheiro nauseante de carne em decomposição e morte pairava no ar, misturando-se com o som dos ratos que se moviam furtivamente ao seu redor. Freya controlava sua respiração, mantendo-se alerta e vigilante enquanto avançava pelo caminho tortuoso, sua tocha de fogo iluminando o caminho à frente.

Ao se aproximar da barreira, uma sensação familiar e elétrica percorreu sua pele, como se reconhecesse a presença da magia pulsante que emanava do portal. Seus olhos se fixaram na luz brilhante que irradiava do outro lado, um vislumbre das terras dos magicaes, e seu coração acelerou em antecipação.

Com um último suspiro, a caçadora atravessou a barreira, deixando para trás o mundo sombrio e perigoso que conhecia em busca do desconhecido e do extraordinário que aguardava do outro lado. A energia mágica a envolveu como uma chama calorosa, alimentando sua coragem enquanto ela se aventurava rumo ao desconhecido.

Freya encontrava-se em êxtase diante da beleza e da maravilha do mundo dos seres mágicos, Vitae. Cada aspecto da paisagem parecia ser banhado pela luz dos deuses antigos, como se a própria essência divina tivesse moldado cada pedaço de terra e reivindicado sua parte na criação. A jovem caçadora, ainda atordoada pelo toque do poder que a envolvera ao atravessar a barreira, respirou fundo, preenchendo seus pulmões com o ar puro e doce daquele mundo encantado.

Vitae era um espetáculo de pura magia, uma visão que ultrapassava qualquer conto de fadas que ela já ouvira de sua avó. A luz dourada do sol banhava as vastas extensões de terras verdejantes, onde colinas e montanhas se erguiam majestosamente emoldurando campos floridos e rios cristalinos. O canto melodioso dos pássaros preenchia o ar, criando uma sinfonia encantadora que ecoava por toda parte. 

Ao longe, avistou uma pequena cidade que pulsava com vida, sua atmosfera impregnada de música alegre, risadas e conversas animadas. Localizada no centro de um cenário deslumbrante de montanhas, colinas e florestas, a cidade parecia protegida como um precioso tesouro contra possíveis invasores. Às margens da cidade, erguia-se uma imponente fortaleza de pedra pálida, o lar dos guardiões responsáveis pela segurança do lugar. No entanto, foi o campo de tulipas roxas espalhado abaixo da colina onde Freya agora se encontrava que a fez lembrar da verdade sombria por trás da beleza aparente daquele mundo.

Com a lâmina mortal firmemente segura em sua mão, como um escudo contra o mal que habitava aquele lugar, Freya desceu a colina, sentindo a terra macia e úmida sob seus pés. O campo de tulipas roxas se estendia diante dela, uma visão de serena beleza tingida pela sombra de sua missão. Foi ali, naquele mesmo campo, que ela havia sido assassinada em seu último pesadelo, pelas mãos de uma criatura horripilante de olhos negros como ônix. O local, outrora palco de sua morte, agora era o início de sua jornada real para enfrentar os monstros que haviam sido seu destino matar.