Capítulo 35

21 3 1
                                    




A noite foi impiedosa para Freya. O sono se recusava a envolvê-la em seus braços acolhedores, deixando-a prisioneira de uma vigília interminável. Durante horas, ela permaneceu acordada, sua mente presa nas preocupações com o feiticeiro ferido. Toda vez que seus olhos ameaçavam se fechar, pesadelos oscilavam à espreita, tornando a escuridão ainda mais sufocante.

Ao seu lado, Lia dormia profundamente, quase como se estivesse petrificada, indiferente às agonias que afligiam a jovem magicae. Em busca de um conforto que não encontrava, Freya abraçou a Lâmina das Ruínas e o colar de Guenevire, na esperança de que esses objetos lhe trouxessem a paz que tanto ansiava. Mas a serenidade continuava a lhe escapar, deixando-a perdida em pensamentos angustiantes.

Os primeiros raios de luz matinal começaram a penetrar pela janela do quarto, tingindo o céu de tons suaves. Freya observou silenciosamente a transição do céu, sentindo uma melancolia que combinava com o alvorecer.

Lia mal tinha aberto os olhos quando a amiga, ansiosa por começar o dia, já a puxava da cama. A elfa, naturalmente irritável pela manhã, não hesitou em lançar uma série de insultos coloridos à jovem ao seu lado.

-O que faz aqui, humana?-Esmeray rosnou ao ver Freya se aproximar ao lado de Lia, que carregava um prato abarrotado de doces, fruto de um saque matinal na cozinha.

Lia, de humor sombrio, revirou os olhos e levou um pedaço de bolo de chocolate à boca.

-Ela ainda está viva?

-Uma pena que um Tenebriano não a tenha matado-ralhou Esmeray, sem perder a acidez.

A elfa apenas arqueou uma sobrancelha.

-Ah, eles tentaram. Mas não são capazes de me matar-respondeu com um sorriso irônico, a convicção brilhando em seus olhos.

Para Lia, sobreviver era uma vitória em si mesma, e cada retorno com vida era um triunfo que ela saboreava, especialmente quando via o desgosto nos olhos de Esmeray.

Freya, sem paciência para a troca de farpas, deu um passo à frente.

-Saia da frente-disse, avançando em direção à porta, mas foi barrada por Esmeray.

-Kael precisa descansar. Calix e Hayes já cuidaram dele-afirmou a sage, sua postura rígida como a de uma guardiã leal, protegendo o último reduto de segurança.

A filha do fogo sentiu a raiva borbulhar dentro de si, mas manteve a voz controlada.

-Eu preciso vê-lo.

Esmeray soltou uma risada amarga, seus olhos faiscando com uma raiva contida. As olheiras escuras sob seus olhos e os cabelos desgrenhados denunciavam uma noite em claro.

-Por quê? Para testemunhar como ele morre após uma missão idiota para descobrir se a maldita fada está viva?-As palavras saíram como veneno, cuspidas com um desprezo que cortava o ar.

Freya não recuou.

-Saia-replicou entre dentes, cada sílaba carregada de uma força que ela mal conseguia conter.

Esmeray cruzou os braços, desafiadora.

-Diga-me, humana, valeu a pena? Podemos perder a única pessoa poderosa o suficiente para deter Kahlo e a Legião.

Freya sentiu a dor das palavras de Esmeray, mas a determinação queimava em seu peito. Ela sabia que não poderia se dar ao luxo de perder Kael, não agora, não nunca. A guerra contra Kahlo e a escuridão que ele trazia dependia disso.

A filha do fogo ergueu o queixo, seus olhos flamejantes fixos na criatura do mar. Uma aura sombria envolvia seus pensamentos, uma tempestade interna que pulsava com intensidade. Esmeray, ao perceber a vibração mágica que emanava da magicae, arquejou, sentindo a tensão no ar.

Chamas e Sombras (Livro 1-Nascidos Do Caos)Onde histórias criam vida. Descubra agora