20.

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O sol da tarde rolou pelas vidraças distorcidas. Calor agradável que emancipava qualquer resquício de frio que podia se fazer. Em breve já seria verão outra vez. Deitada de cabeça para baixo no sofá, estava você. Pés balançando preguiçosamente para o alto, escorados no encosto. O mesmo tédio de todos os outros dias. O mesmo nada para se fazer. Seus olhos corriam, indecisos, entre todos os montes de pinturas emolduradas nas paredes. Já analisou cada uma daquelas pinturas tantas outras vezes antes.

Perto da porta, um cavalo marrom e esbelto, estava de pé, quase poderia dizer que ele estava se preparando para correr, a moldura dourada, como todas as outras. Do outro lado da sala, uma pintura de natureza morta, onde um cesto de frutas amarelas foram retratados. Um riacho correndo após uma cachoeira brilhante, enfeitava um outro canto. O que mais lhe chamara atenção, porém, era um pintura um tanto curiosa, onde uma pequena criança loira, um garotinho, estava sentado num tronco de árvore, apontando para uma árvore de maçãs, ao longe o sol se despedia da paisagem. A criança, trajada em roupas azuis e brancas, completamente sociais e formais. Apesar da falta de olheiras e bochechas mais cheias e coradas, sabia bem de quem pertencia aqueles traços. Sem sombra de dúvidas aquele era Erwin quando criança. Você já passara uma tarde inteira apenas observando aquele quadro, em específico. Era hipnotizante, de alguma forma.

Uma batida repentina na porta fez com que se virasse da posição esquisita no sofá e tentasse rapidamente parecer menos estranha.

— Quem... - Nem teve tempo de questionar muito. Mais uma vez se deparou com a bagunça ruiva invadindo seu campo de visão.

— Ufa! Achei que Levi não sairia de casa nunca!

— Isabel... - Murmurou com uma careta, tentando demonstrar o descontentamento em ter a outra ali. — O que raios faz aqui?

— Eu disse que viria! - Falou com um tanto de orgulho por ter cumprido.

— E eu disse para que não viesse! - Reclamou.

— Bem, demorou para que eu conseguisse convencer Levi de que ele teria de ir para a cidade comprar legumes frescos. Então não faça ter sido em vão!

— Como ele aceitou isso? Não há alguém para as compras?

— Tecnicamente sim, mas desde que a última funcionária responsável por isso trouxe um alface com algumas pequenas larvas, o Levi teve um surto e nunca mais deixou que ninguém escolhesse legumes e carnes, se não ele. - Isabel lhe abriu mais um daqueles sorrisos calorosos. — Ele literalmente gritou quando viu a coisa branca se mexer nas folhas. Mas não conte para ele que eu te disse isso!

— Agora estou imaginando Levi soltando um grito nada másculo e derrubando alfaces no chão... - Você quase engasgou enquanto tentava reprimir uma risada. — Oh, deuses! Eu preciso caçoar dele por isso!

— Não! Você não fará! - Isabel também ria junto. — Ele vai me bater!

— Poxa, agora que farei questão de dizer-lhe nitidamente que a provedora desta informação foi você. - Riu alto quando viu a ruiva arregalar os olhos.

— Pelos deuses! Você é tão má!

Sem muitas outras informações, Isabel apanhou suas mãos e lhe forçou a pôr-se de pé. Abriu a porta e olhou para ambos os lados do corredor, conferindo se alguém estaria por perto, antes de puxá-la para fora e tomar rumo para alguma direção.

— Ei, onde estamos indo?

— Shiu! Não faça barulhos até eu dizer que é seguro! - O indicador em frente a boca, para enfatizar o pedido de silêncio.

— Vai me sequestrar é?

Hoje você usava um vestido tradicionalmente branco, mas desta vez o tecido descia até apenas seus joelhos. Com a aproximação do verão, estava cada vez mais incômodo usar mangas longas e vestidos compridos. Diferente das pantufas habituais, hoje também teria optado pelas botas que usara no dia que foi a praia. Nenhuma razão em específica para a escolha, mas parecia ter sido útil agora que estava sendo arrastada por Isabel para algum lugar.

She's A Killer- Erwin Smith X LeitoraOnde histórias criam vida. Descubra agora