Sophia
Tinha alguma coisa muito, muito errada dentro de mim. Como se algo tivesse entrado nas minhas veias, correndo junto com meu sangue, tentando se misturar com ele. Cada parte latejava e queimava, principalmente meus pulsos e braços. Não conseguia mover meus dedos, fechar e abrir a mão. Eu estava dura. Dolorida.
Abri os olhos, sentindo minhas pálpebras tremerem pelo cansaço. Minha cabeça estava pesada, zunindo sem parar nos meus ouvidos. Minha bochecha estava pressiona contra o chão frio e úmido. Tentei erguer a cabeça. Tentei olhar ao redor. Mas cada tentativa de me mover parecia acender brasas nos meus músculos. Soltei um chiado de dor, puxando o ar com força.
—Sophia? —A voz de Alec soou apressada, um pouco afastada. —Sophia? Você consegue me ouvir? Consegue se mexer?
—Tudo... tudo dói. —Afirmei, com cada palavra saindo dolorida, custando cada puxada de ar. —Meu corpo está... está estranho. Tem algo de errado.
—Eu sei, eu sei... são os braceletes. Não servem apenas para incapacitar os poderes, mas o corpo em si. —A voz dele soou tão dolorida, como se ele estivesse sentindo o mesmo que eu. Talvez não naquele momento, mas quando fizeram o mesmo com ele. —Ele deixou bem apertada nos seus braços, para que a dor seja o suficiente para que você não deseje sequer se mover.
—Quero matá-lo. —Afirmei, e não estava brincando. Poderia fazer isso com minhas próprias mãos. Alec soltou uma respiração pesada, enquanto eu usava cada gota de força que ainda estava no meu corpo para me mexer. Primeiro ergui minha cabeça, vendo que estava em uma cela. Uma parede de pedra atrás de mim e outras feitas feitas de grades de ferro.
Quase gritei de dor quando espalmei minhas mãos no chão, erguendo o tronco. Meus olhos ficaram embaçados pelas lágrimas, enquanto minha carne latejava ao redor daquele bracelete. Consegui me sentar, antes de sentir minha cabeça ficar zonza pelo esforço. Alec estava em outra cela, ao lado da minha, escorado nas grades com um dos braços entre duas delas. A mão estendida na minha direção.
Com o suor escorrendo pela minha testa, me arrastei até onde ele estava, com a saia do vestido se enroscando e cada imperfeição do chão. Então eu me escorei nas grades junto com Alec, enquanto nossas mãos se enroscavam uma na outra. Nossos braceletes se tocando. Idênticos.
—Onde ela está? —Indaguei, engolindo o nó na minha garganta. Alec balançou a cabeça negativamente, como se quisesse deixar claro que não fazia ideia.
—Por que fez isso? —Indagou, enquanto meu peito subia e descia. Meu coração estava contraído, doendo a cada batida. Meu sangue ainda estava quente, com aquela coisa estranha dentro de mim.
—Porque você é meu amigo. —Afirmei, girando o rosto para olhar pra ele. —Porque você disse... você disse que se houvesse alguma chance de sair daqui, imploraria por ajuda. Eu podia ajudar, Alec. Eu podia e fiz, porque não podia ir embora, viver uma vida feliz ao lado de Harry, sabendo que Scarlett estava aqui se sentindo solitária e que você... você poderia viver mais um século preso aqui. Sendo atormentado e torturado por esses braceletes.
Os dedos dele apertaram os meus, enquanto seus olhos prateados eram como duas luas cheias.
—Você foi mais espetar que eu, pelo menos. —Murmurou, parecendo soar tenso. —Obrigada, Sophia. Obrigada por ser minha amiga.
—Vamos sair daqui. —Prometi a ele. —Vamos sair daqui juntos.
[...]
Não sei quanto tempo ficamos ali, apenas escorados naquelas grades. Vez ou outra eu arrastava a mão pela saia do vestido, sentindo algo pinicar na pele da minha coxa. Aquilo me fazia suspirar e relaxar um pouco, enquanto eu pensava no que fazer para nós livrar daquilo.
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O Reino das Estrelas / Vol. 2
FantasiaLIVRO 2 - A DIMENSÃO DAS ESTRELAS Sophia e Harry tinham absoluta certeza de que todos os seus problemas tinham sido resolvidos. A tensão com as bruxas e a possível guerra foram esquecidas com o noivado dos dois. Sophia estava pronta para dizer "sim...