Chamas e Sombras (Livro 1-Nascidos Do Caos)

Capítulo 48

O silêncio na clareira era pesado, quase sufocante, até ser rompido pelo som úmido e grotesco da língua de Alastair passando pelas garras, ainda manchadas com o sangue de Freya. Seus olhos sombrios brilharam com crueldade enquanto ele se deleitava com o gosto, um sorriso perverso se formando em seu rosto pálido.

A jovem, ferida, recuou um passo, mas manteve a postura firme. A dor latejava em seu corpo, mas o fogo em suas veias queimava mais intenso, prestes a explodir.

Alastair arqueou uma sobrancelha, divertindo-se com a tensão visível no corpo dela.

-Você sempre foi assim, não é?-Ele disse em um tom baixo e arrastado. -Tão impulsiva, tão cheia de poder, mas sem controle. Não é de admirar que cause tanto caos por onde passa. É o que você faz, caçadora. Você destrói tudo que toca.

Ele deu um passo à frente, suas garras agora limpas, mas ainda manchadas pela sombra da violência.

-Vou levá-la comigo, para Kahlo. Há um destino muito melhor para você ao meu lado... ou debaixo dos meus pés. -Ele se inclinou ligeiramente, seus olhos percorrendo cada centímetro do corpo dela com desprezo. -Já consigo ver a criatura que poderia ser, apenas se aceitasse a escuridão. Nós dois, juntos, seríamos imparáveis.

Freya sentiu o fogo subir à sua garganta. O ódio misturava-se à sua dor, e seus dedos tremiam, mas não de medo.

-Dê mais um passo, Alastair, e queimarei sua alma miserável antes que tenha tempo de respirar.

Alastair riu, uma risada fria e desumana, que ecoou pelas paredes de pedra ao redor deles.

-Queimará minha alma?-Ele repetiu com sarcasmo, aproximando-se mais um passo, deliberado, provocativo. -Você nem consegue controlar o fogo que consome você mesma. Cada chama que você invoca só causa mais destruição... e olha só, Freya. Não sou eu quem está ferido aqui, sou? -Ele apontou casualmente para o sangue que ainda gotejava da garganta dela.

Freya apertou os punhos, sentindo o calor subir dos dedos, formando brasas brilhantes que iluminavam o rosto de Alastair com um brilho alaranjado.

-Não ouse me testar.

-Ah, mas eu gosto de testar. -Ele inclinou a cabeça, a voz tomando um tom cruel e debochado. -Foi assim com seu pai, lembra? Gareth. Tão tolo, tão fácil de quebrar. Ele se ajoelhou, Freya, nas terras humanas. Chorou como um miserável quando o atravessei. Não é surpreendente que você tenha herdado a fraqueza dele.

A menção ao nome do pai dela fez uma faísca explodir dentro de Freya. O fogo que ela segurava se descontrolou por um momento, e pequenas chamas começaram a dançar ao redor de seus pés, suas roupas tremulando com o calor crescente.

-Você fala como se fosse um grande feito, matar alguém que não estava armado-ela respondeu, com os olhos brilhando em fúria. -O que acha que acontecerá quando enfrentar alguém que pode lutar de volta?

Alastair a ignorou, andando em círculos ao redor dela como um predador caçando a presa.

-Gareth era fraco, e você... você não é diferente. -Ele parou, inclinando-se mais perto, sua voz um sussurro cruel. -No final, você também vai falhar, exatamente como ele.

O fogo em Freya aumentou, mas junto com ele veio o descontrole. Alastair sabia como entrar na mente dela, como mexer nas feridas que ainda não tinham cicatrizado. Ela sentiu a onda de poder crescer, mas junto veio o medo de perder o controle. Ele percebia isso.

-O que foi? Está com medo de se queimar?-O demônio zombou, os olhos dele se fixando nos dela. - Esse é o seu problema, Freya. Você é perigosa, mas principalmente para aqueles que ama. Quer mesmo arriscar?