Capítulo 7: Antepassados.

737 155 79
                                    

Fiquei de pé, olhando para aquele rapaz que não tinha absolutamente nada de parecido com as estrelas. As asas atrás dele eram iguais, mais com um tom negro como asas de corvos. Sua pele era clara, com os olhos prateados e os cabelos negros como as asas nas suas costas. E ainda havia as duas pontas do chifre que surgiam entre os fios de cabelos escuros.

Não sei se era a magia presente naquele lugar. Mas por mais surreal que a aparência dele fosse, havia algo de muito belo em suas feições. Não era nada parecido com o que eu já havia visto em Londres ou quando vim parar na dimensão das estrelas. Ele era lindo de uma forma única e delicada.

—É bom não ser o único odiado por aqui, só pra variar. —Alec murmurou assim que parou na nossa frente, acenando com a cabeça pra mim e eu abri um sorriso curto. —Uma bruxa? Isso é... diferente.

—Por que? —Indaguei, olhando de Scarlett para Alec. Aquele lugar estava se tornando mais estranho a cada segundo. Primeiro eu ia parar no reino das estrelas, no meio de seres mágicos e sem conseguir voltar pra casa. Agora conhecia um peregrino. E eu nem sei o que diabos é um peregrino.

—Ah... —Scarlett soltou uma risadinha. —É uma longa história. Mas... Alec tem um barco e pode nos levar até o pântano. Ele é o único por aqui que eu conheço e que teria coragem o suficiente pra entrar lá.

Olhei pra ele, erguendo as sobrancelhas.

—Eu já estou aqui a tanto tempo, que morrer seria lucro. —Deu de ombros, me deixando ainda mais confusa. Ele se virou, caminhando em direção a floresta. —Venham, temos um longo caminho.

Scarlett seguiu ele sem pestanejar, parecendo animada como se fôssemos fazer um piquenique na floresta, enquanto eu olhava ao redor com uma careta. Não sabia o que pensar sobre aquele lugar e aquelas estrelas. Não é por que são seres mágicos que realizam desejos que significa que são boas pessoas.

Com uma respiração pesada e o coração trovejando dentro do peito, caminhei atrás deles para dentro da floresta, querendo achar logo uma lágrima de sangue e voltar pra casa.

[...]

O caminho pela floresta durou alguns bons minutos, até chegarmos a uma parte mais úmida e fria da floresta. Havia uma pequena cabana no meio das árvores, com fumaça saindo de uma chaminé. Na frente da casa, havia um montinho de lenhas cortadas e um machado preso em um tronco de árvore. Além dele, um imenso rio que surgia e desaparecia no meio da floresta, onde um barco estava amarrado a um deck de madeira.

—Alec mora aqui. —Scarlett falou, quando percebeu minha curiosidade com o lugar. Olhei pra Alec, vendo ele subir as escadas da varanda da cabana e sumir lá dentro.

—Sozinho? —Indaguei, vendo Scarlett balançar a cabeça que sim. —A quanto tempo ele está aqui?

—567 anos. —Afirmou, fazendo meu queixo cair. Scarlett soltou uma risada e indicou a cabana com a cabeça. —Peregrinos são imortais, Sophia.

—E quantos anos ele tem? Eu pensei que... sei la, 23 ou 24. —Murmurei, ainda processando aquela informação. Era o primeiro ser imortal que eu conhecia, não tinha como não ficar surpresa.

—682 anos. —Scarlett soltou uma risadinha, parecendo se divertir com a minha expressão de choque. —Quer saber porque ele ficou surpreso por você ser uma bruxa e estar aqui? —Indagou, e eu balancei a cabeça na mesma hora. Queria saber de muitas coisas. —Os peregrinos são descendentes diretos das estrelas e das bruxas.

—Espere... como assim? Seus antepassados são filhos de uma união das estrelas com as bruxas? —Falei, soltando um suspiro pesado ao ver Scarlett assentir.

Lembrei de todas as coisas que Noah e Harry haviam me falado sobre as estrelas, sobre quando elas vinham para os outros reinos, antes de simplesmente desaparecerem. Me perguntei se aquela era a verdade por trás do sumiço delas. Estava pronta para perguntar isso para Scarlett e também o motivo de Alec estar ali, mas ele saiu da cabana, indicando o barco.

—Vamos? —Chamou, carregando uma bolsa consigo. —O caminho até o pântano não é longo, mas isso não significa que não vamos ter problemas até chegar lá. O que pode nós tirar algumas horas.

Scarlett me puxou em direção ao barco, enquanto Alec soltava a corda que prendia o mesmo ao deck. Subi primeiro, sentindo o barco balançar sobre a água. Scarlett subiu logo depois e Alec por último, empurrando o barco para longe do deck.

—Não é mais rápido e menos perigoso ir voando? —Indaguei, me sentando na ponta e olhando para a água escura ao redor.

—Não vamos conseguir achar uma lágrima de sangue se estivermos voando a cima das árvores. —Scarlett afirmou, comprimindo os lábios no primeiro sinal de nervosismo. —Por mais que as águas sejam perigosas, é nossa melhor opção.

Me virei para Alec, que estava balançando o remo para o barco se movimentar. Ele estava calmo e parecia absorto nós próprios pensamentos. Seus olhos prateados averiguavam cada partícula daquele lago com muita atenção.

—O que é um peregrino? —Indaguei, querendo retornar ao assunto de antes. Ele tirou os olhos das águas e se virou pra mim.

—Somos seres ligados a magia, como as estrelas. Só que usamos ela de uma forma diferente. Podemos conjurar, criar e remodelar qualquer coisa ao nosso redor, dependendo da quantidade de magia disponível no ambiente. —Alec explicou, indicando a floresta ao redor. —Mas diferente das estrelas, temos a eternidade ao nosso lado.

—Por que está aqui? A outros peregrinos em Estela? —Indaguei, vendo ele balançar a cabeça negativamente.

—Eu sou o único. —Afirmou, voltando a olhar ao redor. —Fiz algo que não deveria e as estrelas me trouxeram pra cá. Estou preso aqui desde então.

—E por que não...

—As estrelas estão proibidas de realizar qualquer desejo meu, não importa quantas lágrimas de sangue eu tenha em mãos. —Ele não esperou eu terminar de perguntar para responder. —Estou preso aqui, Sophia. Mas não como você. Não posso ir embora.

—E por que me ajudar? —Indaguei, me sentindo um pouco mal por ele, mesmo sem saber ao certo o que ele havia feito para ter ido para ali.

—Porque se de alguma forma eu pudesse sair daqui, eu iria implorar por quem quer que fosse por alguma ajuda. —Ele soltou uma respiração pesada. —Então não posso não ajudar você, quando está presa aqui como eu e tem a chance de sair



Continua...

O Reino das Estrelas / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora