Capítulo 45: Convenção das bruxas.

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Deixei Christian e Alec sozinhos, porque não queria mais ouvi-los falando sobre mim. Voltei para minha barraca, me sentindo um pouco cansada e frustrada. Tudo sobre Christian era um emaranhado de confusões e incertezas. Estava começando a sentir falta de casa, mas não queria e não podia ir embora sem ajudar a Sophia.

Me sentei na cama no chão onde eu estava dormindo, pensando no quanto minha mãe surtaria se soubesse onde eu estava e como eu estava dormindo e vivendo. Mas duvidava que eles já tivessem sido avisados sobre meu sumiço. Provavelmente os únicos que sabiam eram os pais de Christian.

—Isla já retornou e levou Alec com ela. —Christian entrou na barraca, me dando um susto. Olhei pra ele por cima do ombro, observando suas roupas amarrotadas e os cabelos fora do lugar. —Não sei onde eles vão, mas espero que dê certo.

—Vai dar. —Falei, mesmo que não estivesse tão confiante sobre isso. Christian se sentou na cama que ele dormia, do lado oposto do meu, olhando pra mim com uma expressão pensativa. —Queria poder fazer mais alguma coisa.

—Talvez a gente possa. Mas não temos poderes como todos aqui. —Ele deu de ombros, soltando um suspiro pesado e esfregando os cabelos. —A convenção das bruxas está acontecendo na vila. Talvez a gente pudesse tentar ir lá.

—Você me convidando pra ir até um local cheio de bruxas que não gostam da realeza? —Eu ergui as sobrancelhas, vendo ele rir. —Estou começando a achar que você está querendo se livrar de mim.

—Acredite, Maisie, eu daria minha vida pra proteger você. —Afirmou, me pegando completamente de surpresa. Aquelas palavras causaram um choque no meu coração, fazendo todo meu corpo se arrepiar. —Não gosto e não quero te colocar em risco, mas eu já entendi que tentar segura-la é impossível. Então se pretende ter alguma ideia mirabolante, me deixe ajudar e participar. Pelo menos vou estar lá pra te proteger se necessário, mesmo que você ache que não precisa.

Eu o encarei sem nem piscar, absorvendo cada palavra dele com mais intensidade do que eu desejava. Mas Christian parecia estar sendo sincero, o que causou outro choque no meu coração e o fez disparar dentro do meu peito.

—Ir até lá pode ser uma boa ideia. Não sabemos o que elas estão pensando agora com o sumiço da Sophia. O noivado havia amenizado as coisas, mas... —Eu mordi o lábio e balancei a cabeça. —Não podemos esquecer do que elas fizeram com Katie. Podiam ter de fato iniciado uma guerra entre nós e Velará.

—Só precisamos achar uma bruxa de bom coração que aceite nos levar até a vila. —Christian murmurou, e nós dois olhamos para a entrada da barraca, como se pudéssemos ver todo aquele acampamento por entre a lona.

[...]

Christian conseguiu convencer uma das bruxas a nos emprestar dois cavalos, já que nos levar diretamente até lá poderia causar problemas pra ela. Não sabia o que ele havia falado, mas pelos sorrisos doces que ela lançava pra ele, eu não havia gostado nem um pouco.

Ela nos indicou a direção que deveríamos seguir, antes de nos dois partirmos em direção a convenção das bruxas. Sabia que meu irmão já havia estado naquele lugar, quando todos os problemas com Velará começaram. Ele e Sophia havia sido presos naquele lugar e conseguiram fugir. Mas eu esperava conseguir entrar e sair sem problemas.

Ficamos em silencio todo o caminho, mas eu sentia os olhos de Christian em mim uma vez ou outra. Tinha quase certeza que ele estava pensando na conversa com Alec e estava começando a me perguntar o que haveria pra ele me contar. Mas não podia perguntar e deixar na cara que havia escutado tudo. Se ele quisesse me falar, teria que ser porque quer e não porque eu perguntei;

Fiquei aliviada quando finalmente chegamos, já podendo ouvir o som das conversas, das carroças e cavalos pelas ruas. Deixamos os cavalos escondidos na floresta e seguimos a pé pelas ruas largas e lotadas naquele horário da noite.

—Ela disse que a construção ficava depois da ponte. —Christan apontou para a ponte de pedra que atravessava o imenso rio que cortava as terras bruxas em duas. —Temos que ir pra lá.

—Não acredito que estamos fazendo isso. —Sussurrei, sentindo Christian segurar minha mão e entrelaçar nossos dedos, fazendo meu coração disparar dentro do peito, até chegar a minha boca, enquanto um frio enorme tomava conta da minha barriga ao sentir seu polegar acariciar minha pele.

—Vamos lá. Só precisamos ficar junto e se algo acontecer corremos de volta para onde estão os cavalos. —Ele me encarou com uma expressão carinhosa que me deixou sem fôlego, enquanto parecia estar cheio de coragem pra fazer aquilo. Eu também estava, porque nunca havia sido medrosa quando o assunto era viver uma aventura. Agora eu estava vivendo uma e não imaginava que ele estaria ao meu lado.

Seguimos a diante, tomando o cuidado de andar com as cabeças baixas para que não nos reconhecessem, apesar de eu achar isso difícil com as roupas que usávamos. Meu cabelo era um emaranhado de fios loiros precisando de horas com uma escova. Mas sabíamos que precisávamos ter cuidado.

A enorme construção não demorou a aparecer, com bruxas e bruxos entrando e saindo de lá de dentro, com expressões nada gentis como aquelas do acampamento. Christian e eu trocamos olhares antes de irmos até lá. Demos a volta pelo lugar, até encontrar uma janela baixa o suficiente para que pudéssemos pular.

O cômodo que entramos estava abarrotado de caixas de madeira até o teto, com um cheiro forte de ervas que fez meus lábios se enrugarem em reprovação. Christian agarrou minha mão antes que eu tivesse tempo de dar uma olhada melhor e me puxou para fora dali. O corredor estava completamente vazio, mas escutávamos passos e conversas apressadas e altas.

Caminhamos pelos corredores na direção das conversas, até chegarmos a um corredor que dava para duas portas de madeira. Uma delas estava fechada e a outra aberta, revelando um salão imenso lotado de bruxas. Apertei a mão de Christian no automático, porque me lembrei da história que Harry havia me contado. Quando eles foram trazidos até esse lugar e julgados.

—É aqui. —Ele sussurrou, enquanto eu balançava a cabeça positivamente. As vozes estavam abafadas e elas falavam em uma língua diferente da nossa. A antiga língua das bruxas que apenas elas entendiam. Me lamentei por Noah não estar ali, apesar do tom de voz delas deixarem claro que não estavam felizes com o teor da discussão.

—Eu não entendo o que vocês dizem! —Uma voz alta e clara fez toda a discussão se encerrar.

Eu e Christian nos arrastamos até ficarmos contra aquela porta ainda fechada, antes de espiarmos pela outra aberta o inteiro do salão lotado. No centro de todo salão, havia uma mulher de longos cabelos brancos chamativos. Não loiros, mas brancos como a neve, usando um vestido azul reluzente.

—Mas eu estou aqui para ajudá-las a conseguirem seu lugar na realeza. —A mulher sorriu para todas aquelas bruxas, enquanto meu corpo era tomado por uma sensação estranha.



Continua...

O Reino das Estrelas / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora