Capítulo 58: Fogueira.

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Segui pela floresta tomada pela noite, sentindo uma sensação estranha dentro de mim. Continuava a ouvir Katie me chamando, mas ela sempre parecia estar distante. Meu coração disparou quando comecei a pensar no que aquilo podia significar.

—Katie? —Chamei, começando a andar mais rápido na direção que a voz dela vinha. Katie havia ficado em Del Mae. Aquilo não podia ser real. —Katie?

Parei de andar, olhando ao redor, procurando por qualquer sinal de Katie, enquanto torcia para que aquilo fosse apenas minha cabeça pregando uma peça. Ouvi a voz dela, voltando a correr, sentindo meu sangue tão frio pelo nervosismo que corria nas minhas veias.

Deslizei na grama, parando subitamente quando vi a claridade que vinha de um ponto mais a frente da floresta. Minhas mãos soaram de nervosismo, enquanto eu dava passos hesitantes até lá, observando a clareira tomar forma, com tochas circulando a área repleta de bruxas.

Parei no final da linha das árvores, vendo todas elas olharem na minha direção com raiva e reprovação. Aquilo me fez engolir em seco e meu coração parar de bater por alguns segundos, enquanto eu tentava entender o que estava acontecendo ali.

—O que vocês... —Comecei a falar, parando quando vi a pessoa que passava pelo meio das bruxas, caminhando na minha direção. A rainha das estrelas sorriu pra mim, com um ar de desdém puro. —Claro que isso tinha que ser coisa sua.

—Nada surpresa então. —Ela riu, parando de andar. Suas asas não estavam a vista, deixando ela parecendo com uma simples humana, apesar dos cabelos brancos demais.

—O que você quer afinal? —Indaguei, soltando uma respiração pesada de frustração. —Quer se vingar por que eu desejei aquela ponte? Por que eu também tenho o poder das estrelas?

—Você sabe que não é só isso. —Ela tombou a cabeça de lado com um ar angelical.

—Sei que você mandou me matar. —Falei, observando o sorriso no rosto dela, o que me deixou com raiva. —Só não entendo o porquê. Nós nem nos conhecíamos naquela época.

—Bem... —Ela olhou para todas as bruxas ao redor, que prestavam atenção em tudo. Mas elas pareciam perdidas ao mesmo tempo, como se não soubessem o que estavam fazendo ali. —Eu as encantei. Elas vão fazer tudo que eu mandar, quando eu quiser. É temporário, então precisa ser refeito de tempos em tempos. —Afirmou, me fazendo suspirar de alivio por perceber que então era impossível que eu tivesse feito isso com Harry. —Mas eu já havia feito isso com elas, anos atrás, quando as encantei para que roubasse a recém nascida princesa de Velará.

—Foi você. —Sibilei, sem acreditar no que estava ouvindo, o que a fez sorrir mais ainda. —Por quê?

—As bruxas sempre foram um problema. Elas se envolveram com as estrelas séculos atrás, criando uma raça totalmente nova, mais poderosa e perigosa. —Falou, me fazendo lembrar dos peregrinos na mesma hora. —Meus antepassados tomaram todas as providencias para que isso parasse de acontecer. Mas mesmo assim, alguns de vocês ainda tiveram a capacidade de nos criar problemas. Aquele peregrino é a prova disso, entrando no nosso território e o sujando.

—As bruxas não são as culpadas de tudo! —Retruquei, sentindo meu sangue ferver. —As estrelas se envolveram com elas porque quiseram. Elas tiveram filhos com as bruxas porque quiseram ter. Tanto é que muitas delas fugiram quando seu antigo rei tentou as proibir de voltar pra cá. —Balancei a cabeça negativamente, comprimindo os lábios. —No fundo, você tem medo dos peregrinos porque sabe que eles são muito mais poderosos do que vocês estrelas. Eles podem conjurar coisas, sentir a magia e até mesmo absorve-la ou bloqueá-la. Você tem medo deles porque sabe que se eles quisessem, tomariam sua magia de você!

—Peregrinos são um erro, Sophia. Eles nunca deveriam existir. Fico feliz que estejam a dimensões de distancia daqui, infectando outro mundo com sua magia suja. —Afirmou, não parecendo nem um pouco preocupada com o que dizia. —Eu as fiz levar aquela princesa e a jogar em outra dimensão para que as bruxas nunca mais tivessem seu lugar nessa dimensão, da mesma forma que aconteceu com os peregrinos. Mas ai... você resolveu se meter no meio.

Então eu entendi todo o plano dela que eu ameacei.

—Você queria que as bruxas fossem odiadas até serem expulsas daqui. Mas ai o Harry e o Noah resolveram ir atrás de Katie. Nossos caminhos se cruzaram em Londres e Harry se apaixonou por mim, uma bruxa. Um príncipe humano apaixonado por uma bruxa. —Eu ri, fechando meus olhos e negando com a cabeça sem acreditar. —Você tentou me matar porque Harry pretendia se casar comigo e dar um lugar para as bruxas no reino. Mas isso não deu certo.

—Eu mostrei aquela princesa onde encontrar uma lágrima de sangue e disse a ela o que desejar. —Ela me olhou com desdém, enrugando os lábios. —Ela deveria desejar que você fosse mandada pra um lugar onde nunca mais pudesse retornar. Mas Scarlett realizou esse desejo e fez a burrada de leva-la para o meu reino.

—É meu reino também. Tenho a magia das estrelas correndo pelos minhas veias. —Afirmei, vendo o quanto isso a irritou. —Posso não saber realizar desejos, mas posso faze-los, já que sou metade bruxa também. A sua magia pura e preciosa, não pertence só a você.

—Isso não muda o fato de eu ser rainha. —Ela apontou para a coroa na sua cabeça, que surgiu juntamente com suas asas brancas. Não rainha por muito tempo, se dependesse de Harry e agora eu era muito a favor disso.

—Você nem existia na época que as estrelas se envolveram com as bruxas. —Falei, olhando para todas aquelas bruxas ao redor, desejando que elas pudessem voltar ao normal e entender o que de fato estava acontecendo ali. —Por que fazer isso?

—Estando lá naquela época ou não, é o meu dever cuidar da minha raça. —Ela apontou pra mim com raiva. —E você está atrapalhando tudo. Pensei que poderia mandar outras pessoas resolverem isso pra mim, mas como parece que a única capaz sou eu, resolvi ajeitar as coisas eu mesma.

Ela sorriu pra mim, erguendo as sobrancelhas antes de se mover para o lado e me mostrar o imenso monte de madeiras, que formavam uma fogueira pronta para ser acesa. Meu coração parou de bater quando vi Katie e James amarrados no topo da fogueira, com as bocas amordaçadas, olhando na minha direção com desespero.

—O que está fazendo? —Fiz menção de ir até lá, sentindo o medo me consumir quando as bruxas vieram pra frente, prontas pra me impedir. —Solte-os!

—Não! —Ela praticamente rosnou, com aquela magia das estrelas, brilhante e viva dançando nas suas mãos como sombras de luz. —Vou limpar toda essa sujeira que vocês criaram e no final as bruxas vão ser a culpadas disso. Todos os reinos vão saber que as bruxas mataram os herdeiros e isso vai ser o suficiente para as bruxas serem expulsas desse mundo.

A respiração se prendeu na minha garganta quando vi uma bruxa levar uma tocha acesa até aquela imensa fogueira e acende-la. Katie e James se desesperaram, tentando gritar e se soltar daquelas cordas. Lembrei de Harry, Maisie e Christian no acampamento, sem fazer ideia do que os esperavam.

—Você vai parar com isso! —Sibilei, me virando para a rainha, sabendo que precisava ser rápida, antes que aquelas chamas atingissem os dois. —Ou eu vou!

Puxei aquela magia de dentro de mim, trincando os dentes quando as asas cresceram nas minhas costas, fazendo uma fisgada de dor varrer minha coluna. Mas engoli tudo aquilo, vendo a expressão surpresa da rainha quando a magia das estrelas brilhou nas minhas mãos também.


Continua...

O Reino das Estrelas / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora