Capítulo 9: A Cicatriz

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Amberly

No dia seguinte, fui obrigada a participar de um treinamento de arco e flecha com Abby, minha nova professora.  Abby tem substituído Janet já faz um tempo. Mesmo não sendo tão profissional como Janet, chega a ser mais interessante com uma pontada de humor no meio, não desvalorizando o trabalho de Janet. Abigail consegue ser mais prestativa e mais bem-humorada do que Janet. 

Hoje era um treino de mira com o arco. Ela teve que me ensinar tudo desde o inicio, já que eu nunca havia sequer tocado em um arco e flecha. Começando por: como segurar o arco. Eu tive muita dificuldade no inicio, mas logo peguei o jeito da coisa. Postura, posição, força, isso parece ser mais complicado do que teleportar para qualquer canto. Minha mira continuava uma merda, eu teria que ir melhorando de acordo com o tempo.

─ Certo, moreninha, seu treino acaba aqui ─ Abby apelidava. Toda semana ela me dava um apelido diferente, no qual eu nem me importava mais. ─ Amanhã vê se chama o seu irmão pra vir junto. O albino não apareceu nunca mais desde a Invasão ─ Invasão tem sido o nome dado à aquele dia em que levaram meu pai. Desde aquele dia, muita coisa mudou.

─ Andrew não é um albino, pra inicio de conversa ─ defendia-o.

─ Mas ele tem cabelo branco e não parece ser pintado. Quem sabe ele mudou o próprio DNA com Janet ─ rimos um pouco enquanto eu pegava minha blusa jogada no chão. Andrew tem cabelo branco desde o dia em que nos encontramos. Acho que esse é o motivo, mesmo irracional, de seu cabelo mudar de cor.

Abby era gentil, tinha seu jeito de expressar carinho diferente de qualquer um. Se você tem um apelido da Abby, pode significar duas coisas: vc é muito legal ou você é insuportável. Eu espero que eu seja a primeira opção. Todos ficavam alegres com a presença dela, como se pudesse iluminar o caminho escuro em que estamos presos, fazendo a convivência ser mais prazerosa. Ela normalmente fazia companhia para as crianças, distraindo-as da desgraça que este lugar está sendo levado. Crianças são inocentes demais para viver em um mundo como o nosso, cheio de violência. O trabalho de Abby é fazer isso ser menos parecido com uma jaula para elas.

─ Qual é sua dupla de quartos agora? ─ perguntava Abby coçando o nariz por causa de sua rinite. ─ Você estava com Andrew antes, não é?

─ Janet. Não mudou muita coisa, os dois são levemente parecidos  ─ comentava, o que para mim era verdade. Tanto Andy quanto Janet queriam apenas uma coisa: colocar ordem. Esse lugar estava bom enquanto meu pai organizava, agora eles conseguiram fazer uma bagunça enorme. Eu dei apoio ao calor do momento e agora tenho que lidar com isso.

─ Acho melhor você descansar. Os gêmeos têm dado muito trabalho? ─ nem precisei confirmar, pois ela já sabia apenas com meu olhar. Olheiras escuras e profundas rodeavam meus olhos como sempre foram desde minha adolescência. ─ Se um dia precisar de mim, sabe onde me encontrar ─ salão principal, eu chutava. ─ Vai tomar um banho. Ninguém gosta de comer perto de gente fedida, logo será servido o almoço ─ perdi até a noção do tempo. Pensava que ainda estava de manhã, mas, pela falta de luz no subsolo, fez parecer que ainda estava cedo. Quando subimos, deu para perceber o Sol da tarde iluminando os corredores.

Ao olhar para trás, Abby já havia dispersado pela base mutante como pó. Não sabia o exato poder dela, mas logo perguntaria. Algumas pessoas acham falta de educação perguntar seus poderes, mas eu não vejo outra opção além de perguntar. Além do mais, precisava saber com quem eu convivia. Sou meio novata nesse assunto de mutante, então posso ser estúpida sem saber, mas eu prefiro manter minha reputação de pé. 

Tive sorte que ao chegar no quarto, não havia ninguém. Janet estava fora, mas não era muita novidade, esse horário é sempre menos cheio aqui. Ela também deve estar resolvendo seus próprios assuntos. Não conseguiria evita-la para sempre, vai chegar uma hora que vamos ter que nos entender, ou melhor, nos suportar.

Amamentei um pouco ambos dos dois, que choravam desde que eu abrira a porta. Eu teria que achar algum leite em pó para dar-los, porque se depender de mim vão todos morrer de fome. Não era minha culpa se meu corpo não era preparado para ter filhos, então não adiantaria reclamar comigo. Além do mais, amamentar é péssimo ao meu ponto de vista.

Peguei uma peça de roupa e logo entrei no banho, completamente nojenta de suor depois do treino. Por isso eu nunca gostei de praticar exercícios, o suor que fica depois é infernal. As vezes, Zayne competia em corridas escolares, mesmo não estando em escola alguma. Acho que isso fazia parte dele, como a resistência para meu pai, ambos são inseparáveis. Enquanto Zayne corria, eu costumava espera-lo deitada em um colchão onde atletas costumavam treinar, mas eles nunca usavam aquele espaço. Usava um uniforme vermelho emprestado de uns amigos que ainda eram estudantes, assim eu pretendia que fazia parte deles. Zayne também usava, e suava por toda a camisa. Algumas meninas o encaravam, tentando impressiona-lo, mas desistiam quanto ele vinha para perto de mim. Muitas vezes apenas ficávamos juntos perto da arquibancada, mas sempre conseguíamos fugir quando alguém se aproximava. Um pouco antes de fazer 18 anos as coisas já não eram mais as mesmas. Zayne me ignorava muitas vezes, me trocando por outras, mas eu sempre tentava me aproximar dele. Por um tempo minha vida foi boa, arriscada, agora eu tenho que continuar sobrevivendo.

Após terminar o banho, longo e pensativo, coloquei minha roupa, uma camiseta e shorts simples, porém confortáveis, e fui logo saindo do banheiro. 

Ao sair, meu foco prendeu-se em um homem de cor de pele mais escura com uma vestimenta já de época dentro do quarto. Eu juro que nunca tinha visto aquele homem aqui dentro. O que mais me assustava era sua proximidade ao berço, fazendo uma aflição irritante despertar dentro de mim. No mesmo segundo que abri a porta, o homem saiu andando, fugindo, para fora do quarto, segurando seu chapéu beje para que não caísse em seu caminho delicado e apressado. Me apressei logo ao berço, procurando imperfeições, mas nada saía de fora do normal. Passei a mão pelo corpo de cada um, procurando algo que deveria significar aquela invasão, mas nada vinha. Além da vestimenta, tinha algo que eu consegui identificar de seu rosto escondido pelo chapéu. Uma cicatriz que cortava seu rosto. 

Após começar a me lembrar finalmente encontrei algo de errado. Um pequeno localizador nas costas de Taylor. Acho que Janet não estava tão errada sobre a segurança desse lugar.

I Think We're Alone Now - Temporada 2 (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora