Capítulo 2

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Cinco anos depois...

Freya mergulhava seu olhar na frágil chama tremeluzente da vela, cuja luz mal conseguia dissipar a escuridão que envolvia o porão sombrio. Gareth convocara uma reunião urgente com os melhores caçadores da Irmandade, transformando o lugar em um cenário de expectativa tensa e murmúrios incessantes entre os membros. A caçadora ocupava a única cadeira de madeira íntegra do recinto, enquanto os demais permaneciam de pé ao redor, ansiosos por sugestões ou pistas sobre a urgência do assunto.

Leonel, com seus olhos castanhos carregados de sarcasmo, dirigiu-se a Freya, perguntando se Gareth havia compartilhado alguma informação com ela. A jovem, entrelaçando uma mecha ruiva ao redor do dedo, ergueu um rosto vazio na direção de Leonel.

-Não, Leonel.

O caçador bufou pelo nariz, mal escondendo um sorriso de deboche.

-Por que o chefe esconderia seus segredos da sua primogênita e herdeira?

-Meu pai não lhe deve satisfações, e eu muito menos. Agora pare de latir nos meus ouvidos.

A caçadora recostou-se suavemente na cadeira, cruzando as pernas nuas sob a camisola de cetim negro que vestia. Ela mal teve tempo de se vestir quando Gareth a acordou abruptamente naquela noite, ordenando que ela o encontrasse no porão em cinco minutos. Uma sobrancelha de Freya arqueou ao notar o olhar de Leonel deslizando até suas pernas expostas. Puxando a adaga presa em sua coxa, ela cutucou as unhas com a ponta afiada da lâmina, pronunciando palavras ácidas.

-Se não quiser ter seus olhos perfurados pelas minhas facas, sugiro que mantenha os olhos longe de mim, caçador.

Um silêncio repentino pairou entre os membros da Irmandade quando uma sombra se materializou atrás dela. Mesmo sem virar a cabeça, ela soube que Gareth havia entrado no porão, finalmente.

-Por que nos convocou tão tarde, meu pai?

Freya continuou a limpar as unhas com a ponta afiada de sua adaga preferida, observando de soslaio Gareth se acomodar ao seu lado, com seu manto favorito sobre os ombros. O clima sombrio da cidade durante as noites não proporcionava um ambiente acolhedor. Krade compartilhou com a Irmandade os eventos recentes próximos à barreira e os relatos dos vigias. Contudo, foi a tensão na voz e postura do caçador que capturou a atenção da jovem. Ao franzir o cenho, ela percebeu uma nova cicatriz próxima à orelha do pai.

-Há uma agitação fora do comum emanando da barreira.

-Ouvi rumores.

Freya segurou um riso frio de deboche ao escutar a voz de Gawain, filho do leal cão de guarda de seu pai e, infelizmente, seu ex-noivo. Da mesma forma que o rapaz parecia nutrir um ódio fervoroso por ela, perseguia-a com a mesma intensidade, tentando restaurar o relacionamento quebrado há três meses, após uma discussão que resultou na separação do casal.

-A Irmandade não toma ação com base em fofocas, Gawain. Precisamos de algo mais concreto do que suas suposições.

Gawain a encarou com irritação, enquanto ela apenas sorria com divertimento, girando a adaga entre os dedos.

-Posso prosseguir, Krade?

Ela deu de ombros.

-Se os presentes desejarem ouvir suas histórias sobre o outro lado da barreira, é claro que sim.

Gareth lançou um olhar sério na direção da filha, mas a diversão perversa ainda dançava em seu rosto. Ele já não conseguia controlar as ações, especialmente o temperamento forte da jovem.

Chamas e Sombras (Livro 1-Nascidos Do Caos)Onde histórias criam vida. Descubra agora