Capítulo 28: Futuro

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Amberly

Lar, doce lar.

Apesar de não fazer muito tempo que eu tinha saído daqui, sentia falta desse lugar. O movimento, as pessoas, as paredes horríveis e até os corredores confusos e mal iluminados. Sem dúvida me dava a sensação de conforto.

A única coisa que não me deixa confortável é a traidora dos dois lados.

Míream, ou Rebecca, ainda me parece uma ameaça. Eu sei que ela mostrou sua utilidade quando hackeou os sistemas dos purificadores e quando reuniu os guardas, porém algo ainda não me parecia correto. Ela estava caidinha pelo meu irmão, um bom sinal, mas a melhor é a cara que Andy faz quando ela se aproxima. Acho que o fato dele nunca ter tido um relacionamento de verdade o assustava, isso vai sempre me fazer rir de alguma forma.

Por falar em relacionamentos, pensei muito em mim e no Zayne. Apesar de eu já estar gostando de outra pessoa, não posso simplesmente o abandonar, não nesse estado. No inicio eu quis voltar aos seus braços, teleportar para algum lugar que possa o encontrar e sair desse inferno, mas agora eu tenho um motivo para ficar e não vou abandonar desse jeito. Eu não pude ter tantos momentos com a Janet como eu tive com o Zayne, mas talvez agora consigamos um pouco de paz até que nos ataquem de novo.

Mesmo assim, eu sentia algo por ela que eu nunca senti antes. Meu namoro com Zayne foi pura necessidade, se nos separássemos, morreríamos nas ruas, então eu sempre fiz de tudo pra impedir um escândalo. Agora nada disso importa mais, eu não preciso mais dele. Já tenho meus filhos que, mesmo eu achando um fardo, me trouxeram algum tipo de responsabilidade.

Falando na Janet, ela melhorou rápido do membro perdido. Michael a ajudou com remédios para dormir e de dor, foi a única coisa que deu. Floyd estava com um projeto de braço biônico para ela, acho que seria a melhor forma de retribuir tudo que ela fez por nós, mesmo que tenha um alto custo. Queria poder ajudar, mas infelizmente não fui abençoada com o dom da inteligência, isso me fazia uma completa inútil. A única coisa que poderia fazer para ter utilidade, seria treinar os poderes ou a mira com arco e flechas.

A última vez que usei meus poderes criei adagas escuras e afiadas, nas quais mataram um homem que tentava me sequestrar. Não sei como fiz isso, mas seria útil se soubesse usá-las. As adagas não eram como as de Andrew, claras e esperançosas; as minhas pareciam mais a morte, uma arma que continuaria a derramar sangue por onde passasse. Um ceifador da morte que aparece onde quiser com seus rastros de poeira e sombras.

Ainda era o mesmo dia em que voltamos da fortaleza, talvez um dos dias mais aliviantes da minha vida. Agora as crianças podiam correr e gritar por todo o salão, os adultos podiam conversar em panelinhas. Já eu, preferia ficar vendo Abigail entreter Mei e seus amigos durante a noite toda com histórias de terror sobre monstros e bonecas possuídas. Eu não estava no meio da rodinha de crianças, mas conseguia ouvir e prestar atenção no meu canto.

─ Ela é ótima, não é? ─ Janet se aproximava de mim sentando ao meu lado. Ao que pude perceber, ela falava de Abby de um jeito leve, algo que pude ouvir dela poucas vezes. ─ Ela tem muita paciência, é isso que admiro nela.

─ Ela não faz parte do conselho, não é? ─ perguntei enquanto sua atenção ainda estava virada para Abigail e as crianças. Janet tinha um olhar sonhador, sorria como se pudesse se identificar. Não sei como ela está tão calma desde que Erik a atacou, parece que, para ela, seu braço faltando não fez diferença nenhuma.

─ Já tentamos convidá-la, mas ela prefere ficar longe. O máximo que faz é treinar iniciantes, aqueles que precisam de mais atenção que outros.

─ Está me dizendo que eu precisava de mais atenção que o normal? ─ retruquei enquanto as duas riam. Abby já me treinou uma vez, um pouco antes de ir para a missão. Sentia que ainda não estava preparada antes e Janet acabou de me confirmar isso.

─ Você está interpretando errado, eu nunca disse isso ─ seu riso foi diminuindo aos poucos enquanto olhava para as pessoas ao redor, algo ali não parecia mais certo. Talvez ela tivesse vergonha daquilo, duas mulheres se amando em meio caos, mas talvez ela também esteja gostando. Eu não sei, suas emoções eram difíceis de decifrar. Janet é uma pessoa misteriosa. ─ Vem comigo ─ disse soando como uma ordem, como se mostrasse para todos que ela ainda é a líder. Com passos apressados e ligeiros, ela foi me guiando pelos corredores com caminhos que eu nunca tinha feito ainda.

Suspense e mais suspense, Janet sabe como causar mistério. Não sabia para onde me levava, mas ela com certeza sabia o que estava fazendo. Meu cérebro pensou várias vezes em uma possível armadilha depois de tanta traição, mas meu coração responde mil vezes mais alto implorando para que eu apenas confiasse nela e seguisse. Tinha medo, claro, mas vale a pena confiar.

Quando chegamos, algumas escadas depois, uma vista para a cidade se abria para mim. Algumas luzes de janelas estavam apagadas, outras acesas. Já era hora da cidade ir dormir. A brisa suavizava a situação, deixando tudo mais pacífico, como se nunca tivesse tido ataque nenhum. Os cabelos de Janet voavam com o vento, ela ficava ainda mais linda quando estava em paz. Nos sentamos no terraço da base, uma do lado da outra, observando a paisagem.

─ Quero que fique com isso ─ ela pegava uma caixinha de seu bolso. Meu coração começou a bater aceleradamente enquanto ela a abria. ─ É só um anel que deixei guardado para dar para alguém especial. Sei que isso não é muito a minha cara e eu pareço uma idiota, mas eu quero que fique com isso, para você se lembrar de mim.

─ Por que eu teria que me lembrar de você? Nós vamos ficar aqui juntas, não é? ─ no momento que tentei confirmar, ela desviou o olhar para a paisagem. Algo sobre o futuro ela não queria me contar, mas não deveria ser tão importante assim para ela fazer isso. O que me preocupava.

─ Só... use o anel, combina com você ─ sorri inocentemente e o coloquei. Agora eu tinha isso, uma parte dela, e não tiraria nunca mais. Por fim ela tentou me dar um beijo na bochecha, porém algum instinto meu recusava. Tive que virar o meu rosto numa tentativa de proteção, mas não sabia contra o que. 

Algo em mim ainda não queria receber seu afeto, sempre recusando várias vezes involuntariamente, estragando o clima que ela tinha acabado de deixar bom. Eu sabia qual era o medo que me cercava, apenas não sabia as palavras certas.

─ Está tudo bem? ─ ela perguntava sem entender o que eu estava fazendo. Ela não merece uma pessoa como eu, uma pessoa que não sabe o que quer. Ela merece alguém que realmente a valorize, mesmo eu querendo muito ficar com ela.

─ S-sim, eu só... ─ minha voz vacilava.

─ Seja honesta, por favor ─ seu olhar penetrante me fazia corar, é difícil explicar enquanto ela me olhava desse jeito, como se eu fosse o único mundo para ela. Como se eu fosse única. 

─ Eu estou com medo de me apaixonar por você ─ por fim me expliquei. Essas foram as palavras perfeitas para explicar meus sentimentos, mas agora tinha mais medo da resposta dela. Seria ela boa ou ruim? Eu não sabia. As vezes, tudo que eu queria era ser uma telepata como ela, minha vida seria mais fácil com certeza. Ela deu uma risada fraca e respondeu:

─ Estou com medo porque já me apaixonei ─ soltou uma risada nasal, meio decepcionada consigo mesma. Talvez ela pense que se apaixonar é um tipo de fraqueza, o que me chamava mais atenção sobre ela. Ao invés de acertar a minha bochecha, agora ela ia direto em meus lábios formando um beijo. 

No momento eu me esqueci de tudo, purificadores, Stryker, Erik e todo esse tipo de coisa. Agora eu só queria ficar ali junto a Janet. Eu só queria que tivéssemos uma vida normal, uma vida em que moraríamos em uma casa com meus filhos para criar. Infelizmente, não nascemos com essa vida.

Talvez ela saiba demais sobre o futuro.

I Think We're Alone Now - Temporada 2 (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora