Capítulo 30: Infiltrado

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Andrew

─ Eu vou matar ele, eu juro que mato ele quando ele aparecer ─ minha irmã desabafava tão brava que quase chorava. ─ Ele vai se arrepender ─ respirava fundo contendo as lágrimas. ─ Tipo... quem faz isso com a própria família? Não tem sentido nenhum pra mim. Se ele queria meus tios mortos então ele deveria fazer ele mesmo, não é? Ele deveria ter morrido no lugar do assassino de aluguel que ele contratou. E como a polícia não descobriu nada? Eles deveriam ter achado um celular, algo que desse para ver que era armação, eles não acharam nada. A polícia nem sequer me achou, eles nem sequer foram atrás de mim ─ nesse momento a pausa foi grande, pois ela não conseguiu se conter com tudo isso. Não a julgo, ela tem razão.

Deve ser por isso que meu pai estava tão sério e calmo na reunião após a morte de Christopher, Kathryn e o sumiço de Amberly. Ele sempre soube de tudo, porém eu era pequeno demais para entender. Tenho a impressão que minha tia Lila também sabia. Quando liguei para ela no dia em que atacaram o hospital em busca de Amberly meses atrás, ela não fez nada, apenas me enrolou para que o ataque começasse. Amberly não merece nada disso, nunca mereceu, apenas caiu em mãos erradas. 

Já com roupas, ela chorava no ombro de Janet que ouvia tudo isso com um certo tédio, como se já tivesse ouvido isso várias vezes. Ela também estava surpresa, além do mais Trent a enganou dizendo que o governo americano estava atrás da Amberly, não dele mesmo. Para ela, parecia que isso tudo fosse uma chatice. Seu abraço em volta de minha irmã não parecia real. Ela não estava nem um pouco tocada com tudo isso, ou apenas preferiu ignorar. Sua falta de emoções me irritava, ela não pode ser nem um pouco empática perto dos outros? Nem por uma noticia dessas?

─ Eu não estou entediada, Andrew ─ as vezes esqueço que é uma boa telepata, uma telepata que lê a mente dos outros sempre que pode. Rastejava pela minha mente como uma cobra até conseguir o que queria. Afastou Amberly de si, que tremia sem conseguir se controlar, e a encarou profundamente. ─ Eu só acho que depois de tudo isso, você já deveria estar acostumada. Seus traumas te deixam mais forte. Você já deveria conseguir lidar com isso sozinha ─ nesse instante, Amberly a empurrou ainda no meio do quarto, sem acreditar no que tinha ouvido. A poucos minutos atrás estavam as duas na cama praticamente sem roupas, agora Amberly não liga mais para nada que ela disser.

─ Não, porra! ─ deu um intervalo para respirar antes de continuar a sua bronca. ─ Eu tinha dez anos, eu era uma criança ─ se ela pudesse, gritava, porém as lágrimas não deixavam com que ela soltasse tudo. ─ A única coisa que deveria me deixar mais forte seriam frutas e vegetais, não um tiro de espingarda bem na testa dos pais. Pode me dizer o que quiser, me convencer do jeito que quiser, aquele homem que vocês estão tentando salvar não é o meu pai ─ um silêncio ensurdecedor se agravou pelo quarto, o que deu uma oportunidade para Amberly fugir de tudo. Acho que ela me mataria se soubesse que carrego uma tag com o nome dele no pescoço.

Soltei um curto olhar de desprezo para Janet antes de correr atrás de Amberly. Em poucos segundos consegui perde-la de vista, estava totalmente perdido. Gritei várias vezes por seu nome, como se tivesse perdido um cachorrinho. Pensei em vários esconderijos que ela poderia estar, então lembrei de uma vez que Wes a salvou no meio do primeiro ataque dos purificadores, quando a puxou para dentro de uma falsa saída de ventilação na qual poderia caber umas duas pessoas. Fui andando direto ao local esperando que a encontrasse. Acho que era a primeira vez que ela usava o teletransporte para fuga, e deu certo. Um dia ainda vou descobrir até onde podemos ir teleportando, seria bom se fosse infinito.

─ Achei você ─ dizia enquanto abria a entrada do esconderijo. Ela estava em posição fetal, segurando as pernas com os braços. Parecia indefesa, uma garotinha perdida. Amberly perdeu a infância, teve que amadurecer antes da hora, diferente de mim que aproveitei até o último segundo da minha adolescência. 

─ Vá embora ─ ela dizia enquanto colocava a cabeça no meio das pernas, se escondendo. De repente eu assumi o manto de adulto e sentei ao lado dela, uma criança. Ela não sabe disso, mas ainda era uma criança.

─ Você pode conversar comigo, pode até chorar no meu ombro ─ ri fraco tentando provocar algo nela, mas nada.

─ Ela ta certa ─ tentava se convencer.

─ Não, não está, e eu sei que sabe disso.

─ Eu já sou uma mulher adulta, não tenho que ficar chorando por causa de tudo isso. Eu não ligo mais, agora sou mais forte.

─ Você não é assim, Amby, você só...

─ Não me chama por esse apelido ─ depois disso o silêncio foi tão constrangedor que resolvi ficar longe. Ela precisava de um tempo para pensar, vou dar isso a ela, talvez mais tarde isso melhore. 

Logo que saía da passagem, um homem apareceu me dando um soco no rosto. Não era um homem normal, não conseguia ver sua aparência, ele usava um capacete, um capacete dos soldados de Stryker. Parece que nem todos foram embora e isso era a prova, agora eu estava indefeso no chão, pronto para ser morto por porradas. Não vi mais Amberly dentro da ventilação, ela teleportou, porém não sabia para onde. Quando o homem, alto e forte, veio até mim, algo o impediu, algo o fez cair morto.

Amberly estava atrás dele com algum tipo de espada completamente escura, como sombras, tão cortante quanto as minhas adagas. Ela estava com medo, olhando para o corpo morto em cima de mim, suas mãos tremiam junto com a espada. Agora ela tinha matado alguém, como eu matei meses atrás, e não acho que é sua primeira morte.

I Think We're Alone Now - Temporada 2 (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora