I Think We're Alone Now - Temporada 2 (CONCLUÍDA)

Capítulo 20: Livre

Amberly

Eu juro que nunca me senti tão humilhada em toda a minha vida.

Minha cabeça parecia estar rodando, implorando por água. Já se faziam alguns dias que estava ali, horas, eu não sei, eu não tenho mais o domínio de tempo que tinha antes. Cada minuto ali parecia um século. 

A tontura fazia tudo parecer pior, a presença daqueles dois brutamontes ali, a falta de oxigênio e o calor. Tudo se intensificava. Ia sempre para um mesmo canto para vomitar, numa tentativa de fazer com que tudo isso parasse, sair de um pesadelo. Mas nada nunca acontecia, sempre continuava o mesmo terror.

Eu me sentia sozinha, já que os dois homens presentes são apenas monstros, monstros piores do que qualquer um ficcional que já tenha ouvido falar. Para meu alívio, eles saiam para almoçar, então conseguia ficar sozinha pelo menos um pouco. Porém voltavam em uns dez minutos, o que acabava com meu alívio. Já contei três almoços até agora, ou seja, três dias em cativeiro. Só me mantinha em pé por Janet e os meus filhos, senão eu já teria tentado morrer de alguma forma. Se eu fizesse algum barulho, saía com um olho roxo, e eu odeio isso. Com sorte nenhum osso foi quebrado, pelo que eu saiba.

Precisava sair daqui urgentemente, mas não conseguiria sair sozinha. Eu sou fraca sem meus poderes, eu não sou ninguém sem eles, nunca fui alguém de verdade. Sou apenas uma mera oportunista, na qual se aproveita da primeira oportunidade. Minha primeira oportunidade foi Janet, mas agora ela é bem mais que isso. Meus lábios que um dia se tocaram com os dela, agora estavam ressecados, desidratados, resultado da falta de água em meu corpo.

Foi quando percebi uma certa movimentação do lado de fora que obtive alguma esperança, esperança que fosse ela. Não conseguia ouvir nada pelo lado de dentro, apenas enxergar pela pequena janela de vidro que não mostrava nada além do mesmo corredor há dias. Tinha alguém ali, o mesmo capacete que todos, porém era uma pessoa diferente, altura diferente, um jeito diferente. Janet, espero que você tenha vindo me salvar desse lugar.

─ Vossa Santidade solicitou uma troca de turnos. Nós lidamos com ela a partir de agora. Vocês vão para as câmeras, uma movimentação incomum foi detectada em uma das celas ─ quase sorri ao ouvir a voz dela, porém meus lábios ardiam demais a cada movimento. Eu poderia estar alucinando, espero que isso seja real.

─ Eu recebo apenas ordens diretas de Stryker. Peço que se afaste ─ um dos homens dizia enquanto tentava afastar Janet. Stryker deveria ser o velho que fez da minha prisão um inferno. Ah como eu queria me livrar daqui, mas sei que não vai ser fácil. Atrás de Janet tinha alguém, alguém que estaria ajudando ela, talvez Wes ou qualquer um que tenha vindo conosco. Não era um alguém qualquer.

─ Não confia em Stryker? Se ele me mandou aqui, eu posso voltar e dizer que você me impediu de seguir sua ordem. Depois ele pode decidir o que fazer com você ─ ela falava como superior, e ela sabe que é párea para eles. Ela poderia enfrentar quinhentos dos homens desse Stryker e ainda sair sem um arranhão, eu sei disso. Quando ela foi saindo, implorei para que ela voltasse, os homens também. Se ela "voltasse" para o velho, eles perderiam a vida, e sabiam disso. Então eles seguiram as ordens de Janet e foram, sem sequer hesitar. ─ Amberly ─ ela veio até mim.

─ Se nos verem vão me pegar, vão te pegar ─ temi seu toque de inicio. Quando ela tirou o capacete foi como se uma chama dentro de mim se acendesse de novo, eu não estava mais perdida. ─ Janet, eu...

─ Fica calma, tenho homens infiltrados nas câmeras. Wes está ali fora criando uma ilusão para não nos pegarem. Ah, Amberly... ─ ela passava o dedo pelos meu cabelos bagunçados e sem vida. Seu toque aquecia meu corpo e seu olhar fazia meu coração bater duas vezes mais rápido. Não sei se era por causa da falta de comida e água, mas minhas emoções estavam muito mais fortes no momento. ─ Aqui, tome ─ de algum modo ela conseguiu fazer com que uma garrafa de água aparecesse. Eu não sabia se era ilusão ou não, mas peguei sem pensar duas vezes e bebi tudo num gole só.

─ Como vamos sair daqui? ─ foi a primeira coisa que perguntei.

─ Descansa um pouco e depois pensamos nisso com clareza, ok? ─ hesitei. Eu não iria ficar nesse lugar nem por mais um segundo. ─ Estamos tentando falar com o Andrew ou com alguém para informar do ataque inesperado, mas o rádio está sempre quebrado, o que demoraria um tempo para Andy reconstruir ─ ela deu um suspiro antes de continuar. ─ Amberly, vamos esperar você se recuperar e depois vamos atrás de um jeito de fugir. Também tenho que analisar esse lugar, descobrir o que ele esconde, e você vai vir comigo.

─ Janet ─ chamei a atenção dela. ─ Posso te pedir uma coisa?

─ Qualquer coisa ─ ela aproximou seu rosto como se estivesse apenas nós duas ali. Sem câmeras, sem pessoas, sem nada. Eu acabei me esquecendo de tudo isso na hora.

─ Pode me beijar, por favor? ─ meu pedido não deveria ter sido o que ela imaginava, mas eu sei que ela não se surpreendeu mesmo assim. Talvez até ela esteja precisando disso e sei que ela não vai recusar.

Eu nunca estive tão apaixonada na minha vida a ponto de precisar estar com Janet toda hora. Eu precisava dela, eu sentia a necessidade dela. O amor é uma droga que envenena as almas e aprisiona elas. Agora eu sabia que estava envenenada. Toda essa situação, os purificadores, os experimentos, as revoluções, tinham que parar. Eu precisava amar, mas não tenho tempo para isso. Eu queria que Janet me levasse a lugares que eu nunca fui, que me fizesse aprender a amar, que me tirasse de toda essa loucura. Eu queria que ela me dissesse que não conseguiria respirar, comer, dormir sem mim, mas acho que esse não é o tipo dela.

Quando nossos lábios se tocaram foi como uma necessidade, uma droga, eu estava drogada, cega pelo amor. Não beijava assim a anos. Nem Zayne me deixou tão apaixonada dessa forma e eu consegui engravidar dele. Ter Janet era tudo que eu precisava e agora sei que ela está bem, essa resposta me acalmou por completo. É uma pena que um beijo dure tão pouco, porém deixa um sentimento para sempre.