Capítulo 15: Traição

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Andrew

No fim das contas, Janet nem precisou ameaçar meus sobrinhos.

Já tinham se passado umas meia hora desde que eles saíram em missão, o que me deixou meio sozinho. O rádio, quebrado por Amberly durante o parto, precisava ser consertado e rápido. Passei boa parte dos dias dentro do laboratório arranjando peças para fazer o conserto. Com minha pouca experiência, foi difícil no inicio, mas com o tempo as coisas começam a fazer sentido. Com tentativa e erro, eu ia conseguindo montar de volta.

Era muito difícil conseguir um sinal, mas também parecia que ninguém gostaria de conversar conosco. Não conseguimos nenhum contato, o que era bom até o momento, mas também suspeito. Espero que Janet consiga algo nessa missão que ajude a recuperar o sinal do rádio, por que, senão, estamos condenados a falta de informação.

Tentei manter minha mente concentrada no rádio, mas outra coisa também me incomodava: a pequena epidemia que teria se iniciado inesperavelmente. Muitas coisas estavam acontecendo sem razão e nós não sabíamos se era proposital ou involuntário, eu queria saber se alguém estava nos impedindo de continuar nossa prosperidade.

─ Vamos precisar que o rádio funcione se queremos manter contato com o resto do mundo ─ Floyd já dizia o óbvio. ─ Também precisaremos manter conexão com a equipe de resgate que será mandada.

─ Estou trabalhando nisso, amigo ─ garantia ─ Se você quer mais rápido, deveria vir no meu lugar ─ dizia com um grampo na boca. Me virei para olha-lo, que estava parado de braços cruzados atrás de mim. Eu estava sentado em uma parte do laboratório que denominei de "meu", já que ninguém usava e nem sequer ia para aquele lado. Não era muito grande, mas tinha um ótimo tamanho para mim. Peguei o grampo que me ajudava a desmontar certas peças e deixei em cima da mesa. ─ Eu sei que você não gosta de liderar.

─ Nem um pouco. ─ resmungava Floyd ─ Eu só sou o mais forte, mais experiente, mais bonito. ─ fazia uma lista de características que eu claramente não concordava, como uma brincadeira.

─ O mais careca ─ concluía mais uma característica sua. Rimos um pouco enquanto eu continuava meu trabalho com o rádio.

Ficamos em um silêncio tão ensurdecedor que chegava a dar dor de cabeça. Mas logo depois fomos interrompidos por um ruido vindo do próprio rádio já ligado, significando que eu realmente consegui concertar algo. Por um curto período de tempo me senti orgulhoso de mim mesmo, até ser interrompido por falas pouco claras devido ao ruído alto feito pelo rádio. Parecia que alguém tentava se comunicar.

─ Resistência? ─ a voz masculina fez uma pausa. Quase não deu nem para entender suas palavras no meio da zorra de barulhos. ─ Por favor, se alguém conseguir me ouvir, me mande um sinal. Câmbio. ─ corri para pegar o microfone e conecta-lo no rádio. Ansioso com a nova descoberta, chegava a tremer de empolgação. Pelo menos algo deu certo.

─ Aqui é a Resistência Mutante de Nova York, está me ouvindo? ─ dizia empolgado, mas ainda com medo de falhar. ─ Estão me ouvindo?

─ Graças a Deus vocês concertaram essa merda ─ a voz dizia, soando aliviado. ─ Sou Marcos Diaz, de Atlanta. Nós sofremos muitos danos, é bom ouvir a voz de um amigo. Com quem estou falando? ─ a única coisa que pude notar foi o sobrenome de Marcos. Diaz... eu sei que é familiar.

─ Eu sou Andrew, Andrew VanCite. Sou filho do Trent e estou com Floyd Duke ao meu lado ─ me apresentava.

─ Posso saber onde está o seu pai? Precisamos dele para informar a situação atual.

─ Creio que não. Ele foi capturado pelos homens de Campbell a mais de três meses, desde então temos sido liderados por outra pessoa ─ não especifiquei Janet. ─ Você pode dizer para nós e assim informaremos a ponte.

Ao desligar o microfone, notamos um silêncio assustador. O rádio não fazia mais aquele ruído, chegando a conclusão que quebrara novamente. Tentei continuar chamando Marcos, mas já era tarde demais, perdemos o rádio. Rapidamente, corri para tentar arrumar, mas eu não conseguia encontrar o erro. Minha respiração subiu, sem acreditar que estragara de novo.

Xingava a mim mesmo, a porcaria do rádio, essa vida, aproveitei para falar a primeira coisa que vinha na minha mente. Calmo, Floyd tentava ajudar, mas ele também não encontrava nenhum erro. Parecia que o universo queria ferrar conosco o tempo todo e não podemos sair em missão sem as informações de Atlanta, mas já era tarde demais, Janet provavelmente já organizou tudo.

Floyd resolveu sair, me deixando sozinho com meu estresse contínuo. Tinha saudade de quando não estava envolvido em nada disso, minha vida era muito mais fácil. Eu não sei como lidar com isso, a decepção de algo que eu colocava muita expectativa dar errado. Eu queria ir na missão junto a Janet e Amberly, talvez assim eu pudesse ser útil em algo. Em morrer no primeiro tiro.

Senti uma sensação ruim ao pensar nisso, na minha morte, mas talvez seja apenas o cansaço. Não... realmente tinha uma sensação estranha aqui dentro, fora do normal, mas como poderia ser algo se não tem ninguém ali? Pensei em Marcos, mas ele não viria aqui tão rápido. Deveria ser apenas uma ansiedade, ansioso pelas informações.

─ Agora que seu trabalho não é mais necessário, podia se despedir ─ ao ouvir isso, uma ardência subiu do lado inferior direito da minha barriga, me fazendo ficar sem reação na hora. Apenas aguentando a dor.

Provavelmente foi uma facada, já que na hora da dor algo ainda estava cravado em mim. Ao retira-la do meu corpo, parecia que eu iria morrer a qualquer minuto pela quantidade de sangue que senti escorrendo pelas minhas roupas. Caí da cadeira de lado, me fazendo tombar e ficar de barriga para cima no chão enquanto meu suposto assassino me encarava. A voz era familiar, uma voz feminina, não poderia ser Janet nem Amberly, mas seu visual também não se parecia com elas. Eu sabia que conhecia a voz, eu tinha certeza.

Rebecca para a ponte, Alvo Dois eliminado. ─ Míream, foi o que eu pensei. Míream era, na verdade, Rebecca, uma traidora, uma espiã. Eu precisava levantar, eu precisava viver.

Esperei ela sair até que conseguisse fazer alguma coisa. Rebecca era novata, ela não conhecia as coisas muito bem, tanto que não sabia que havia um botão de alarme na sala. Com muito esforço e muita dor, me levantei para pressionar o botão. Tentei correr, mas a dor me impedia de muitas coisas, correr era uma delas. Parecia incapacitado, desesperado, mas já era tarde demais. Míream, ou Rebecca, já havia me segurado de novo.

Pelo menos iria morrer tentando, eu tentei avisar todos sobre essa traição, mas não fui bem sucedido. Quantos iriam morrer como eu? Não sei, acho que também nunca vou saber.

I Think We're Alone Now - Temporada 2 (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora