"— Está dizendo que se matarmos nossos inimigos seremos livres?
— Liberdade é uma ilusão. Se conseguíssemos fazê-los parar de nos ver como inimigos, então poderemos tentar ser melhores."
{...}
Corra! Você precisava correr!
Podia dizer que quase não havia mais ar em seus pulmões. Você nem poderia dizer a quanto tempo estava correndo. Parecia uma eternidade. Sabia que estaria deixando algumas pegadas por onde passava, afinal podia sentir muito bem o sangue escapando pelas feridas bem abertas em seus pés. O chão por onde você pisava com toda certeza estaria marcado pela forma de seus pés. Doía tanto. Aquele corte em sua barriga, apesar de não ser assim tão profundo, só piorava tudo. Sua camisa branca - que, na realidade, já deixara de ser branca a muito tempo- estava completamente mergulhada em cinzas e o líquido rubro que escoava de dentro de sua pele. Suas panturrilhas já imploravam por uma pausa. Os músculos queimavam. Na realidade, todo seu corpo parecia um incêndio. A mistura de adrenalina, medo e instinto de sobrevivência acelerava seus batimentos cardíacos e secava sua garganta. Era isso. Instinto. Se não fosse por ele você não teria chegado até aqui. Você nem sabia como ainda estava correndo.
Mas você continuava. Não podia parar. Eles haviam lhe encontrado, sabe-se lá como. Desconfiava que Annie havia traído vocês. Era a única explicação lógica. Ela era a única que saia do clã para ir até o Aether. Annie e Reiner.
Mas como poderiam entregar seu próprio bando? Filhos do mesmo elemento, julgados pela mesma miséria, como poderiam eles entregar os seus? Seu peito ainda apertava ao se lembrar da imagem de Berthold sendo morto na sua frente. Você estava carregando a última criança nos braços quando se virou, bem a tempo de ver uma bala atravessar o crânio de seu melhor amigo.
Independentemente de quem tivesse lhes traído, você nunca seria capaz de perdoar.
Mas você resistiu. Ou pelo menos tentou. Algo dentro de ti doía. Doía muito mais do que as feridas em seus pés ou o corte em seu abdômen. Sua mente estava confusa entre se concentrar nas vielas que você adentrava pelos subúrbios, como um labirinto de tijolos e lixo, ou no estado de preocupação extrema com os seus. Você estava preocupada. Preocupada demais. O que aconteceria com suas crianças? Eram apenas quatro pequenos Filhos do Fogo. Para qualquer um, quatro pequenos pedaços de lixos que mereciam um único destino. Mas não para você. Quando você adentrou as chamas de um orfanato para tentar ajudar as crianças que ainda estavam presas, a dois anos atrás, prometeu a aqueles quatro únicos filhotes que não deixaria que mais nada os machucasse. Você não conseguiu cumprir sua promessa. Deixara seus meninos nos cuidados de outro clã, prometendo que voltaria para buscá-los. Você provavelmente não cumpriria essa promessa também. Apenas nunca saberia qual foi o destino final dos quatro órfãos?
Seus pés colidiram com força contra uma pequena poça de água suja. Repudiou-a por dentro. Nem quis parar para imaginar quantas bactérias haviam adentrado seus pés machucados e quantas infecções diferentes você poderia ter adquirido até ali. Desviara bruscamente de uma lata de lixo e depois, adentrou uma viela escura a direita.
Erro seu. A droga da rua não tinha saída. A única coisa que se deparara foi com um muro.
Eles estavam perto demais. No início, você ainda conseguira os despistar por um tempo. Mas a essa altura, com os pés tão machucados e com o fôlego tão escasso, não conseguiria durar mais. Você não estava crendo que seria capturada agora. No fundo de um beco escuro, úmido e rodeado de lixo. Como a indigente que era, ou pelo menos, a indigente que as pessoas diziam que você era. Sentiu as lágrimas quentes escorrem intensamente sobre sua pele suja e gélida. Lamentou-se profundamente. Suas pernas doíam demais para pular o muro. Seus pés eram puro sangue. Mesmo se conseguisse pular e continuasse correndo, você não poderia correr para sempre. Você não conhecia a terra de Hefastos tão bem assim para que pudesse escapar por lá. Não sabia para onde ir, onde se abrigar. Seria uma questão de tempo até te capturarem.
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She's A Killer- Erwin Smith X Leitora
FanfictionNum mundo onde quem você é se define pela tribo em que você nasce, [Nome] teve o azar de nascer na pior delas. Se vê capturada por militares e obrigada a servir a trabalho escravo. Só não esperava que iria servir justamente a uma pessoa importante e...