Lívia
Eu levava uma vida comum, como muitos jovens da minha idade.
Mas levando em conta que eu só tenho 21 anos, sou uma mulher ranzinza.
Minhas amigas comem um dobrado comigo na tentativa de me fazer ter uma vida social.
Sem sucesso.
O máximo que conseguiam era me arrastar pro shopping, isso quando eu não estava com meu namorado, o Mike, ou no treino de artes maciais.Não vou mentir, não sou muito sociável, papai que o diga.
Ele vive me dizendo "filha, você precisa se divertir mais".
"Quem sabe um dia", era sempre minha resposta, enquanto o ajudava a preparar as massas dos pães.
Sim, meu pai é padeiro e também faz umas delícias de bolo. Modéstia parte, temos a melhor padaria da cidade; sempre há uma fila gigantesca de clientes para atender e mesmo com muitos ajudantes, fica difícil atender a demanda.
De uns tempos para cá comecei a pensar que meu pai é o motivo de todo esse movimento, pois haja mulher solteirona na porta.Logo, meu velho não é de se jogar fora.
Ele tem 1.85 de altura e um corpo atlético.
Sim, ele malha e é um coroa enxuto de 47 anos que arrasa corações.
Nunca entendi o porquê dele nunca ter se casado, já que minha mãe morreu quando nasci.
Até tentei bancar o cupido, mas não deu muito certo.
Ele é um homem solitário e não gosto nada disso.
Talvez, por isso, ele insista tanto em me fazer ter uma vida social.E foi por conta de sua insistência que aceitei ir acampar com minhas amigas. Aliás, ou era isso ou levar elas lá pra casa pra festa do pijama e tolerar a Suzan dá em cima do meu velho.
Que horror! Aquela garota tinha fogo no rabo.
Maressa, ao contrário, era doce e educada e sempre tratou meu velho com respeito e sem insinuações.
Não é como se minhas outras amigas mais distantes não dessem em cima dele, mas eu achava nojento.
Por sorte, ele não era tarado e não dava a mínima pra nenhuma delas.E lá estava eu arrumando minha bolsa pra passar o fim de semana na floresta.
Sério que eu faria mesmo isso?
Pensando bem, preciso de repelentes, um kit primeiros socorros, meu spray de pimenta, roupas de frio, escova de dentes... Já estou cansada só de arrumar essas coisas.
Mas não tinha jeito, não demora nada e ouço a buzina do carro da Maressa.
Jogo a mochila nas costas e desço a escada correndo.— Divirta-se filha!– meu pai diz, já à minha espera na porta pra me pôr pra fora.
Nossa, ele quer mesmo que eu vá.
Dou um abraço e um beijo estalado em sua bochecha.
Deus, se eu soubesse que essa seria a última vez, não teria saído desse abraço. Nunca.
Após me despedir dele, corro para o quarto e entro no banco traseiro, já que Suzan estava na frente com Maressa.— Pronta para os melhores dias da sua vida?!– Suzan me questiona.
— S-sim...– falo revirando os olhos.
— Mike vai estar lá!– Maressa avisa.
Arqueio uma sobrancelha, obviamente surpresa, pois não sabia que ele iria, mas procurei não dá importância ao fato dele não ter me dito nada, mesmo quando falei que eu estava indo para lá.
Mas tudo certo!
Os jovens da cidade costumavam ir no lugar com frequência para se divertir, beber, tomar banho de cachoeira e coisas não tão lícitas.
Ele não seria diferente.Em pouco mais de duas horas de viagem estávamos no local armando nossa barraca.
— Gente, estou com um mau pressentimento!– digo.
—Hum, lá vem ela... – Suzan desdenha.
— Calma, é sua primeira vez aqui! Além do mais, você só deve estar nervosa por Mike estar logo ali. – Maressa apontou com um sorriso sacana.
Dei de ombros, fingindo não me importar com a presença dele, na verdade, não me importava tanto. Gostava dele, mas não o amava.
Tínhamos um lance legal, mas só isso.— Finalmente...– Respiro aliviada quando terminamos de montar a barraca e nossos sacos de dormir.
Já é noite e ligamos as lanternas para iluminar ao redor e afastar os bichos.
Os rapazes, já estão cuidando da fogueira e não temos que nos preocupar com isso.— Vamos dá uma volta?– Maressa nos chama.
— Prefiro ficar por aqui! –Susan fala.
Pego meu agasalho e sigo minha amiga, afinal, a barulheira já começava a me incomodar. O céu estava lindo e estrelado.
O local onde estávamos era muito alto e a visão dali era incrível.
Aquela parte era descampada e tinha uma grande pedra reta que dava para eu e Maressa ficarmos à vontade ou sentadas ou deitadas.
Foi bom descobrir o lugar, mas já estava na hora de voltar; meu estômago exigia ser atendido.Quando nos aproximamos da barraca, ouvimos um barulho estranho e já me preparei pra lutar, só não me preparei para o que veria.
Mike e Susan juntos, transando.
O sangue subiu direto pra minha cabeça.— Desgraçados! – gritei.
Os dois se separam no susto e sou obrigada a olhar para os dois tentando se cobrir.
— Eu posso explicar...
— Cala a boca vadia! – Mike grita para ela e tenta vir para mim — Amor...
— Se me chamar de amor outra vez, vou te partir em dois!– ameaço. — Fique longe de mim, ok?
Olho para Maressa na intenção de perguntar se ela sabia daquilo, mas ao ver suas faces vermelhas e seu semblante raivoso, já percebi que foi uma surpresa pra ela também.
Pior mesmo, foi quando Susan saiu da barraca.
Ela acertou um tapa na cara dela.— Ela é nossa amiga sua vaca! –Maressa grita.
Por sorte, estamos afastados dos outros e não chamamos atenção de ninguém.
Odeio chamar atenção, por isso não peguei aqueles dois na porrada.
Não consigo nem ficar arrasada por Mike ter feito isso comigo, mas Susan era uma das minhas melhores amigas.
Aquela traidora.— Recolha suas coisas da nossa barraca!– grito para ela.
— E para onde vou?!
— Para bem longe de mim se tiver amor a sua vida!– aviso.
O canalha do meu ex sai em silêncio, afinal, ele sabe do que sou capaz.
Frouxo!
Suzan sai em seguida, sendo enxotada por Maressa.— Vai logo que ainda temos que desinfetar a barraca!– ela diz, o que quase me faz rir.
Quando os dois se afastam, ela me abraça apertado e diz:
— Eu sinto muito...
— Não sinta! Agora temos muito mais espaço na barraca! – falo fazendo um cafuné nela que sorri.
Depois de praticamente virar tudo do avesso e jogar perfume em tudo, entramos e fomos pegar algo para comer.
— Lívia, isso aqui ainda tem cheiro de sexo misturado com perfume.
— Ecaaaa! Que tal irmos para nossa pedra?– sugiro.
— Otima ideia! Vamos levar nossos sacos de dormir e ficamos por lá vendo as estrelas e Lívia, se você quiser, amanhã cedo vamos embora.
Agradeço a ela por essa compreensão, porque depois do que aconteceu, não quero mais ficar aqui. Só que retornar a noite pra cidade seria estupidez e um perigo desnecessário.
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Outro Mundo: Contos Alienígenas
FantasyNem toda luz no céu é uma estrela cadente, portanto, cuidado ao sair a noite para lugares ermos. Você pode acabar à venda num leilão alienígena. Sim, aliens existem e eles são de todos os tamanhos, formas e cores, mas cuidado com aqueles que são mai...