Maisie
Estávamos em terra firme muito antes do que esperávamos. O porto das terras bruxas estava lotado naquele horário da noite, quando fomos literalmente jogados para fora do navio pelo capitão e os marujos.
Christian havia tentado falar com o capitão quando percebemos pra onde estávamos indo, mas quando ele disse que era o príncipe de Altadena e eu a princesa de Del Mar, o homem apenas gargalhou como se tivéssemos contado a melhor das piadas.
Tudo bem que estávamos em péssimo estado, com nossas roupas simples e sujas, mas ninguém seria capaz de mentir sobre algo assim. Pelo menos eu acho que não. Ele deveria ter nos dado um pouco de credito.
—E agora? —Indaguei, olhando para o príncipe, enquanto o navio em que estávamos se afastava das terras bruxas após ter descarregado. Sabíamos que eles iriam voltar para o continente, em direção a Del Mar. —Deveríamos tentar de uma forma mais tradicional, sabe? Talvez pagando por uma passagem em um navio.
—Ah, e você por acaso tem dinheiro? —Questionou, com aquele tom que deixava claro que ainda estava bravo comigo. —Porque tudo que eu tinha ficou na estalagem e acho que você também.
—Por que você está tão bravo? Não é como se eu tivesse desejado que isso acontecesse. —Afirmei, me sentindo frustrada pelas últimas horas, já que quando não estava me evitando, estava sendo frio e duro comigo.
—Porque você apareceu no meu reino, porque achava que eu estava quebrando nosso acordo. —Exclamou, se virando pra mim com o rosto vermelho. —Como se eu não tivesse palavra alguma. Sinceramente, eu prefiro passar a vida sozinho a obrigar alguém a se casar comigo!
—Isso nem é mais sobre o nosso noivado! —Meus lábios tremeram de raiva e meu sangue esquentou. —Pensei que nós dois já havíamos nos acertado quanto a isso. Qual é a droga do seu problema, hein? Seu ego é grande demais pra aceitar que alguém não quer se casar com você?
—Ah, por favor! —Ele soltou uma risada, passando as mãos furiosamente pelos cabelos. —Não sou eu que me acho bom o suficiente pra me casar com alguém.
—Eu nunca pensei isso! —Meu rosto esquentou, enquanto algo amargo tomava conta da minha boca. —Essa nunca foi a questão. Eu não queria me casar por obrigação. Eu queria poder escolher, assim como meu irmão escolheu a Sophia! Eu nunca pensei que fosse mais do que você.
—Bom, mas algumas vezes parecia que sim. —Ele soltou um suspiro pesado, com a voz ficando baixa, me encarando como se estivesse magoado. —Talvez você ainda não tenha percebido, Maisie, mas isso aqui não é um conto de fadas onde você quebra as regras e tudo fica bem no final. Somos parte da realeza e querendo ou não temos obrigações perante a isso e ao povo. Seu irmão pode ter escolhido com quem se casar, mas eu vi de perto o quão complicado isso foi pra ele. Até mesmo agora, ele está sofrendo as consequências por isso. —Ele desviou os olhos de mim, como se não suportasse me encarar. —Eu não deveria ter feito aquela proposta pra você, porque se não entende isso, então não deveria ser parte da realeza.
Meus lábios se abriram quando ouvi aquilo, soltando o ar tão lentamente que pensei que pararia de respirar. Vi logo de cara que ele se arrependeu de dizer aquelas palavras no exato momento que elas saíram da sua boca, quando percebeu o quanto elas haviam me magoado. Mas ele já havia as dito e não poderia fazer nada para mudar isso.
—Maisie... —Ele tentou me tocar, mas eu ergui as mãos e dei um passo para trás, sentindo algo se partir dentro do meu peito. Magoa e raiva.
—Nosso acordo está acabado, entendeu? Acordo, noivado falso ou o que quer que isso seja... —Soltei o ar com força, sentindo as lágrimas queimando nos meus olhos. Mas não iria chorar na frente dele. —Está acabado.
—Eu não quis dizer isso. —Afirmou, me seguindo quando virei as costas e sai andando por aquelas ruas lotadas de bruxas, humanos e outros seres. —Maisie, me desculpe. Eu não quis dizer isso. Por favor, me perdoe.
—Não importa. Pode me culpar o quanto quiser, eu só quero ir pra casa e esquecer tudo isso. —Arranquei os brincos da minha orelha, sentindo minha garganta arder e meu peito queimar. Tirei o colar do meu pescoço e depois os anéis que eu estava usando.
—Maisie, por favor, me perdoe. —Continuou, me fazendo fechar os olhos com força e respirar fundo. Parei de andar e me virei, dando de cara com ele. Seus olhos estavam repletos de calma e hesitação. —Eu não queria dizer aquelas coisas.
—Tudo bem. Não era mentira de qualquer forma. —Peguei a mão dele, colocando as coisas ali, observando ele abaixar os olhos para encarar as joias. —Pode vendê-las e conseguir duas passagem pra nós dois em um navio. Tenho certeza que são o suficiente.
—Mas são suas e...
—São apenas joias, Christian. Tenho baús cheios delas nos meus aposentos. —Afirmei, voltando a andar e o deixando para trás. —Apenas as venda.
[...]
—Espere aqui, está bem? Não vou demorar. —Prometeu, assim que paramos na frente da barraca. A bruxa lá dentro, com cabelos trançados e pele negra estava nos observando com curiosidade, como se esperasse pra ver se iríamos ou não entrar ali. Isso me fez ficar hesitante, porque tudo que eu menos queria era mais problemas. Ainda mais naquele lugar.
—Tudo bem. —Falei, vendo Christian engolir em seco, percebendo o quão seca eu estava sendo. Mas não conseguia esquecer o que ele havia dito pra mim.
Mas ele se virou e entrou na barraca cheia de joias e bijuterias. Tinha certeza que não conseguia nem metade do que as joias valiam de fato, mas eu também não me importava com isso. Faria qualquer coisa para voltar pra casa agora. Ele sumiu atrás da lona da barraca e eu me virei, observando a rua movimentada.
Aguardei por alguns minutos, começando a me sentir impaciente quando ele não voltava. Olhei para a barraca, vendo que ele ainda estava fora de vista, assim como a vendedora. Algumas bruxas passavam por ali e me olhavam de cima a baixo, me fazendo engolir em seco. Tinha certeza que mesmo que ninguém nos reconhecesse, ainda era arriscado ficar ali.
Me virei e caminhei em direção a barraca, empurrando a lona quando entrei. Nem ele e nem a bruxa estavam ali. Atrás de uma mesa de madeira estava a saída da barraca, que dava para o que parecia ser outra barraca.
—Christian? —Chamei, dando um passo para trás de susto quando aquela bruxa apareceu, erguendo as sobrancelhas pra mim. —Desculpe, eu só queria...
—Seu príncipe está bem. —Afirmou, fazendo as palavras se engasgarem na minha garganta. Ela sorriu, indicando que eu a seguisse. —Vocês não estavam discutindo especificamente baixo mais cedo.
—Por favor, nós só queríamos vender as joias e ir embora. —Murmurei, seguindo ela até a outra barraca, que estava cheia de caixas e sacos. —Não queremos problemas.
—Não se preocupe, nos também não. —Ela sorriu pra mim, passando por baixo da lona, por onde eu podia ver o início da floresta.
Segui ela, vendo que haviam carroças ali, com outras bruxas e bruxos. Christian estavam ali, conversando um um homem de pele negra e olhos incrivelmente amarelos. Ele olhou na minha direção, mas continuou prestando atenção no que o bruxo dizia.
—Vocês não vão conseguir um navio de volta pra casa hoje. Está havendo uma convenção de bruxas e não é seguro ficarem andando por aí. —A bruxa prosseguiu, me fazendo olhá-la. Vi que ela me observava com atenção e curiosidade. —Você é princesa de Del Mar, não é? —Quando assenti, ela indicou uma das carroças. —Então suba. Tem alguém com quem você vai querer conversar.
Continua...
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O Reino das Estrelas / Vol. 2
FantasyLIVRO 2 - A DIMENSÃO DAS ESTRELAS Sophia e Harry tinham absoluta certeza de que todos os seus problemas tinham sido resolvidos. A tensão com as bruxas e a possível guerra foram esquecidas com o noivado dos dois. Sophia estava pronta para dizer "sim...