O Reino das Estrelas / Vol. 2

Capítulo 3: Lágrima de sangue.

O restante do caminho nós passamos em silencio. Scarlett parecia ter ficado muda, enquanto Colton exibia uma expressão despretensiosa. Era irritante. Estava com ele a alguns minutos e já havia percebido que não gostava nem um pouco daquela estrela. Por outro lado, Scarlett era adorável da sua própria maneira.

—Estamos chegando! —A estrela que guiava os cavalos, sentado a frente da carruagem, exclamou, dando umas batidinhas no teto.

Me inclinei para olhar na janela, vendo que estávamos passando por imensos portões dourados, parecendo ser feitos de ouro, entrando em uma cidade diferente de tudo que eu já havia visto na dimensão das estrelas.

As casas eram pequenas, pintadas de branco, com cercas também brancas ao redor de cada jardim florido e vivo. As janelas continham suportes com vasos de flores, enquanto plantas trepadeiras subiam por algumas paredes até o teto, que também continha jardins. As ruas eram largas e feitas de pedras, com praças a cada esquina, cheia de lagos e fontes com águas claras.

—Vocês gostam bastante de flores por aqui, não é? —Murmurei, vendo que Scarlett também estava inclinada pra frente, observando as ruas. A cidade parecia simples, mas era bonita, bem cuidada, viva e tinha seu ar de riqueza da sua própria forma.

—Lágrimas de sangue. —Scarlett deu de ombros, como se aquilo explicasse sua adoração por flores. —O palácio das estrelas.

Scarlett me mostrou o palácio que estava no nosso caminho, fazendo meu coração errar algumas batidas. Era imenso, cobrindo todo o horizonte com torres, pilastras e varandas. Também era branco, como tudo parecia ser naquele lugar. As pilastras eram rodeadas de plantas e havia uma cerca viva, antes de um rio que circulava o palácio, separando ele do restante da cidade ao nosso redor.

Uma ponte de madeira começou a abaixar sobre o rio, permitindo a nossa passagem para dentro dos jardins do castelo. Passamos por outro portão dourado, chegando a um jardim circular, com a rua de pedra seguindo até à frente das escadarias que davam para o interior daqueles muros e paredes brancas.

—Tudo aqui é...

—Magnifico? —Colton murmurou, me fazendo comprimir os lábios.

—Excessivamente branco. —Completei, vendo-o enrugar os lábios em reprovação.

Sinceramente, eu não precisava agradá-lo e nem mesmo a rainha daquele lugar. Eles não gostavam que bruxas aparecessem em seu reino então só precisavam me mandar de volta pra casa que tudo ficaria bem. Nada de estresse. Era só chegar, contar o que aconteceu e voltar pra casa. Voltar para Harry.

Meu coração se contraiu, porque eu já sentia falta dele e dos meus amigos. Eu deveria estar aproveitando meus momentos depois de casada, mas estou aqui, longe dele. Era a pior coisa que poderia ter acontecido.

A carruagem finalmente parou, fazendo meu coração despencar dentro do peito. Por mais que tudo parecesse fácil na minha cabeça, eu estava morrendo de nervosismo por dentro. Não estava pronta pra enfrentar uma rainha. Horas atrás tinha tido uma conversa tensa e educada com a mãe de Harry e não queria repetir algo assim tão cedo.

—Desça, bruxa! —Colton murmurou, descendo e mantendo a porta aberta. Só então percebi que Scarlett já estava lá fora, aguardando.

—Meu nome é Sophia Wood! —Sibilei, um pouco frustrada. —Você não está feliz com minha aparição aqui, pois bem, eu também não estou! Então pare de me lançar esses olhares atravessados, porque quanto antes nos entendermos mais rápido eu vou embora daqui!

Ele me encarou um pouco surpreso, como se estivesse sem reação. Scarlett soltou uma risadinha, levando a mão aos lábios para conter a risada quando Colton a olhou. Por sorte ele ficou em silêncio, indicando que seguíssemos ele para dentro do castelo.

Colton nós guiou pelos corredores brancos e decorados com ouro, sem comentar absolutamente até parar na frente de duas grandes portas de madeira. Duas estrelas estavam paradas a postos ali, com as asas recolhidas atrás de si. Os dois me lançaram olhares curiosos, antes de se virarem e abrirem as portas.

Entramos em um imenso salão circular, que continha uma parede toda aberta, revelando uma varanda com a vista para montanhas e uma cachoeira. Colton parou no meio do salão, encarando o trono vazio acima de alguns degraus. Engoli o nó que se formou na minha garganta, vendo Scarlett me lançar um sorriso encorajador.

Olhei para a frente quando uma estrela se aproximou, ficando ao lado do trono. Usava um vestido chamativo de tom negro, que combinavam com a cor da sua pele e os olhos de diamantes.

—Vossa majestade Sybilla de Estela, a rainha do reino estrelas. —A mulher ao lado do trono proferiu, indicando a rainha com a mão estendida.

Portas foram abertas na lateral, revelando uma estrela com uma coroa brilhante na cabeça. Usava um vestido rose, volumoso e simples ao mesmo tempo, que deixavam a mostra seus ombros e o colar de diamantes no seu pescoço. Parece que as estrelas gostavam mesmo de ouro e diamantes.

Ela se sentou no trono, assentindo algo para a estrela ao seu lado, enquanto eu seguia o movimento de Scarlett e fazia uma reverência. Suas asas estavam recolhidas atrás dos ombros e eu me perguntei como não era desconfortável pra ela se sentar no trono com elas. Mas minha mente se apagou quando ela olhou para Colton, depois para Scarlett e depois pra mim.

—Sr. Colton, o que tem pra mim? —Indagou, se recostando no trono.

—A senhorita Scarlett enviou um comunicado ao reino mais cedo, vossa majestade. Ela disse que tinha uma visitante do seu interesse. —Colton começou, olhando de relance para Scarlett. —Eu fui checar a informação e encontrei a bru... senhorita Sophia Wood. —Ele coçou a garganta. —Ela diz não saber como vim parar aqui.

—Eu... —Abri a boca para falar, me encolhendo quando a rainha olhou pra mim. —Vossa majestade, lamento o transtorno que isso possa causar. Eu estava prestes a me casar. —Indiquei meu vestido. —Quando simplesmente apareci no meio da floresta, aqui neste lugar. Não faço ideia do que aconteceu.

—Bem... —A rainha maneou com a cabeça, não deixando transparecer se estava infeliz ou não com a minha aparição ali. —É meio óbvio, não é?

—O que é óbvio? —Indaguei, sem entender.

—Ninguém pode entrar no nosso reino, a não ser que uma de nós queira que alguém venha até aqui. O que, devo ressaltar, é estritamente proibido. —Ela se inclinou pra frente, olhando fixamente pra mim. —O que significa, srta. Wood, que alguém que conhece a senhorita usou uma lágrima de sangue e desejou as estrelas que isso acontecesse.

Continua...