Capítulo 36: Não quero ajuda de uma bruxa.

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Sophia

Subi as escadas praticamente correndo, tropeçando nos degraus antes de empurrar a porta de madeira e entrar naquele jardim sobre o castelo. Tudo ainda estava florido e muito vivo, enquanto a luz da lua e das estrelas  infiltrava pelas paredes e pelo teto de vidro.

Caminhei pelo meio das mesas cheia de vasos, observando as plantas que estavam por ali. Podia ouvir os sussurros inconfundíveis das fadinhas, deixando claro que elas estavam escondidas em algum lugar dali, me observando de longe.

—Vocês me ajudaram muito quando eu estava em Estela. —Comentei, abrindo um sorriso quando as vi sairem de trás de um arbusto e se aproximarem. —Podiam me dar uma mãozinha agora também, não é? —Fiz uma careta quando uma delas puxou meu cabelo, me fazendo soltar um chiado que arrancou risadinhas delas. —Tudo bem, deixa pra lá.

Parei em frente a um vaso onde havia uma muda de roseira. Estava cheia de brotos, prontos para se abrirem em uma bela rosa. Peguei aquele pequeno frasco e olhei o líquido lá dentro, antes de abrir o mesmo e então pingar na terra úmida do vaso, observando por alguns segundos até soltar um suspiro quando nada aconteceu.

Esfreguei minhas testa, lembrando de quando havia feito magia na floresta para salvar Harry daquele tiro. Mas parecia que dessa vez eu tinha falhado miseravelmente. Deixei as fadinhas para trás, saindo daquele jardim para procurar Harry e ver como Scarlett estava. Precisávamos encontrar Alec logo. Talvez até mesmo ele ajudasse Scarlett de alguma forma.

—Vossa majestade. —Fiz uma reverência a rainha quando ela surgiu no final do corredor que eu estava, me olhando com aquela expressão indiferente de sempre. Harry havia me contato que ela tentou casá-lo de novo com a princesa de Thoreau enquanto eu estava fora. Não sabia bem como me sentia em relação a isso. Não esperava preocupação vindo dela, mas talvez um pouco mais de noção.

—Estou procurando o meu filho, sabe onde ele está? —Indagou, me fazendo comprimir os lábios.

—Não sei. Estava no jardim lá em cima. —Afirmei, vendo-a balançar a cabeça e olhar fixamente pra mim, parecendo tentar me desvendar. —Precisa de ajuda com algo?

—Não quero a ajuda de uma bruxa. —Sibilou, atravessando o corredor e passando por mim com uma expressão fria. Soltei uma respiração pesada, pensando em todas as vezes que ela havia me ofendido e eu havia ficado quieta, porque não me achava no direito de retrucar.

—Sabe, você não precisa ser uma escrota o tempo todo. —Afirmei, me virando para vê-la parar no meio do corredor e olhar pra mim com uma expressão descrente.

—Você me chamou do que?

—Escrota. —Repeti, pensando no quanto Katie se sentiria orgulhosa de mim se me visse dizer aquilo. —Eu nunca fiz nada contra você. Eu também não desejei vir parar aqui nesse reino. Isso foi inevitável a partir do momento que dei de cara com Harry em Londres. No começo eu queria ir embora daqui, voltar pro lugar que eu pensava ser a minha casa. Mas então eu me apaixonei pelo seu filho. Ele se tornou a pessoa mais importante na minha vida e eu sabia que nada seria igual se ele não estivesse comigo. Eu abri mão da minha vida em Londres pra viver aqui. —Prossegui, despejando tudo que estava entalado na minha garganta esse tempo todo. —Eu também não desejei ser uma bruxa. Eu simplesmente nasci assim. Mas quer saber? Todas essas malditas coisas não lhe dão o direito de ser uma escrota comigo! Não te dão o direito de falar aquelas coisas que falou pra mim aquele dia, dando a entender que eu era só uma vadia nojenta! —O rosto dela estava vermelho, mas tinha certeza que o meu também estava. —Daquela vez eu ouvi tudo e fui embora, porque não me achava no direito de dizer algo. Porque essa era a sua casa. O seu lar. Mas eu sou noiva do seu filho agora. Esse lugar se tornou a minha casa também. Um dia eu vou ser rainha desse lugar. Então não espere que eu continue ouvindo você falar o que quer, sem dizer nada.

—Como ousa? Você deveria ter vergonha de falar assim comigo! —Retrucou, praticamente rosnando as palavras. —Eu ainda sou a rainha e se eu quiser...

—Vai tentar casar o Harry com a princesa de não sei onde? —Soltei uma risada. —Vá em frente, nós duas sabemos que não deu certo nas outras tentativas.

—Você voltou com esse nariz empinado só porque esteve com as estrelas, não é? —Ela riu, estalando a língua e balançando a cabeça negativamente. —Isso não faz de você uma santa, srta. Wood. Isso não faz de você melhor do que eu. Eu ainda sou a rainha. Não você.

—Eu sei. E eu não acho que sou melhor que você. Eu só aprendi algumas coisas quando estive fora. —Afirmei, empinando o nariz da mesma forma que ela havia me acusado de fazer. —E eu não vou mais permitir que você ou qualquer outro pise em mim, só porque usa uma coroa idiota sobre a cabeça. Não sou melhor que você, mas isso não significa que você seja melhor do que eu.

—Não pense que pode me dizer todas essas coisas e sair impune. —Afirmou, com um tom de ameaça que me fez revirar os olhos, porque já havia sido punida pelas estrelas e duvidava muito que ela poderia fazer algo pior do que aqueles braceletes.

—Eu não ligo. —Dei de ombros, abrindo um sorriso enorme pra ela. —Deveria tomar cuidado por onde anda, vai que eu acabe lançando um feitiço por aí e ele atinge você sem querer.

Ela soltou uma respiração pesada, me olhando um pouco pálida antes de sair dali rapidamente. Eu só esperava que Harry não ficasse chateado comigo por isso. Mas eu estava começando a ficar cansada e ainda estava com raiva da rainha das estrelas.


Continua...

O Reino das Estrelas / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora