Capítulo 17: Eu vou ficar aqui.

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Maisie

O príncipe me observou um pouco confuso, enquanto eu abraçava meu próprio corpo, um pouco sem graça. Não estava esperando que ele fosse aparecer ali atrás de mim. Na verdade, não pensei muito em nada que envolvia ele se preocupando comigo, porque era estranho.

—O que você precisava falar comigo? —Indagou, desviando os olhos de mim, ao mesmo tempo que corava um pouco ao ver que eu estava usando uma simples camisola, que nem era minha. Vi ele engolir em seco, enquanto meu próprio rosto esquentava.

—Pra começar, você sabia que nossas mães já estão preparando o casamento? —Questionei, deixando claro meu tom infeliz. Ele balançou a cabeça que sim, antes de negar com a cabeça, me deixando confusa.

—Fiquei sabendo esses dias. Não foi ideia minha, pode acreditar. —Afirmou, me fazendo bufar e balançar a cabeça negativamente. Ele se virou para me encarar, parecendo um pouco ofendido. —Veio aqui apenas por isso? A ideia de se casar comigo é tão terrível assim pra você?

—Eu não disse isso! —Exclamei, fazendo uma careta. —Pensei que não quisesse se casar comigo também.

—Eu nunca falei algo parecido. —Rebateu, comprimindo os lábios. —Eu disse que queria me casar, mas não com alguém que se sentisse na obrigação de fazer isso comigo. E nós tínhamos um acordo, eu sempre cumpro meus acordos. Não tenho culpa se nossas mães resolveram fazer isso.

—Bem, seu rei não me deu outra alternativa, não é? Caso não se lembre, ele praticamente me chantageou quando vim até aqui da outra vez. —Afirmei, vendo ele encolher os ombros de vergonha quando se lembrou daquilo. —Eu não tenho nenhum problema com você, vossa alteza. Mas não desejo me casar com absolutamente ninguém no momento.

—Certo. —Ele esfregou a testa, parecendo cansado. As roupas molhadas estavam deixando um rastro pelo chão de madeira. —E você veio até aqui...?

—Porque eu queria saber se você sabia sobre isso. E também... porque estava cansada de ficar olhando vestidos e tomando chá enquanto a Sophia está perdida por aí. —Falei, baixando o tom de voz, porque estava me sentindo cansada também. —As vezes acho que não nasci pra ser princesa. Isso tudo está me mostrando que odeio ficar parada esperando alguém resolver a situação.

—Entendo o que quer dizer. Mas não acho que exista algo que você possa fazer. —Ele olhou pra mim. Olhou pra mim de verdade, como se pudesse ver muito mais do que uma princesa. —Estamos todos fazendo buscas, então...

—Eu sei, eu sei. Eu só pensei que... —As palavras morreram, porque eu não sabia o que dizer. Achei que indo até ali poderia conseguir alguma coisa. Qualquer coisa que fosse, mas agora estava percebendo que não havia nada ali pra mim também. Então, por que minha intuição me guiou até ali?

—Alteza? —O príncipe chamou baixinho, me encarando com curiosidade. —Você está bem?

—Estou sim. Acho que é só o cansaço da viagem longa. —Afirmei, esfregando minhas bochechas para espantar a sensação ruim. —Olha, nós podemos conversar amanhã cedo? Eu não estou vestida apropriadamente, você está todo molhado e estamos no quarto de uma estalagem no meio do nada. Você pode voltar para o reino ou sei lá o que pretende fazer.

—Eu vou ficar aqui. Não vou deixa-la sozinha nesse lugar no meio da noite. —Ele soltou uma respiração pesada, se direcionando até a porta. —Amanhã cedo iremos para o reino.

Ele abriu a porta e saiu do quarto, me permitindo ver a expressão carrancuda do guarda lá fora. Soltei um suspiro pesado quando a porta se fechou e eu fiquei sozinha de novo. Só ai percebi o quão quente meu corpo estava, ao mesmo tempo que meu coração martelava dentro do peito.

[...]

Não consegui voltar a dormir, porque pensar que ele estava em alguns dos quartos perto do meu era demais pra mim. Fiquei deitada na cama, me virando de um lado para outro sem saber o que deveria fazer. Estava começando a me sentir estranha.

Me sentei na cama quando ouvi o som de algo batendo do lado de fora me assustou. Quando fiquei de pé e olhei pela janela, não vi nada além da escuridão da noite e uma garoa fina que batia contra a janela. O som se repetiu, como uma porta batendo.

Fiz uma careta, caminhando até a porta na ponta dos pés. Quando cheguei até a porta, a abri lentamente, esperando encontrar um dos meus guardas ali. Mas não havia absolutamente ninguém no corredor. As tochas estavam acesas e iluminavam o corredor vazio e silencioso.

O barulho veio de novo, mais alto e de uma forma que me assustou e me fez dar um pulo para dentro do quarto. Meu coração disparou dentro do peito e eu senti minha boca ficar seca quando ouvi vozes vindas do andar de baixo. Sai para o corredor, olhando para as portas dos quartos tentando imaginar em qual deles o príncipe poderia estar.

Caminhei até uma dela, girando o trinco devagar e a abrindo, mas o quarto estava completamente vazio. Fiz isso com as outras, sentindo meu coração chegar a boca quando encontrei os guardas caídos no chão de cada cômodo, como se tivessem desmaiado. Corri pelo corredor, abrindo cada porta e encontrando a mesma cena.

—Não, não, não, não... —Sussurrei, abrindo a última porta e encontrando dois guardas do reino de Altadena caídos no chão também. Provavelmente os que vieram com o príncipe. —Merda, merda, merda!

Encarei o final do corredor, sentindo meu sangue gelar com o barulho de passos pesados e apressados pela escada. Pensei em voltar correndo para o meu quarto, mas uma mão agarrou meu braço e me puxou para o cômodo que estavam os guardas de Altadena. A porta se fechou e eu fui presa contra ela, arregalando os olhos quando o príncipe tampou minha boca com a mão e fez um sinal com o dedo para que eu ficasse em silêncio.

Balancei a cabeça, com meu corpo tremendo de susto. O príncipe me soltou, agarrando minha mão e me afastando da porta. Observei ele ir até a cômoda e empurra-la para frente da porta, impedindo que qualquer um entrasse ali. Então ele foi até a janela, abrindo-a com cuidado e olhando para a noite lá fora.

—O que está havendo? —Indaguei, indo até o mesmo quando ele estendeu a mão pra mim.

—Não sei quem são. Mas nossos guardas estão todos no chão e não há mais ninguém aqui. —Ele tirou o casaco que usava e passou por cima dos meus ombros. —Eu acho... que os donos da estalagem entregaram a gente.

—Mas... —Quase me joguei em cima dele quando bateram na porta. Ou melhor dizendo, a esmurraram com força, tentando abri-la de qualquer jeito.

—ABRAM A PORTA! —A voz masculina gritou, enquanto as pancadas na mesma se tornavam mais frenéticas e fortes. —ABRAM AGORA!

Arregalei meus olhos quando o príncipe passou uma perna pelo parapeito da janela, me puxando para fazer o mesmo.

—O que está fazendo? —Exclamei, olhando para a altura até o chão.

—É isso ou os homens naquele corredor. Você pode escolher. —Afirmou, enquanto meu coração martelava dentro do peito junto com as batidas e os gritos vindos da porta. —Alteza, temos que ir agora! Podemos pegar os cavalos e ir para o reino. Não está tão longe daqui.

—ABRAM! —A voz prosseguiu e a cômoda tremeu com o baque forte contra a porta. —Vamos lá, altezas, se cooperarem podemos ser gentis com vocês dois. Principalmente com a princesa.

Meu rosto esquentou quando ouvi aquilo, enquanto o medo deixava meu corpo trêmulo. Segurei a camisola e passei a perna pela janela, segurando a mão do príncipe quando ele olhou pra mim. Pulamos ao mesmo tempo que outra pancada forte atingia a porta, deixando claro que se eles não pudessem abri-la, iriam destruí-la.

Mas nós já estávamos no chão, encharcados até os ossos e com lama pelo corpo todo. Ele ficou de pé e me puxou para cima, agarrando minha mão quando disparamos em direção ao celeiro atrás dos cavalos.




Continua...

O Reino das Estrelas / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora