° MUNDO ESTRANHO °

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Lívia

O que me lembro?
Bom, lembro de pular de uma sacada para a morte.
Eu realmente preferia morrer do que ser estuprada por aquele alien psicopata dos infernos.
Agora, como caí de pé e não me quebrei inteira, não faço ideia e nem tive tempo para pensar nisso.
O próximo passo foi invadir uma nave esquisita e tentar a sorte, coisa que, aparentemente, eu não tinha.
Quando me me escondi ali, terminei dormindo ou desmaiando.

Ao acordar me deparei com a mulher mais bonita que já vi; parecia um anjo e era estranhamente familiar para mim. Sinto uma vontade inexplicável de falar com ela. Gosto de como me olha, a ternura em seu olhar me faz sentir em casa.

— Oi!

— Olá, querida! como se sente?

— Bem, eu acho... onde estou? Quem é você?

— Sou a princesa kailyn! Quando se sentires melhor, conversaremos. Por enquanto, basta saber que estás segura conosco.

— Segura? Ahhhh... isso é música para os meus ouvidos...

A letargia em meu corpo é algo que não consigo ignorar. Pela sensação, imagino ter sido dopada. Permito-me ir, sei que estarei segura. Não sei como tenho essa certeza e nem de onde vem.
Quando acordei, senti que estava sobre algo macio, deu até vontade de continuar a dormir, mas então ouvi passos e me sentei na cama.

Uau, lindo!

— Minha senhora, que bom que despertou!

— Quem é você?

— Khepere, sua dama de companhia!

Mas que nome é esse? Melhor ignorar! Prioridades, Lívia! Prioridades!

— Onde estou?

— Heneida, reino Azirys!

— Ok! É muita informação para poucas palavras!– suspiro — Deus, isso não tem fim! Afinal, por que uma garota azarada como eu teria a sorte de ser só um sonho? Inferno!

Só na última semana: fui traída, abduzida, casei, o cretino e suposto marido tentou me foder, fugi, perdi minhas amigas...hum, falta o que mesmo? Ah, vim parar em outro planeta. Pelo visto, vou ter que fugir de novo.
Apesar da novidade, eu não sentia medo aqui, o que era um contraste com a situação que eu estava vivendo. Pelo contrário, sentia-me acolhida.
Síndrome de Estocolmo? Hum, poderia ser.

Eu precisava analisar esse lugar, portanto não ofereceria resistência à mulher na minha frente. Desde que estive como prisioneira daquele psicopata que já sei como são os procedimentos desse povo.

Khepere me ajudou com o banho, o que foi bem vindo, já que o banheiro tecnologicamente estranho seria difícil para mim. Ela me providenciou um vestido longo e decente, diferente daquela cortina transparente que eu usava.

— Venha comigo! – ela chamou assim que acabamos.

Fiquei receosa, mas eu precisava enfrentar essa situação de frente, então a acompanhei em silêncio. Confesso que fiquei deslumbrada com a riqueza do lugar, era tudo muito chique, mas não estravagante.
Entramos numa sala maravilhosa e logo à frente vejo um homem e uma mulher sentados lado a lado.
Certo! A mulher é a Kailyn, ela se apresentou para mim.
Não sei porque, mas não consigo parar de encará-la.

— Seja bem-vinda!– o homem rompe o silêncio.

Olho para ele. Seus cabelos são mesclados de branco e negro, enquanto que o cabelo da mulher ao seu lado possui um cor vibrante, quase vinho.
Ele é muito grande e musculoso. É de dá medo! Não mais que o tal Hámmon.

— Agradeço sua hospitalidade!– começo -Mas se não se importam, eu gostaria de voltar ao meu lar.– digo firme nas palavras.

— Aqui é sua casa agora...– a mulher é quem diz.

— Como? Vão me manter prisioneira, também? Será que terei de empreender outra fuga?– falo de forma prepotente e desafiadora.

A mulher ia falar novamente, mas o homem não permitiu

— Estás com a razão!

— Estou?– confesso que não esperava por isso.

— Sim! Só peço que nos ouça antes de tomar qualquer decisão.

Ok! Parecia justo!

Ponderei, afinal, nada do que disserem me faria mudar de ideia mesmo. Ledo engano!
Mas, vamos lá...
Então, assenti com a cabeça e ele começou a falar.
Abri a boca e fechei, sem saber o que dizer.
Ali, inesperadamente, tive minhas certezas abaladas com a revelação de que pertenço a dois mundos distintos e distantes.
Aqueles que estavam à minha frente, eram meu avô e minha mãe.
Meu Deus, cresci achando que ela tinha morrido.
Sempre ouvi meu pai falar de como a conheceu, de como se apaixonara e o quanto foram felizes juntos, mesmo no pouco tempo que estiveram juntos.
Só que ela morreu algum tempo depois que nasci, eu ainda era só um bebê.
Tudo não passou de uma mentira.

Kailyn conheceu meu pai numa de suas viagens à Terra e logo se apaixonaram, o resultado fui eu. Ela vivera por muito tempo fugindo do pai, meu avô, mas foi encontrada e eu também. Segundo ele, isso foi uma surpresa e teria me trazido para cá se Kailyn não tivesse dado fuga ao meu pai e a mim.

— Isso é demais pra mim!– digo e vou saindo.

— Filha?

— O quê? Não, não! Eu vou sair, não venham atrás de mim... Nenhum de vocês...

Vejo meu suposto avô segurar minha suposta mãe pelo braço e dizer:

— Deixe-a sozinha! Conheces os humanos melhor do que qualquer um de nós para saber que ela precisa de espaço...

Sensato!

Tranquei-me no quarto que estava antes e chorei amargamente e olhe que não sou de chorar, mas ou era isso ou sair quebrando tudo.
Sequer toquei nas refeições que Khepere trouxe para mim e a noite não foi das melhores.
Sério que dentre tantos humanos na Terra eu tinha que ser meio Alienígena? Estaria mais conformada se tivesse os poderes do Superman, ao menos poderia dá uma surra naquele imperador metido.
Só de imaginar o que ele me fez fazer, eu sentia vontade de esganá-lo.
Alien maldito!

Na manhã seguinte, Kailyn, aliás, minha mãe, veio me ver logo cedo.

— Estás melhor?

— Na medida do possível!– fui franca.— Sinto muito por ontem.

— Depois de conviver com o seu pai, consigo entendê-la.

— Você o amava?

— Ainda o amo! David foi o melhor sonho de felicidade que já alcancei!– ela diz e passa os dedos levemente em minha bochecha — Mas ter você foi o mais próximo que pude chegar da humanidade, de sentir-me humana, como o seu pai. Você despertou o que há de melhor em mim assim que a peguei nos braços pela primeira vez...

Fiquei muito emocionada com suas palavras, pois sabia que eram sinceras. Por impulso, a abracei.

— A senhora não sabe como desejei esse abraço! – digo entre lágrimas.

— Eu também querida!

Ainda conversamos longamente e ela me perguntou muita coisa sobre meu pai. Expliquei que tínhamos uma padaria que fazia muito sucesso e que nas horas vagas, ele estudava ufologia, o que só agora fez sentido para mim. Acredito que ele estava procurando por minha mãe, assim como devia estar procurando por mim nesse momento.
Fizemos uma refeição juntas e depois fui conduzida para a sala de reuniões do meu avô, que me abraçou de forma calorosa e depois me solicitou continuar a conversa do dia anterior.

Não sei o porquê, mas isso me causou um arrepio.

Outro Mundo: Contos AlienígenasOnde histórias criam vida. Descubra agora