Capítulo 38

17 4 0
                                    

Os olhos da filha do fogo se abriram em um mundo devastado, uma distorção sombria dos seus antigos sonhos. O sol, antes radiante, estava obscurecido, lançando uma luz fraca sobre um cenário apocalíptico. O céu, carregado de nuvens negras, retumbava com trovões, enquanto raios cortavam o ar, reverberando por toda a paisagem. A terra, agitada por um poder ancestral, parecia se contorcer, como se algo estivesse renascendo das profundezas, liberando uma força selvagem e primitiva.

A natureza respondia ao caos, estremecendo em tumulto. Freya sentia a vibração do solo sob seus pés, pulsando com uma energia desconhecida, como se o próprio mundo estivesse à beira de uma explosão. Era um poder destrutivo, nunca antes testemunhado.

Seu olhar foi atraído por uma figura no meio do caos: Kael. Ele estava de joelhos em um campo de tulipas roxas, curvado sob uma força invisível. Um grito angustiado ecoou pelo ar, um lamento tão profundo que parecia rasgar a própria realidade. Sombras sombrias giravam ao redor dele, ameaçadoras e descontroladas. O rosto pálido do feiticeiro era uma máscara de medo, refletindo uma aflição tão intensa que ela sentiu a dor em seu próprio peito.

Freya avançou, cautelosa. Cada passo era um mergulho em trevas indescritíveis. Os ombros de Kael tremiam violentamente, como se estivesse à beira do colapso, agarrando-se desesperadamente a algo invisível. Quando se aproximou, viu que ele segurava um corpo sem vida. Ela estendeu a mão para tocá-lo, mas sua mão atravessou o corpo do feiticeiro, como se ele fosse apenas uma sombra.

Confusa, Freya deu a volta, ajoelhando-se ao lado dele. O que viu a petrificou. Kael, com olhos arregalados de desespero, segurava o corpo dela em seus braços. Suas mãos, manchadas de sangue, estavam marcadas pela tentativa desesperada de conter a vida que se esvaía. O sangue cobria suas mãos, enquanto seus olhos vazios encaravam o céu tempestuoso. Uma adaga estava cravada em seu coração, a Lâmina das Ruínas.

Em um gesto bruto, Kael jogou a adaga para longe, como se pudesse apagar a fonte de sua agonia. Suas mãos desesperadas tentavam, em vão, deter o fluxo da vida que escapava dela, oferecendo sua magia, sua própria existência, em um último esforço para salvá-la. Mas era tarde demais. A morte já havia reclamado sua vítima.

As palavras de Freya ficaram presas na garganta, sufocadas pela dor esmagadora. Kael a segurava com força, balançando o corpo inerte dela, murmurando palavras de negação, como se pudesse reverter a realidade. Sombras de morte rugiam ao seu redor, a escuridão consumindo tudo. Seus gritos, chamando o nome dela, ecoavam como um lamento dilacerante.

Incapaz de suportar a visão e o som, a jovem magicae recuou instintivamente.

Ela cobriu os ouvidos, fechou os olhos, tentando desesperadamente escapar do pesadelo que se desdobrava diante dela. Lutava contra as visões, tentando afastar a cruel ilusão que sua mente lhe impunha, mas a realidade era inescapável.

O vento soprava furiosamente, agitando seus cabelos enquanto ela quase tropeçava. Com um grito furioso, a filha do fogo desafiou o destino:

-Não me importo com o destino que vocês me predestinaram!-rugiu, a voz rasgando a tempestade. -Eu não sou uma marionete nas mãos de deuses miseráveis!

Um raio cortou o céu, como se a própria natureza respondesse ao desafio. Mas Freya ignorou a ameaça, mantendo seus olhos fixos em Kael, debruçado sobre o corpo sem vida dela. Com determinação, sibilou entre dentes:

-Vocês não vão me quebrar. Eu não me quebro!

Seu grito ecoou na tempestade, desafiando os deuses e seus próprios demônios interiores. A chuva começou a cair, lavando seu rosto enquanto ela permanecia firme, resistindo à pressão do destino e à tormenta ao seu redor.

Chamas e Sombras (Livro 1-Nascidos Do Caos)Onde histórias criam vida. Descubra agora