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Sua cabeça estava bem afundada em uma almofada. O tecido era tão perfumado que chegava a ser enjoativo. Na realidade, tudo naquela casa parecia sempre tão limpo e cheiroso. Quantas vezes por semana tudo aquilo não era limpo? Uma de suas pernas pendia para fora do sofá e balançava no ar. Já havia assistido tantos filmes do catálogo daquela plataforma, que já estava ficando sem ideias. Os dias eram entediantes.

Você estava acostumada a nunca ficar parada. Viver em Miser demandava muito de você, isso é, se quisesse continuar viva. Tinha um clã para organizar, quatro crianças para cuidar, vidas para proteger. Uma porção de preocupações com a quantidade de comida disponível, se teriam roupas para as noites frias, se haveria remédios para os feridos. Planejar buscas a aqueles capturados pela polícia e se protegerem de novos ataques. Agora tudo que você fazia era comer, se arrastar até a sala, ficar deitada o dia todo, comer mais e depois voltar ao quarto para dormir.

Seu corpo já estava sentindo bastante essa mudança repentina de rotina. Os músculos, geralmente bem definidos, estavam começando a dar lugar para gorduras extras não gasta. Além do mais, mentalmente já estava exausta de estar aqui dentro, em segurança, enquanto não fazia a menor ideia do que estava acontecendo aos poucos sobreviventes do Clã Maria e, principalmente, com suas crianças.

Se virou bruscamente no sofá, sem nenhum cuidado com as pernas. Quase saltou do sofá quando percebeu que acabara de bater o pé na mesinha e que aquele copo de vidro tão bonito que Levi havia lhe trago com uma deliciosa vitamina de frutas amarelas, estava indo de encontro ao chão. Até tentou alcança-lo, mas tudo que fez foi aproximar de mais a mão enquanto o mesmo já se espatifava no chão, fazendo com que um caco que voava dos destroços fosse direto se afundar na carne de sua palma da mão.

— Porra! - Murmurou. Por sorte você já havia esvaziado o copo, então a sujeira não foi tão grande quanto seria se o líquido amarelado ainda estivesse ali. Mesmo assim, já sentia que estava dando trabalho de mais para Levi e agora ele ficaria irritado. Você pensou que pelo menos para limpar a droga de um copo, não precisaria de ajuda. Ao menos nisso poderia ser útil.

Arrancou o caco que afundara um pouco em sua palma. Ardeu levemente quando o vidro foi puxado e uma linha de sangue escorreu junto a ele. O sangue em si não a incomodava, porém faria ainda mais sujeira e seria ainda pior de remover do tapete. Seria pior ainda se caísse no sofá ou nas almofadas. Seria melhor limpar sua mão antes.

Esticou-se um pouco para apanhar suas muletas e apoiou-se, com a mão limpa, para se levantar, calçando as pantufas em seguida. Seus pés já não estavam tão mal. Às vezes, dependendo da forma que os pressionasse ao chão, doía um tanto, mas no geral, você poderia suportar as dores, se isso significasse que não dependeria de outra pessoa lhe carregar pelos cômodos.

— Tá, onde eles guardam os panos? - Olhou em volta do corredor quando o alcançou. Não havia nenhum funcionário por perto para lhe responder. Na realidade, você não havia visto muitos funcionários. Sabia que Erwin estava mantendo você afastada deles o máximo possível. Provavelmente porque, como ele não usava escravos em casa, todos os funcionários seriam Filhos do Ferro, então não teria como saber como reagiriam se tivessem que lhe servir. Logo você, uma Filha do Fogo e, teoricamente, uma escrava. — Merda! Não faço a menor ideia de onde fica a dispensa...

Se chamasse Levi e lhe pedisse panos e produtos de limpeza, com certeza ele perguntaria o porquê disso e veria a bagunça na sala. Não era uma opção. O jeito seria procurar sozinha. O que seria ainda pior, levando em conta que você não conhecia muito da casa e ainda praticamente se arrastava sobre seus pés. Até encontrar aquilo, Levi já teria lhe descoberto. Mesmo assim, tomou uma das direções de um dos corredores. Escolheu aquele que você não havia ido ainda. Sabia que um deles levava até onde ficavam os quartos, o outro levaria as escadas, então pegou aquele que você não sabia onde dava, torcendo para que, por uma coincidência do destino, acabasse topando com um funcionário da casa. De preferência, um bem gentil que não a repudiaria quando a visse.

She's A Killer- Erwin Smith X LeitoraOnde histórias criam vida. Descubra agora