22. Flash-back

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Nota da autora: oie gente! perdão por estar demorando a postar capítulos novos, tem tanta coisa merda acontecendo que tô até me esquecendo de publicar. mas juro juradinho que vou tentar ser mais frequente. obrigada por estarem acompanhando! <3

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— Vá dormir, estrupício! - Levi estava de bom humor hoje. Era raro usar o apelido carinhoso na hora de desejar boa noite. Geralmente era mais como "criança infernal", "filhote de cruz-credo" ou "criatura estranha". Algo de bom deve ter acontecido.

Lançou-lhe um sorriso alegre, antes de enrolar-se nos cobertores e se aconchegar nos travesseiros. Viu Levi apagar as luzes e fechar a porta. Na vista da janela, podia ver a Lua Cheia. Já havia perdido a conta de quantas luas exatamente haviam passado. Talvez nunca nem estivera contando. Foram longos minutos se remexendo em meio aos lençóis, até finalmente conseguir adormecer.

{...}

— Corram! Corram para fora! - Uma voz masculina gritava alto.

Era tudo um verdadeiro caos. O cenário inteiro. O casarão inteiramente em chamas. Fogo começando a alastrar pela mata seca ao lado.

— Precisam chamar a polícia! Esse fogo vai se espalhar rapidamente! - Outra gritou.

— Já chamamos os bombeiros. Estarão chegando em breve! - Você avisou. Só então sua presença foi notada.

Era tarde da noite quando alguém bateu freneticamente na porta de sua cabana. Berthold foi quem lhe acordou, um tanto assustado pelo chamado repentino. Não era tão comum problemas noturnos entre o clã. Mal saiu da cama e já tinha em suas mãos uma lâmina apunhalada, por segurança, em caso de serem os militares.

Pra sorte, era só uma mulher desesperada. Você a reconheceu rapidamente, era uma morada de seu clã, Lana Borges, mãe de uma garotinha e ajudava no preparo de alimentos diariamente.

— Ah? Que raios está acontecendo? - Berthold implicou ao ver o desespero da mulher em esmurrar a porta. Provavelmente havia reconhecido-a também.

— Espera, Berth. Lana, o que houve?

— O orfanato, senhora! - A mulher soava frio. — Aquele que fica na divisa entre Miser e Hefastos. Foi tomado por um incêndio.

— O Rosa Vermelha? - Berthold reconheceu e a mulher baixa concordou. — Droga! Não é longe daqui. Com o mato seco como está, será uma questão de tempo até o fogo alcançar.

— Como ficou sabendo disso?

— Uma marleyana veio me avisar. Parece que estão com problemas na linha telefônica deles. Senhora, o único telefone do clã Maria fica na cabana de vocês. Por favor, liguem para os bombeiros antes que Miser inteira esteja em chamas! - Lana suplicou.

Não levou meio segundo, Berthold já tomara o caminho de volta para seu quarto para discar.

— Berthold, estou saindo! - Já estava sentada no chão, perto da entrada, calçando seus coturnos.

— O que? Não pode ir até lá! - Gritou de dentro do quarto. A mulher olhava ansiosamente para os dois, parecendo tão apreensiva.

— Provavelmente precisam de ajuda. Eu estou indo até lá.

Antes mesmo de esperar uma resposta do outro, guardou a lâmina no cinto e apanhou seu casaco, batendo a porta atrás de si quando saiu. Todos os outros pareciam quietos, apesar de tudo. Era possível ver algumas casinhas com luzes acessas, mas a maioria parecia adormecido. Isso era bom. Pânico só pioraria tudo, apesar de que, se o fogo se espalhasse, fazer a evacuação seria mais difícil assim.

Correu um tanto pela mata até chegar na divisa. Definitivamente não era longe, mas não significava que não fosse cansativo. De algum tanto longe já podia ver as labaredas queimando toda a estrutura do que a horas atrás era o único orfanato de Miser.

Não que alguém em Miser tivesse condições ou vontade de adotar uma criança, mas, apesar de Filhos do Fogo, alguns casais inférteis de Filhos do Ferro acabavam por ir buscar uma criança por lá. Geralmente, nunca velhas de mais, para não darem trabalho, mas nunca novas de mais, para não ter formado alguma personalidade ainda. Crianças muito espertas, ágeis ou briguentas nunca eram adotadas. Eles precisavam de alguém neutro para criarem como filho, não um Filho do Fogo de personalidade dura. O que sobrava, ia para o mercado.

Após avisar sobre os bombeiros, foi de encontro a um grupo que parecia guardar as crianças retiradas de dentro. Sabia que, se os deuses quisessem, os bombeiros chegariam a tempo de conter o fogo. Apesar da negligência do governo com Miser, ninguém quer ver um povo inteiro dizimado pelo fogo. Não quando ainda geram mão de obra. E com Miser quase toda cercada por mata, seria questão de tempo até tudo virar cinzas.

— Onde estão as crianças pequenas? - Ao ouvir, seus olhos foram em direção a um casal que conversava aos sussurros atrás de uma moita próxima.

— Não consegui tirá-los.

— Raios, Oluo! Como não conseguiu? - A mulher falou.

— Não consegui! Dei prioridade para os que tem chance de adoção, porra!

— Argh! Eles vão ser incinerados, seu tonto!

— E daí, Petra? São quatro crianças pequenas. Um espertinho, dois briguentos e uma ágil de mais para a idade. Iam ser descartados! - O homem reclamava.

— A Policia Militar nos paga para selecionar os que prestam pra adoções, não para os deixar morrer!

— Eles não iam prestar. Confie em mim, foi melhor deixá-los. Seria pior se fossem pro mercado. Todos os documentos deles e de todos os outros estão lá. Ninguém se lembrará que existiram!

Havia crianças lá dentro ainda? Você ouviu direito?

Sem mais uma única palavra, sentiu sua visão ficar turva e seu corpo tremer. Como teriam sido capazes de deixar crianças para morrer queimadas? Os bombeiros não iam chegar a tempo!

Você havia visitado o orfanato algumas vezes antes. Talvez pudesse encontrá-los ainda... Quatro crianças pequenas. Você tinha que encontrá-las.

Ou você morreria queimada antes disso. Das duas, uma.

{...} 

She's A Killer- Erwin Smith X LeitoraOnde histórias criam vida. Descubra agora