Capítulo 15: Braceletes.

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Meus dedos tremeram ao segurar o papel, enquanto a ansiedade fazia meu coração martelar dentro do peito. Li aquilo várias vezes, sentindo as lágrimas borbulhando nos meus olhos pela saudade.

—Sophia, que foi? —Scarlett segurou meus ombros, observando meu rosto com uma expressão assustada. —Sophia?

—É do Harry. Elas trouxeram pra mim. —Afirmei, entregando o papel a ela, enquanto via as fadinhas se sentarem nos meus ombros, parecendo mais felizes do que nunca. —Ele sabe que eu estou aqui. Preciso... preciso voltar pra casa.

Scarlett segurou o papel e o leu, enquanto Alec se aproximava para ver também. Fiquei encarando as fadinhas, imaginando se elas poderiam me ajudar de alguma forma ou não, já que haviam saído de Del Mar até ali para me entregar um recado de Harry.

—Nunca vi essas fadinhas ajudarem ninguém. —Alec ergueu os olhos do papel para elas.

—E elas podem entrar em Estela e sair quando quiserem. —Afirmei, estendendo a mão aberta pra cima, deixando que uma delas se sentasse na palma da minha mão.

—Elas são feitas de magia. Todas os tipos de fadas são. —Scarlett me devolveu o papel, abrindo um sorriso radiante. —Ele ama muito você. Deu pra perceber isso.

—Eu também. —Meu coração disparou dentro do peito, enquanto eu sentia a saudade me consumindo. —Será que... —Olhei para as fadinhas que tinham voltado a voar ao meu redor, algumas puxando meu cabelo de leve. —Será que vocês podem me ajudar a encontrar uma lágrima de sangue?

Elas moveram a cabeça que sim, começando a conversar umas com as outras, me fazendo abrir um sorriso ao mesmo tempo que ficava confusa, seria mil vezes mais fácil se eu pudesse entender o que elas diziam.

—Parece que você tem facilidade em fazer amigos. —Alec murmurou quando as fadinhas começaram a se afastar, acenando para que a seguíssemos. Me virei pra ele, erguendo as sobrancelhas enquanto tinha um sorriso tão enorme quanto os que Scarlett estava acostumada a abrir.

—Então você é meu amigo? —Tombei a cabeça de lado, ouvindo uma gargalhada de Scarlett enquanto ela se afastava até seu cavalo, parecendo se divertir com a expressão surpresa que se abriu no rosto do peregrino.

—Foi só um comentário. —Ele balançou a cabeça, me ajudando a montar no meu cavalo de novo.

—Mas nós somos amigos. —Comentei, olhando pra ele com as sobrancelhas erguidas. —Não somos?

—Você sabe que está parecendo a Scar agora, não é? —Ele montou no seu cavalo, olhando pra mim com aquela expressão séria.

—Isso foi um elogio? —Scarlett olhou pra trás com uma expressão confusa, quando começamos a seguir com nossos cavalos.

—Claro. —Alec murmurou, parecendo hesitante. —Sua animação é... contagiante.

—Sim, da pra ver o quão contagiante é pra você. —Rebati, soltando uma risada quando ele abriu as asas e assustou meu cavalo, e obrigando a segurar as rédeas com força. —E você a chamou de Scar.

—Vamos atrás das fadinhas, antes que elas sumam de vista. —Scarlett exclamou, fazendo o cavalo ir mais rápido. Abri um sorriso e fiz o mesmo, ansiosa para voltar pra casa.

[...]

Estava sentada ao redor da fogueira, ouvindo o som de uma coruja cantando ao longe. O som da floresta do reino era muito melhor do que o som dos monstros naquele pântano. Scarlett estava dormindo ao meu lado, com a cabeça no meu colo. Alec estava do outro lado, escorado em uma árvore enquanto olhava para as chamas. As fadinhas estavam dormindo sobre a saia do meu vestido, brilhando de uma forma que pareciam estrelas também.

—Ela vai se sentir solitária quando você for. —Alec murmurou, assim que percebeu que eu o observava. Olhei para Scarlett, passando a mão nos cabelos brancos e rosas dela.

—Eu não posso ficar aqui. Não é meu lugar. Mas isso não significa que estou feliz com nossa separação. —Afirmei, umedecendo os lábios com a língua. —Vou sentir falta dela quando for. Vou sentir falta dos dois.

Ele riu sem humor, balançando a cabeça negativamente, enquanto se ajeitava até se deitar também, pronto para dormir.

—Seu coração bom ainda vai lhe meter em problemas, Sophia. —Alec declarou, e eu acabei dando de ombros, porque não me importava de me meter em problemas se estivesse fazendo a coisa certa.

—Queria que houvesse uma forma de continuar a ver vocês quando eu voltasse. —Falei, sentindo meu coração doer ao olhar para Scarlett e a imaginar com outras estrelas que a tratavam mal e com indiferença.

—Mas não existe. —Ele balançou a cabeça negativamente, se sentando. —Não faça nada impensado, entendeu? Lembre-se do que eu disse a você, as estrelas podem ser seres de magia pura, mas isso não os faz ser confiáveis.

Eu o encarei por longos segundos, observando a expressão dura dele, antes de puxar as mangas da jaqueta e da camisa, revelando os dois braceletes de metal que estavam presos nos seus punhos. Meu coração parou de bater e meu sangue gelou quando vi que estavam apertados o suficiente para cortarem a pele e entrarem na carne do seu braço. E pela forma funda que estavam nos seus punhos, estavam ali a muito tempo.

—O que é isso? —Sussurrei, soltando uma respiração pesada, enquanto sentia algo quente e desagradável na boca do meu estômago.

—São braceletes criados pela magia das estrelas. Impedem que eu use meus poderes. —Afirmou, escondendo os braceletes, enquanto eu tentava esconder todo o horror que ele deveria ver no meu rosto. O quanto deve ter sido dolorido pra ele quando colocaram aquilo. O quanto deveria machucar até hoje. —O antigo rei das estrelas colocou eles em mim assim que pisei aqui. A atual rainha as mantém, as apertando a cada ano que eu completo aqui, como um lembrete de porque eu estou aqui.

Olhei pra ele sem conseguir emitir uma única palavra, enquanto Alec me encarava. Ele se ajeitou e se deitou de novo, se virando de costas pra mim para dormir. Fiquei olhando para os ombros e as asas negras, que subiam e desciam enquanto ele respirava de forma lenta. Mas a minha respiração estava rápida e forte, fazendo meu peito doer.

Desviei os olhos dele para Scarlett, percebendo que a maioria dos humanos nos outros reinos ainda reverenciam as estrelas, mesmo que metade delas não mereça nem um pingo disso. Meu coração se apertou ainda mais, enquanto eu começava a sentir uma sensação horrível. Queria ajudar Alec. Queria que ele pudesse sair dali para se juntar com sua espécie como ele deseja.

—Uma lágrima de sangue e um pedido. —Murmurei, olhando na direção dele. —Talvez exista um jeito de ajudar a todos não.



Continua...

O Reino das Estrelas / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora