Capítulo 22: Proibido

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Amberly

Quase nos pegaram, diversas vezes.

Eu, Janet e Wes continuamos no mesmo teatrinho por mais uns dois dias, um teatrinho bem realista para o meu gosto. Janet fingia me dar porradas, porradas doloridas, mas não fortes. Ela fingia para que não suspeitassem de nós. O resto dos nossos homens já estão livres, livres e atentos a todo custo, eles não falham. Alguns estão no centro de comando escondendo cadáveres dos antigos homens que ocupavam seus novos trabalhos, como aqueles dois brutamontes que viviam em cima de mim, ambos foram mortos quando chegaram na sala de comando, ou a sala das câmeras. Nós temos vantagem, sempre temos. Ainda com essa ajuda, os homens desligaram a minha coleira de contenção, porém eu teria que continuar com ela se quisesse que acreditassem em nosso teatro.

Janet já conhece bem o lugar, já decorou todos os cômodos conhecidos em poucos dias, dando ainda mais vantagem. As celas ficam em um andar inferior, no subsolo dessa fortaleza, onde eu estava; acima temos um corredor principal que faz um formato circular, onde leva a todos os cômodos; não tive paciência para prestar atenção no resto, mesmo ela me explicando várias vezes.

No momento ela estava em algum lugar, perambulando sobre essa enorme fortaleza escondida na qual nos trouxeram a força. Com o capacete era difícil nos identificar, então passávamos como ratos no meio desse povo. Stryker classificava seus homens como iguais, todos vestiam as mesmas coisas, os mesmos capacetes, comiam com a mesma velocidade, andavam nos mesmos movimentos. Apenas Stryker era diferente, apenas ele era superior. E Janet sabia se infiltrar no meio disso tudo.

─ Como você acha que o Andrew está lidando com tanta gente lá? ─ Wes me perguntava mesmo sabendo que eu não teria sua resposta. Andrew, já faz tempo que eu não pensava somente nele. Ele foi o único cara em muito tempo que se dispôs em me ajudar, sem contar com Zayne a muito tempo. ─ Deixamos ele sozinho apenas com Floyd. Seu irmão é bom, mas nem tanto.

─ Ele se adapta ─ falei com minha voz rouca depois de muito tempo sem dizer uma palavra. Acho que eu e Wes nunca tivemos uma real conversa, apenas frases trocadas. A primeira vez que o vi fiquei encantada com sua habilidade, seu poder. Eu nunca tinha visto nada como o que ele fez na hora. Isso nem foi a tanto tempo, mas já pareciam anos. Com a velocidade que as coisas pioraram chego a me espantar.

Até que Janet entrara numa velocidade surpreendente.

─ Veste isso ─ ela jogou um traje como o dela em cima de mim. ─ Vocês não vão acreditar no que eu descobri.

─ O que é, Janet? ─ perguntei.

─ Você só acreditará quando ver.

Vesti o traje numa velocidade que nunca tinha me vestido antes, deixando as roupas velhas em um canto escondido. Me perguntava o que era tão inacreditável assim para Janet ao ponto dela não querer nos dizer. Pensei em Erik, o garoto no qual foi capturado muito cedo, mas também pensava em meu pai, o líder que todos amavam. Eu não tinha esperança suficiente para que fosse um dos dois, mas era sempre bom ter fé. Janet mandou Wes ficar aqui e criar uma ilusão de mim, para que ninguém viesse verificar minha cela.

─ Copie meus passos, engrosse a voz. Eles sabem como você age, vai ter que fingir ser outra pessoa agora ─ mandava Janet enquanto eu colocava o capacete que me tornava irreconhecível. ─ Apenas ande ao meu lado.

─ Eu já sei, não preciso que me lembre ─ garanti.

Depois de dias olhando para a mesma parede branca, meus olhos já imploravam por cores. O branco agora me dava dor de cabeça, eu só queria ir para fora em busca de vida, de cor. Quando saí da cela, um certo alívio tomou conta de mim. Eu não estava mais presa. Fiquei um tempo para me lembrar que tinha um objetivo, algo que Janet tinha que me mostrar, foi então que comecei a segui-la como ela mandou, imitando seus passos. Ela era rápida e silenciosa, como um gato, tentando ao máximo não ser vista, porém soava natural e não desesperado. Quem nos visse, não diria que estamos disfarçadas, mas estamos.

A sala que Janet queria me levar tinha uma porta discreta, porém chamava muita a minha atenção. Ela tinha uma placa vermelha e branca informando a entrada proibida de pessoas não autorizadas. Eu não era uma delas. Para entrar, Janet utilizou um cartão de acesso que provavelmente roubou de algum outro guarda, que poderia estar morto agora. A porta se abriu depois do sensor brilhar em verde, autorizando nossa entrada no nome de outra pessoa. Eu ainda não sabia o que me esperava.

De inicio entramos em uma sala escura com apenas uma luz vermelha no teto, ela dava piscadas longas e intervalos longos, como um alerta. Outra porta vinha na frente, uma porta fria e seca, que tinha medo de abrir. Essa sala servia apenas como um aviso, um aviso para voltar por onde entrou. Janet, já sabendo o que havia do outro lado dessa porta, nem se preparou antes de abri-la.

Minha primeira reação foi o frio, fazia até parecer que o inverno chegou antecipado. Hesitei um pouco antes de entrar, mas como Janet já foi indo na frente tive que segui-la em sua mesma velocidade, como se fosse ensaiado. Tinha que parecer uma marionete, é assim que eles querem. Em nossa frente havia um corredor extenso, sem paredes e poucas luzes, ou seja, se caísse para fora do corredor é impossível voltar, como um fosso. Nas laterais, haviam paredes que eram impossíveis de serem vistas sem uma luz de tão distantes. Mais para frente tinha outra porta, odeio essas portas, que Janet não hesitou em abrir.

O lugar parecia um abatedouro, um completo nojo. A luz branca constante me enjoava. Sangue manchava as paredes brancas junto com aparelhos de cirurgia, tirando uma furadeira cheia de sangue que eu evitava em saber o motivo de seu uso. Correntes rodeavam a sala, com sangue presente nelas, parecia uma sala de tortura se já não fosse. O cheiro de metal sangrento me fazia querer vomitar constantemente, não acho que esse cheiro irá sair do meu nariz tão rápido. Essa cena também não vai sair tão cedo da minha memória. Esse seria meu destino, no fim de tudo eu iria parar aqui se não fosse pela Janet e o resto. Prometi a mim mesma que ainda voltaria aqui, iria resgatar essas pessoas mesmo que custasse a minha vida. Ninguém merece ser mantido nesse lugar.

Na mesma direção seguia outra porta, que esperava que fosse a última, que Janet também abriu. Aos poucos ia ficando mais quente, o frio ia nos abandonando e voltava para a temperatura normal. Essa porta abria para uma sala escura, iluminada apenas pela luz vinda do local de tortura que estávamos até agora. Acho que Janet não tinha visto até esse ponto sozinha, pois também aparentava curiosa sobre esse lugar. Eu queria entrar, mas o medo tomava conta de mim, eu não queria ser descoberta agora. No meio da escuridão, um pontinho branco se iluminou em nossa direção mais ou menos na altura de Janet. Aos poucos foi se aproximando, a cada passo que dava, mais rápido meu coração batia. Permanecíamos imóveis, curiosas e com medo ao mesmo tempo, sentia isso vindo de Janet, não queríamos sair dali até descobrir o que era aquilo.

─ Parado aí ─ Janet colocava uma mão para frente, ameaçando, como se fosse usar seu poder.

Alguns segundos depois, uma coisa roxa circulava sua mão, como um portal, e então se fechou, levando junto a mão e metade do antebraço de Janet. Fiquei alguns segundos sem reação com Janet sofrendo ao meu lado. Até ela pode gemer de dor. Depois do meu momento de transe e me ligar que ela gritava pelo meu nome, peguei seu braço bom e o coloquei por trás do meu pescoço, apoiado em meus ombros. Corri como se não houvesse amanhã até a sala escura da luz vermelha piscante. Meu ritmo estava acelerado, acho que nunca corri tão rápido na minha vida como agora, acho que nunca precisei correr assim antes. A primeira porta estava fechada, estávamos presas, não tinha mais saída. Morreríamos se a criatura nos encurralasse, então eu tinha apenas uma escolha: ou teleportava nós duas, ou morremos aqui dentro. Eu escolhi a primeira e quando fui ver já estávamos do outro lado. Sorte nossa que não tinha ninguém por perto pra ver.

─ Era ele ─ Janet dizia no meio de resmungos. ─ Erik.

I Think We're Alone Now - Temporada 2 (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora