16.

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Sentia o olhar de todos aqueles funcionários que encontraram no caminho queimando sobre todo o seu corpo. Olhares capazes de cortar toda a sua pele e mergulhar de encontro a sua alma. Ferindo-a por inteiro. Também, não podia nem os julgar. Você e Levi haviam retornado a casa sem Erwin, num carro estranho. Você, com metade da roupa banhada em sangue. No carro, Levi acabara por lhe dar um lenço para que limpasse o que pudesse, mas sabia muito bem o que aquelas pessoas estavam pensando.

— Vá para o seu banheiro e só saia de lá quando estiver completamente limpa. - Levi estava muito mais sério do que o tradicional. Haviam acabado de entrar na casa. O homem não parecia que iria subir, mas mandou que você fizesse. Provavelmente trataria de avisar aos demais funcionários sobre o ocorrido e prepararem a casa para quando Erwin estivesse de volta. — E trate de jogar essas roupas no lixo.

Você apenas acenou. — Nós podemos ir ao hospital ver Erwin. - Arriscou. Posso ficar no carro ou...

— Merda, criança! Apenas obedeça! Erwin te quer aqui, então por favor, não foda! - Levi estava... irritado? — Vá para a merda do banheiro se limpar!

Você levou alguns segundos para realmente de fato obedecer. Estava com medo de como as coisas seriam agora.

{...}

A torneira pingando. O som de cada gota caindo freneticamente, uma atrás da outra, batendo na porcelana da pia. Som irritante. Mas era tudo que você podia retirar de som do exterior. Seu corpo estava praticamente completamente submerso na água da banheira. Um pouco mais quente do que deveria. Sua pele formigou quando entrou na banheira inicialmente, mas você usava da queimadura que vinha proeminente do líquido como uma autopunição. Ergueu lentamente os dedos e viu as pontas completamente enrugadas.

A quanto tempo você já estaria ali? A água nem quente estava mais...

Sua panturrilha contava com um corte não profundo, decorrente do galho que a saia de seu vestido havia se enroscado. Ambas as palmas das mãos cortadas. Ardeu tanto com o contato com água quase fervente do início, mas você também ignorava a dor. O corte causado pela lâmina de uma faca tão afiada estava terrível. Bem aberto e, apesar de já estar limpo agora, você sabia que precisaria de pontos. Apenas a mão esquerda, na verdade, afinal foi a que agarrou mais diretamente a parte cortante da lâmina. Mas você não pediria por isso.

Seus olhos foram na direção do armário debaixo da pia. Sua situação atual não era assim tão diferente da que se encontrava na noite que chegou a casa Smith. Encolhida, abraçando o próprio corpo naquela mesma banheira, a água levemente manchada de um tom rubro, feridas recém abertas necessitando de atenção, ideias ruins correndo por sua mente. A diferença é que Levi não estava mais ali, como no dia que chegou. Estava grata por isso.

Abandonou a banheira, num ato impulsivo. A água se movimentando e jorrando as poucos em direção ao chão, quando o corpo não estava mais ocupando-a. Caminhou até o armário, com cuidado para não acabar escorregando por conta dos pés molhados, abrindo-o e retirando uma toalha de lá. Ao abaixar-se, alcançaram sua visão aquela maleta cinza. Levi a usara para fazer curativos em você, exatamente no dia que chegou.

Seus olhos estavam indecisos entre sua palma aberta e aquela maleta. Mas acabou por decidir, assustadoramente rápido. Se enrolou na toalha, prendendo-a na altura do colo e apanhando a maleta. Quando a abriu em cima da pia, começou a procurar por aquilo que, você sabia bem, lhe causaria uma dor brutal: linhas e agulhas.

Levi havia lhe dito algo daquela vez, que teve sorte de que ele não precisaria lhe costurar, pois você sentiria uma dor imensa. Mas agora você queria aquela dor. Você precisava de dor.

Já havia costurado outras pessoas ou seu próprio corpo mais vezes do que podia contar. Havia apenas uma linha fina disponível. Seria suficiente para um corte na mão. Sabia exatamente o que fazer. Limpar, desinfetar, linhas cruzadas, intensidade dos nós... Você sabia.

She's A Killer- Erwin Smith X LeitoraOnde histórias criam vida. Descubra agora