Capítulo 5: Território sagrado.

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Sophia

Fiquei muda por vários minutos, absorvendo o que a rainha havia acabado de falar. Não havia pensado naquilo em nenhum momento desde que cheguei em Estela. Não parecia óbvio como ela mesmo disse. Mas agora, pensando em tudo que aconteceu comigo, eu não deveria sequer estar surpresa. Alguém tentou me matar quando eu estava na dimensão das estrelas e não conseguiu. E agora, eu estou aqui, porque provavelmente a mesma pessoa que tentou me matar fez isso.

—Você sabe quem foi? —Indaguei, hesitante, vendo a rainha parecer minimamente com pena de mim.

—Não, criança, eu não sei. Quando alguém faz um pedido com uma lágrima de sangue, essa pessoa convoca uma estrela. Aqui existem milhares delas e qualquer uma pode ter sido convocada a realizar o pedido. —A rainha explicou, se ajeitando no trono com uma expressão impassível. —O que eu não entendo, é porque a pessoa desejou que você viesse especificamente pra cá.

—Se me permite, vossa majestade. —Colton murmurou, dando um passo à frente. —As vezes a pessoa não especificou o lugar e a estrela simplesmente trouxe a senhorita Wood pra cá.

—Mas isso seria contra as regras. —Scarlett retrucou, fazendo uma careta. —Ninguém jamais teria coragem de fazer isso.

—Não importa. —A rainha dispensou o comentário dos dois, enquanto eu ainda tentava processar tudo aquilo. —De qualquer forma, srta. Wood, não posso mandá-la de volta.

—O que? —Soltei, dando passos em direção a ela, antes de ser parada por Colton. —Como assim não pode? Eu... eu não posso ficar aqui!

—Eu sei. Mas você está aqui por causa de um desejo feito a uma das estrelas e nenhuma outra estrela pode interferir na magia de outra. Nem mesmo eu. —Ela afirmou, fazendo meu coração despencar dentro do peito. —Ah não ser que tenha uma lágrima de sangue com você, srta. Wood, não posso mandá-la de volta.

—Mas eu sou uma bruxa! —Exclamei, apontando para Colton. —Ele mesmo disse que não estava nada bem eu estar aqui. Você precisa me mandar de volta. Por favor... majestade...

—Não posso ajudá-la. —Ela balançou a cabeça negativamente. —Temos leis e eu como rainha devo segui-las. Não posso interferir no desejo realizado por outra estrela. Se não estiver em posse de uma lágrima de sangue, não posso ajudá-la. —Ela se inclinou pra frente, me olhando um pouco pesarosa. —Sinto muito, mas terá que ficar aqui. Deixarei você sobre os olhos de Scarlett, já que foi ela quem a encontrou.

—E o que eu devo fazer? —Indaguei, com meus lábios tremendo. —Ficar aqui pra sempre?

—Ou encontrar uma lágrima de sangue. —A rainha sorriu. —A algumas delas por aqui, se souber onde procurar. Mas... —Ela olhou para Scarlett, como se o aviso fosse pra ela e não pra mim. —Bruxas e nenhuma outra espécie são bem-vindas no território sagrado. Então, você deve ficar longe de lá. Por hora, você ficará com Scarlett. Se encontrar uma lágrima de sangue, pode usá-la para fazer um pedido e voltar pra casa. Caso contrário, veremos o que fazemos com você.

Ela se ajeitou no trono uma última vez, deixando claro que a conversa havia terminado. Scarlett tocou meu ombro e quando vi, já estávamos voltando pra casa dela.

[...]

Encarei as chamas da vela que estava sobre uma mesinha no canto do quarto, enquanto meu coração parecia afundar dentro do peito, doendo como se fosse se partir ao meio. Meus olhos se viraram para a porta, sem eu mover um músculo sequer. Scarlett entrou, carregando um copo de água e um vestido simples de dormir.

—Trouxe pra você. Precisa de mais alguma coisa antes de ir dormir? —Ela sorriu esperançosa, como se esperasse que eu pedisse algo. Como se meus pedidos pudessem fazer seu dia mil vezes melhor.

—Não, obrigada, Scarlett. —Falei, engolindo em seco e vendo ela deixar o copo ao lado da vela e se aproximar para deixar o vestido ao meu lado na cama.

—Pode me chamar de Scar. —Ela sorriu mais ainda, movendo o corpo de leve de um lado para o outro enquanto me observava. —Sinto muito por tudo. Sei que queria voltar para o seu príncipe.

—Eu ainda vou voltar. —Afirmei, ficando de pé e pegando o vestido que ela havia me arrumado. Iria tirar o vestido de noiva sozinha, quando na verdade deveria estar com Harry. —Scar, você tem uma mapa de Estela?

Ela me olhou com a testa franzida, mas confirmou com a cabeça. Enquanto Scarlett saia pra pegar o mapa, eu trocava do vestido, deixando o vestido branco cuidadosamente dobrado sobre a cama. Faria de tudo para voltar pra casa. Só esperava que não fosse tarde demais. Que Harry tivesse desistido dela.

—Aqui está. —Scarlett entrou no quarto de novo, caminhando até deixar o pequeno mapa aberto sobre a mesinha ao lado da vela. Me aproximei, segurando o tecido fino do vestido entre os dedos.

O mapa de Estela não era muito grande, já que era apenas um reino como Del Mar. Haviam poucos pontos marcados nele. Um pântano, um território sagrado e o reino foram os que chamaram a minha atenção.

—Onde posso encontrar uma lágrima de sangue com mais facilidade? —Indaguei, me virando pra Scarlett.

—Elas florescem principalmente no território sagrado. Mas você não pode ir lá. É onde todas as almas das estrelas descansam depois da morte. —Scarlett afirmou, umedecido os lábios com a língua. —O outro lugar é o pântano.

—Então como vou até lá?

—Ao pântano? —Scarlett arregalou os olhos e balançou a cabeça negativamente. —É um lugar terrível, Sophia. Não pode ir até lá. Tem criaturas que te devoram naquelas águas. E aquelas montanhas abrigam...

—Scar, como eu vou até lá? —Indaguei, não deixando que ela completasse. —Eu preciso de uma lágrima de sangue. Se não posso ir até seu território sagrado, vou até esse pântano. Não vou ficar nesse lugar pra sempre. Tenho uma casa e pessoas pra quem voltar.

Scarlett ficou muda, me olhando sem piscar, enquanto os olhos de diamantes pareciam perder um pouco do brilho.

—Tudo bem. —Ela disse por fim, abrindo o sorriso de novo. —Vou te ajudar a chegar lá.



Continua...

O Reino das Estrelas / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora