Capítulo 21: A Distração

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Andrew

Eu odiava isso.

De volta ao rádio, rádio que a própria Rebecca quebrou. Hipócritas, era o que passava em minha mente. Odiava ser tratado como gado, como se fossemos animais e uma hora iríamos ao abatedouro, para os experimentos. Agora somos os fornecedores principais de mutantes para eles e não posso fazer nada no momento.

Janet, Amberly e os outros ainda não voltaram e isso me mantinha inquieto. Eu não sabia se estavam bem, se voltariam, e por isso tenho que consertar essa droga de rádio. Preciso pedir ajuda, preciso do resto da resistência, mesmo que fosse assinar sua sentença de morte. Eu não posso mais envolver ninguém nisso, porém precisava.

A pior parte era estar doente no meio disso tudo. Meu nariz ainda escorria e as vezes parecia que ia vomitar mesmo sem ter comido nada. Meus olhos estavam cansados, porém não poderia sair daqui até terminar isso. Eles não vão ter piedade e nem nós deles quando nos vingarmos, porque vamos.

─ Sem conversas ─ um dos homens mascarados de Stryker dizia enquanto colocava alguém para dentro do laboratório. Abigail e Tiberias vinham me ajudar, mesmo que eles não saibam como consertar isso. Acho que eles têm algo a falar.

─ Meus lábios estão selados ─ Abigail dizia em tom de brincadeira, mesmo que nada ali tivesse graça. Ela vivia com crianças, isso era normal para ela. Mesmo brincando, foi respondida com uma pancada no ombro com o cabo do fuzil que segurava. Desconfortável foi seu olhar, mas o homem não pareceu se importar, apenas empurrou os dois para dentro.

─ Chega, Abby ─ Tiberias cochichou. Sua camiseta estava desarrumada, dando a entender que foi revistado antes de entrar aqui. Eles não confiam em nós e nem confiamos neles. 

Assim que me viram, evitei contato visual, para parecer que não os conhecia. Mesmo assim, eles se sentaram ao meu lado. Tiberias era o único que pareceu querer ter uma conversa séria, Abigail sempre parecia ter um lado mais infantil, mas eu não poderia duvidar de sua capacidade. 

─ As coisas estão feias, Andy ─ Tim cochichava tão baixo que quase pedi para que repetisse. ─ Precisamos nos apressar, precisamos de Janet.

─ Eu estou resolvendo isso ─ disse fungando o nariz.

─ Não parece ─ retrucou Abigail, me irritando. Quanto ela sabia mais do que eu? Se soubesse, isso já estaria funcionando. ─ Sabe a sua amiga traidora? Ela é jovem, se conseguir fazer ela mudar de ideia sobre isso tudo, vai ser um grande golpe pra nós dessa vez. O plano é o seguinte: você usa o seu charme e a faz se virar contra o velho crente.

─ Me dê isso ─ Tiberias disse pegando o que era para ser o rádio de minha mão.

─ Eu não vou fazer isso. Que faça você ─ concluí virado para Abby.

─ Você precisa. Ela ta na sua, cara, não na minha, e mesmo que tivesse, você iria fazer isso. Ela é só um pouco mais nova que você, comigo ficaria feio pro meu lado ─ não parecia, mas ela era sim mais velha que eu. Abigail parecia uma adolescente, mas estava a pouco disso. 

─ Por falar nela... ─ conclui quando Rebecca apareceu lá dentro sem chamar muita atenção.

Ela parecia inquieta, não como ela sempre estava, mas como se precisasse dizer alguma coisa que não podia. Tenho certeza que olhava para mim, mas sempre desviava o olhar. Quem sabe Abigail estava certa, ela realmente gosta de mim, porém eu nunca iria retribuir verdadeiramente. 

Querendo chamar minha atenção, ela saiu pela outra porta em passos rápidos e discretos. Abby captou a mensagem e, sem muitas palavras, começou a caçoar de mim, como se tivéssemos de volta ao ensino fundamental. Nunca me apaixonei por ninguém durante meu ensino fundamental e médio, porém muitas já se apaixonaram por mim. Me sinto mal por aquelas meninas, mas não tinha o que eu pudesse fazer se não sentia o mesmo.

─ Vai lá e faz um chorinho ─ Abby mandava ─ faz com que ela se preocupe com você ─ mesmo que não quisesse, não poderia dizer que era um péssimo plano.

Depois de um tempo tomando coragem, resolvi levantar e seguir Rebecca. Estava meio enjoado por causa da doença, além da facada que levara da mesma, minha pele ficava mais pálida que nunca. Se eu me jogasse um pouco depois da porta, talvez ela iria vir até mim. Sempre vi isso nos filmes, mas nunca parei para testar, nunca precisei testar. 

Como planejado, esperei minha cabeça começar a se sentir tonta para fingir meu desmaio não tão fingido. Fiquei um tempo lá jogado no chão, ninguém veio me socorrer por causa da falta de soldados naquele corredor, mas esperei até que a pessoa certa viesse. E ela veio. Ouvir os passos de Rebecca foi pouco reconfortante, significava que tinha dado certo, eu chamei a atenção dela. O pior foi ser arrastado como um boneco até uma sala para, finalmente, ela abrir meus olhos forçadamente.

─ Andrew, acorda ─ ela dava tapinhas fracos em meu rosto, apenas para me acordar. Fingi acordar, abrir os olhos do meu teatro dramático de sedução. Ela, bobinha, apenas caía em todo esse truque inventado por Abigail.

─ Rebecca? ─ fingi um tom fraco de voz, rouco, como um doente faria.

─ Toma, bebe isso ─ ela me deu algo para beber, um líquido pastoso e com um cheiro doce e viciante. Não sabia para que e nem porquê estava bebendo isso, mas não recusei ainda no meu papel de doente. O líquido quanto mais ficava na boca, mais ele queimava, me forçando a engoli-lo de uma vez só. Senti meu nariz desentupir e minha garganta parar de doer. A cura, eles têm a cura.

Me levantei aos poucos, ainda me recuperando da minha falsa queda. Os olhos de Rebecca se preocupavam, tomara que não seja apenas seu olhar. Quem sabe ela pode nos levar até meu pai, até Erik, até todos os nossos homens. Eu não parava de pensar nisso. Isso ainda duraria muito e eu tenho dó de quando ela descobrir a verdade, descobrir que era tudo manipulação. Me sinto mal por ela, mas estou fazendo pelo meu povo, por aqueles que me preocupo, e ela é apenas um pequeno preço a se pagar.

Quando ela se voltasse contra os purificadores, ela iria curar todo o nosso povo com isso.

I Think We're Alone Now - Temporada 2 (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora