Capítulo 38: Essa é a Nossa Deixa

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Amberly

─ Vamos, Amberly, não há mais tempo ─ Andrew me puxava tentando me tirar da transe. Janet estava morta, apenas ela. Eu não consegui sequer me despedir, eu deveria ter tentado salvá-la, deveria ter sido eu. Como eu fui tão burra a ponto de pensar que eles não fariam aquilo com ela? ─ Amberly ─ ele agachou na minha frente, me forçando a olha-lo. ─ Ela não gostaria que você morresse aqui, não é? Ela teria morrido a toa.

─ Eu quero ficar aqui. Vocês podem ir embora, já não tenho mais nada ─ ela era a única pessoa que tinha fé em mim. Ela tentou me machucar para que eu não sentisse sua falta, no fim doeu mais do que ela pensava. Não sei como conseguia me manter em pé, sinto toda hora que vou desmoronar, mas como Andrew disse, ela teria morrido a toa. Minha cabeça estava dividida em continuar ou desistir, tenho medo dos dois.

─ Ali, Amberly ─ ele apontava para um pessoal atrás de mim. Sabia disso por causa do barulho, muita conversa. ─ Siga Floyd, eu vou tirar ela daqui.

─ Não posso ficar longe dela ─ hesitava.

─ Confia em mim, vocês ainda vão se encontrar ─ balancei minha cabeça em concordância. Antes de me levantar, peguei o pingente em forma estrelar que ela carregava escondido e segui até o pessoal no corredor escuro. Todos me encaravam estranho, eles sabiam do meu relacionamento com Janet. O anel que ela tinha me dado coçava em meu dedo. Por um instante pensei em retirá-lo, mas lembrei que era a única coisa que tinha dela.

"Para você se lembrar de mim" foi o que ela disse depois de me entregar o anel. Talvez ela sempre soube que o fim dela era aqui e deixou que acontecesse, apenas porque tinha que acontecer. Ela nem sequer pensou em me contar, esse deveria ser seu maior segredo. Para que ela morresse como soubesse que morreria, deveria seguir uma regra rígida o bastante para que não descumprisse, para que ela não escapasse da morte. Talvez as coisas tenham que ser desse jeito e ela não pôde mudar mesmo se quisesse, ela morreu sabendo o que aconteceria.

Um alarme soou por todo corredor, mas eu não cheguei a prestar atenção nele até um certo tempo. Pessoas desesperadas, os prisioneiros gritando como uma longa orquestra. Para mim, tudo parecia passar em câmera lenta. Eu não ligava para mais nada, as coisas tinham perdido sentido. Meu irmão saía da sala com o corpo de sua líder, a mulher que eu amava, em seus braços; eu deveria estar fazendo aquilo, eu deveria estar fazendo aquilo por ela, não Andrew. No meio da multidão, meu pai, fraco e desnutrido, me lançava um olhar tranquilizador, acho que é a primeira vez que me olha assim. "Vai ficar tudo bem" era o que ele transmitia. Talvez ele tenha tido muito tempo para repensar em seus atos nesse momento de tortura e confinamento. Culpado ele deveria se sentir, mas arrependido eu duvido muito.

Não consegui entender muito bem a situação até que vejo que já estou do outro lado da porta proibida. Pelo que consegui ouvir, Stryker estava vivo e tinha acabado de lançar o míssil para a base. Torci muito para que Rebecca tivesse seguido a última ordem de Janet, não tivemos muito dela em minutos. Se o resto do nosso povo estava bem, acho que eu não veria problema em perder a mobília agora, mas tenho certeza de que meu pai não está nada contente com isso, ele não falou quase uma palavra. 

─ Aquelas coisas... vão nos matar ─ meu pai lançava para Wes, no qual estava apoiado. 

─ O que? ─ ele dizia tão confuso quanto eu. Era difícil ouvir o que eles falavam com tanta gente assim.

─ Existem... umas criaturas ─ meu pai dizia fraco ─, os primeiros experimentos com mutantes que deram errado de Campbell. Se eu pudesse liderar agora, diria para fugirmos ─ mesmo fraco, ele colocava o povo acima dele. Antes que meu pai continuasse a falar, um ruído agudo e agoniante, como um grito, ecoava por todo o corredor. Não resisti a tampar os ouvidos com as mãos, mesmo que não adiantasse muito. O grito rasgava a alma e possivelmente teria deixado alguém surdo.

As criaturas deveriam estar vindo do mesmo lugar onde Erik havia cortado metade do braço de Janet fora. Começamos a correr, uma multidão estava correndo. Para que pudéssemos fugir, uma mutante que criava escudos sinéticos nos dava uma chance de correr. Ela não tinha um controle total sobre os poderes ainda, mas deu pro gasto. Ela também já estava cansada o suficiente, deveria ter feito aquilo mais vezes enquanto invadia o local. Junto a ela, um mutante pirocinético a ajudava a manter o controle das criaturas, que pareciam ser fracas ao fogo. Pelo que pude ver, eram carecas, provavelmente ao excesso de componentes usados para os experimentos, com bocas largas, dentes afiados com pernas e braços longos e finos. Não conseguiam se manter em pé, então andavam a quatro patas como animais. Acho que nem Stryker sabe da existência de tudo isso.

Quando estávamos quase saindo, a mutante do escudo não aguentou a força exercida sobre ela. Os dois morreram no meio dos bichos. Não poderíamos sequer voltar para pegar os corpos, devem ter sido devorados por eles. Mesmo assim, o sacrifício deles não teria sido em vão, nós conseguimos sair e conte-los lá dentro, por um breve período de tempo. A caminho da saída, encontramos com Tiberias, que teria entrado usando uma roupa de guarda pela porta dos fundos.

─ Ei, Floyd ─ Tiberias chegava perto dele e eu ouvia toda a conversa. ─ Você viu a Abby? Ela não está aqui.

─ Eu não a vi desde que entramos por aquela porta para ajudar Janet, Amberly e Wes lá dentro ─ apontava para a direção do local. Depois de um tempo percebeu que ela não estava mais presente. Também me virei várias vezes procurando-a, mas nada. ─ Vamos ir voltando para a van e vemos se encontramos ela ─ Tiberias confirmava com apenas um movimento com a cabeça. 

─ Também descobri outra coisa ─ me virei para prestar atenção na conversa novamente. ─ A bomba não está funcionando, não podemos aciona-la quando formos embora ─ merda, merda, merda. Não podemos deixar o William vivo desse jeito. Esse homem é um assassino, um terrorista, ele matou Janet, não podemos deixar com que ele viva assim. ─ Mas eu descobri uma possível solução ─ ele dava um intervalo. ─ Os irmãos VanCite. Janet disse uma vez que os dois tinham um poder de destruição em massa, não é? Podemos deixar eles aqui, eles explodem e voltamos para busca-los. Eu acho que vale a pena a tentativa ─ não era uma má ideia nos usar como armas, assim podemos fazer tudo em um passe de mágica. Matamos Stryker e o resto de seus homens e bum! Problema resolvido.

─ Acho que vale a pena a tentativa ─ Floyd se virou para mim e para Andrew, que estava do outro lado da sala, e nos chamou com um gesto. ─ Ei, Andrew e Amberly, temos um presente para vocês ─ mesmo já sabendo do que se tratava, fingi surpresa. Essa era a nossa deixa.

I Think We're Alone Now - Temporada 2 (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora