Capitão Yillaweh
Eu estava passando pelo corredor onde os candidatos nobres estavam e mesmo com o barulho dos fogos, não teve como não ouvir os gritos de uma fêmea. Parei diante da porta de onde vinham os gritos e simplesmente não pude ignorar isso.
Bati e um macho me atendeu. Era um arturiano, se não me engano, o general Griwinshay. Ao pé da cama vi uma fêmea no chão, ensanguentada, embora ele tentasse impedir minha visão com o próprio corpo.— Estás bem?
— Sim! – ele me diz.
— Não estou falando com o senhor, mas com a fêmea...
Ela me olha de esguelha e se encolhe ainda mais, mas balança a cabeça afirmando que sim. Não acredito.
— Está tudo bem aqui, capitão! – Griwinshay fala calmamente — Já pode voltar para seus afazeres...
— Fêmea, tem certeza que está bem?– insisto ignorando esse macho asqueroso.
A reputação dos machos arturianos o precede. Eles não eram bons nem com as próprias companheiras, o que dirá com suas escravas sexuais. E pelo estado dessa pequena humana, ele já a machucou bastante.
Ela me encara e começa a chorar.— Cale-se fêmea inútil!– o general grita com ela.
— CHEGA! Essa fêmea vem comigo...
— O senhor não pode...
— Tem certeza que quer enfrentar nossas leis? Quer mesmo que eu leve isso ao regente?
Sinto o ódio emanar desse macho, mas ele me dá passagem e a passos largos chego até a humana, que se encolhe com minha aproximação.
— Fique calma! Vou cuidar de ti agora!
Ela me encara com um olhar assustado, mesmo assim me deixa chegar perto.
Peço permissão e a pego no colo.
O olhar do general sobre ela era glacial e ela esconde o rosto em meu ombro.
Ignoro o macho totalmente e a tiro dali.
Ele não se opôs porque sabia que estava descumprindo as leis em nosso território.
Qualquer cidadão de Heneida poderia interferir em situações de abuso contra qualquer fêmea.
Levei a humana direto para a sala de tratamento que por conta da abertura do torneio, estava completamente vazia.Sento-a na cama e observo seus hematomas, uns recentes e outros mais antigos. Seu vestido está destruído e expõe muito do seu corpo frágil.
— Eu preciso saber se ele te machucou em mais lugares além dos que estou vendo?
Ela me olha com olhos vermelhos de tanto chorar. Espero que ela compreenda o que estou perguntando.
Ela meneia um não com a cabeça. Não sei se ela está falando a verdade ou se só diz porque está com medo.— Ei, meu nome é Yillaweh...
— Deus?
— Como é?
— O significado no meu mundo é Deus...o seu nome, sabe?
— Ah, claro! Aqui significa guerreiro!
Ela sorri timidamente.
— Meu nome é Jéssica!
— Meu nome só não é mais bonito do que a senhorita...Escute, vou passar isso em você e se sentirá melhor...
— Gel curativo?
— Conhece?
— O general me trouxe aqui com a finalidade de me curar com seus remédios! Ele já tinha perdido Désirée e não queria levar prejuízo comigo também...
— Como assim?
— Ele quis abusar de mim e eu resisti...bom, fui espancada e me quebrei inteira, mas pelo menos ele não fez o que queria. Acho que têm nojo de mulher doente... Daí me trouxe para cá e me curou para poder me estuprar...
Ela começou a soluçar novamente e acabei me aproximando mais e a abraçando.
— Não precisa falar disso se não quiser...
— Está tudo bem, graças a você ele não conseguiu... Você me salvou! Obrigada! Obrigada!
Ela me aperta, se aconchegando ainda mais em meu abraço.
Sei bem do que ela estava falando. Os machos arturianos eram nojentos e hostis com fêmeas, nem mesmo as suas eram poupadas. Quando uma delas adoeciam, era largada para se curar sozinha ou morrer.
A pequena humana levou sorte de não ter sido abusada e dele tê-la trazido até aqui para curá-la.
E graças aos deuses consegui interceder por ela à tempo. Do contrário, ela teria morrido. As humanas eram frágeis e provavelmente ele a teria destroçado.Passei o gel em seus ferimentos e vejo o alívio que sente; sua respiração se abranda.
— Está pronto, daqui algumas horas os cortes terão sumido completamente.
— Obrigada...
Ela parece sem jeito. Percebo que quer me dizer mais alguma coisa.
— Fale!
— Ah, não quero abusar da sua boa vontade, mas é que faz tempo que não tenho uma refeição decente...você poderia me dá algo para comer, por favor?
Sinto meus fluidos ferverem nas veias. Como pode um macho tratar uma fêmea daquela forma? Meus punhos estão cerrados e ela me olha assustada.
— Olha, esquece o que pedi...
— De modo algum, vou alimentá-la com o que temos de melhor.
O sorriso em seu rosto quando falo isso é genuíno.
A deixo ali descansando, mas me certifico de deixar um guarda na porta, para no caso daquele arturiano maldito vir atrás dela. Os dias dele estavam contados e pobre dele se fosse meu oponente no torneio.
Em poucos minutos já estou retornando com uma bandeja e um vestido que arrumei com uma serva.— Aqui está!– digo pondo a bandeja em seu colo.
Trouxe um pouco de cada sabor que encontrei na área de refeições, eu diria que coloquei comida suficiente para alimentar três fêmeas. E a humana gosta do que ver, seu apetite é voraz.
Ofertei-lhe suco acrescido de vitaminas para fortalecê-la.— Estava delicioso! Obrigada!
— Podes comer quanto mais queira, é só pedir! Ah, pegue isto, ali tem um cômodo reservado para que possas se trocar, perdoe-me se não é do seu agrado, mas foi tudo que pude conseguir às pressas.
Outra vez, vejo seu olhar de gratidão e não gosto disso. Não estou fazendo nada além da minha obrigação. Todo macho devia sentir-se honrado em poder cuidar bem de uma fêmea. Eu que me sinto grato por ela confiar em mim para protegê-la, ainda mais depois de tudo que passou na mão daquele ser asqueroso.
Ela é muito ágil e não demora nada para se trocar, mas quando retorna seu semblante está mudado. Parece tensa ou preocupada.
— Yillaweh, sei que agora serei sua escrava, mas eu imploro que não seja escrava sexual...olha, eu posso trabalhar em qualquer coisa que me mandar, só por favor...
— Quieta fêmea! O que julga que sou?– pergunto com certa indignação mesmo entendendo o lado dela.
Ela arregala os olhos para mim, em absoluta confusão.
— Eu pensei que...ah...
Claramente ela não sabe o que dizer.
— Pensou que eu iria te tomar como escrava sexual e abusar de ti? Pois acredite, não terei contato íntimo contigo, a não ser que me peça. És minha convidada a partir de agora e quanto a questão de trabalhar, poderás, sim, fazer isso, mas receberá seus honorários como todos os outros servos. E assim que surgir uma viagem à Terra, eu a mandarei de volta, se desejar...
Novamente sou surpreendido com a atitude dela que me abraça bem apertado. Coloquei os braços em volta dela e apreciei a sensação que seu corpo quente me causava. Em relação à minha estatura, ela era bem pequena e aparentemente frágil.
— Obrigada por estar sendo tão bom comigo!– ela sussurra.
— Acredite, o prazer é todo meu...
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Outro Mundo: Contos Alienígenas
FantasyNem toda luz no céu é uma estrela cadente, portanto, cuidado ao sair a noite para lugares ermos. Você pode acabar à venda num leilão alienígena. Sim, aliens existem e eles são de todos os tamanhos, formas e cores, mas cuidado com aqueles que são mai...