Capítulo 35: De onde ele veio?

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Maisie

Eu estou sentada ao lado de Christian na carroça, que se movimentava pela estrada de terra pelo meio da floresta escura. Nenhum de nós disse uma palavra um ao outro, mas sinto os olhos dele em mim por alguns segundos, como se ele estivesse hesitante e não soubesse como agir. Estávamos nos evitando depois daquela discussão.

—Pra onde está nos levando? —Indaguei, olhando para a bruxa sentada na minha frente.

—Vivemos perto do litoral, em um pequeno acampamento. —Afirmou, me fazendo comprimir os lábios e ficar ainda mais ansiosa. Apertei meus dedos sobre meus colo, sentindo meu coração tão acelerado enquanto a noite caia cada vez mais ao nosso redor. —Não precisa se preocupar. Não somos do tipo violadores.

—Nem todas as bruxas são igualmente ruins. —O bruxo ao lado dela completou, e eu apenas balancei a cabeça em concordância, por mais que estivesse hesitante sobre aquilo. Mas o príncipe ao meu lado parecia tranquilo, ao mesmo que tenso, enquanto olhava para aqueles dois seres na nossa frente.

Não sabia ao certo quem era a pessoa que estava esperando no acampamento. Ela simplesmente ignorou qualquer pergunta minha relacionada a isso, dizendo que eu não entenderia se ela falasse e que eu precisava ver com meus próprios olhos. Estava começando a ficar ansiosa para chegarmos logo, ao mesmo tempo que queria ir correndo embora daquele lugar. Daquelas ilhas mágicas.

—Estamos chegando! —O bruxo que guiava os cavalos na frente da carroça gritou, fazendo meu coração disparar dentro do meu peito quando entramos na floresta, saindo daquela estrada de terra.

Tudo virou um borrão de árvores e arbustos, até eu finalmente ver a luz do que padeciam tochas e fogueiras no meio de um acampamento na floresta. Barracas de lona e algumas cabanas foram surgindo em meio as sombras da noite, até eu poder ver as bruxas e bruxos que caminhavam por lá, em meio a crianças que brincavam ao redor das figueiras e  aos cavalos perto de outras carroças que eram carregadas e descarregadas.

—Venham. —A carroça parou e a bruxa desceu, indicando com a cabeça que a seguíssemos.

Christian foi primeiro, antes de se virar e estender a mão pra me ajudar. Aceitei a ajudar, mas evitei a todo custo olhar pro rosto e para os olhos dele, mesmo quando senti que ele me observava. Soltei as mãos dele, me afastando atrás da bruxa, escutando ele soltar um suspiro pesado.

Ignorei aquilo, porque ainda estava frustrada com a irritação repentina dele de antes, quando tudo que ele sabia fazer era me culpar. Mas eu não tinha desejado que nada disso acontecesse. Se eu soubesse jamais teria saído de Del Mar. Mas eu saí, e agora estou perdida no meio de várias bruxas com meu ex noivo.

—Vocês não participam da convenção das bruxas? —Indaguei, vendo-a melhor olhar por cima do ombro e torcer os lábios em algo que eu não sabia o que significava.

—Algumas de nós vão até lá. Mas nem todas. Temos opniões diferentes que só causariam briga naquele lugar, então preferimos evitar isso. —Afirmou, enquanto as bruxas do acampamento passavam por nós, olhando com curiosidade para os dois membros da realeza perdidos ali no meio. —Depois que o sequestro da princesa foi revelado a todos, as coisas mudaram muito por aqui. A maioria de nós vive cheia de desconfianças, com medo de que uma irmã ou irmão decida agir da mesma forma e acabe nos causando uma guerra.

—Bem, nós nunca quisemos uma guerra com vocês. Mas estavam nos forçando a isso. —Afirmei, lembrando de quando meu irmão foi levado e depois ficou perdido em Londres, antes de voltar com Sophia e tudo acontecer.

—Eu sei. Acredite, nem todas concordam com o que aconteceu com o seu irmão. Estávamos felizes com a ideia do casamento dele com uma de nossas espécie, mesmo que mestiça. —Ela prosseguiu, parando em frente a uma barraca e se virando pra me encarar. —Por isso não hesitamos em ajudá-lo quando chegou aqui.

—Quem chegou aqui? —Christian indagou atrás de nós duas, fazendo-a exibir uma expressão carregada.

Ela não respondeu, apenas ergueu a lona e entrou, segurando-a para que pudéssemos entrar também. A barraca era grande, com uma fogueira no centro, rodeada por pedras. Havia uma pequena mesa no canto, algumas caixas e um armário antigo. E no canto, uma cama improvisada no chão, onde alguém dormia profundamente.

A primeira coisa que notei foram as longas asas negras que estavam abertas embaixo dele, como penas de corvos. A pele era tão branca, que parecia a neve, enquanto os cabelos eram tão escuros como carvão. E sobre os fios negros, haviam pontas do que pareciam ser cifres.

Dei um passo para trás, batendo no peito de Christian, que colocou as mãos na minha cintura, fazendo um arrepio percorrer toda minha espinha. Mas não desviei os olhos daquele macho, enquanto minha mente processavam o que eu estava vendo.

—O que ele é? —Falei, tão baixo que quase não reconheci minha voz.

—Um peregrino. —A bruxa se aproximou da cama, se abaixando para colocar a mão na testa dele, como se quisesse saber como ele estava. —Não sabemos o nome dele. Nós o vimos voando pelo céu, antes de despencar sobre a floresta. O encontramos desacordado no chão e o trouxemos pra cá.

Não ousei me mover quando ela olhou pra nós dois e indicou que nos aproximássemos. Estava imóvel, ainda tentando absorver todo o visual peculiar e estranhamente belo dele.

—Ele estava fraco e queimando em febre. Acordou algumas vezes e nos disse que precisava chegar até Del Mar. —A bruxa prosseguiu, balançando a cabeça. —E ele ficou repetindo o nome dela.

—Dela quem? —Christian indagou, fazendo uma careta.

—Sophia. —A bruxa murmurou, me pegando de surpresa. —Ele ficou repetindo o nome dela. Disse que ela precisava de ajuda, que precisava chegar até Del Mar e avisar seu irmão.

—De onde ele veio? —Eu me afastei de Christian, sentindo meu coração disparar quando ouvi aquilo. —Ele disse onde a Sophia está? Disse como podemos achá-la?

—Não. —Ela negou, me fazendo soltar uma respiração pesada. —Mas mostrou como podemos chegar lá.



Continua...

O Reino das Estrelas / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora