° NÚPCIAS °

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Lívia

Não sei o que está acontecendo comigo. É como se algo estivesse faltando.
Desde que me levantei que tenho essa sensação de estranhamento.
Sei que pertenço a esse lugar e mais que isso, pertenço ao imperador, mas por que me sinto assim?!
O luxuoso quarto onde eu estava parecia estranho e ao mesmo tempo tão familiar.
Estive aérea enquanto uma dama me ajudava com as vestes e tudo mais.
Depois de arrumada, fui conduzida por um vasto corredor até uma luxuosa sala.

Lustres de cristais pendiam do teto dando um ar sofisticado ao teto abobadado.
As colunas se revestiam de dourado com pedras preciosas encrustadas e o chão polido brilhava numa tonalidade ouro.
Logo adiante, um par de olhos ametistas estava à minha espreita.
Sinto meu corpo tensionar, mesmo assim, sigo até ele e quando estou perto o suficiente, ele se ergue para me receber.
Céus, ele é um gigante perto de mim. Nem chego ao seu ombro.
Ele poderia me esmagar como a um inseto se desejar.

Deponho minha mão na dele e quando observo a diferença de tamanho, retraio o braço de forma instintiva.

- Algum problema?- ele sussurra tomando minha mão de volta entre as suas.

- Não, meu senhor!

Recitei essas palavras, embora algo dentro de mim estivesse revolto.
Não sei explicar, mas era como se eu estivesse amarrada e amordaçada dentro de mim mesma.
Ele se vira para as poucas pessoas presentes e anuncia.

- Eis a minha noiva!

Vejo os semblantes se tornarem confusos e não consigo entender o motivo.

- Senhores, essa fêmea aceita os riscos de ser minha companheira e de gestar minha prole!

Riscos?

Meu corpo volta a ficar tenso.
Por quê?
Olho para ele, aliás tenho que virar o rosto muito para cima, para poder encará-lo.

Fuja!

Essa palavra reverbera em minha mente e sinto minha respiração pesada.
De repente, ele segura meu rosto com as duas mãos e se inclina para mim.

- És forte, fêmea! Ainda estás lutando aí dentro?!

A intensidade do seu olhar sobre mim é esmagadora.
É como se alguma coisa estivesse sendo arrancada de mim.
Termino me virando para o pequeno público e aceno.
Era como se apenas meu corpo fizesse isso de forma involuntária e minha alma vagasse por lugares longínquos.

Durante os dias que se passavam, o imperador me levava para alguns lugares em seus domínios e me apresentava como sua noiva.
Eu estava lá, mas também não estava.
É compreensível?

Naquela manhã em especial, acordei com um mal estar terrível. Sonhei com uma mulher me pedindo socorro, alguém sem rosto, mas que parecia tão familiar.
Saí do quarto correndo sem nem saber para onde ia. Parei próximo ao cais, onde havia uma grande extensão de água; um oceano, talvez.
Fiquei ali parada, tentando me encontrar naquela paisagem.
Havia uma voz gritando dentro de mim, dizendo que eu não pertencia àquele lugar.

Sei que passei muito tempo ali.
Vi quando sentinelas se aproximaram de mim, junto com a mulher que tivera sido minha dama nós últimos dias. Frida, se não me engano.

- Minha senhora, por que fez isso? Não devia andar por aqui sozinha!- ela me diz claramente preocupada.

- Por acaso sou prisioneira do imperador?- interrogo deixando-a sem reação.

- De modo algum! - ouço aquela voz dizer.

Era ele. O imperador em pessoa.

- O modo como me tratam me diz o contrário.

Nesse momento, ele faz sinal para que todos se afastem e toma minha mão entre as suas.

- Minha pequena fêmea, o que a está desagradando?

Sinto um arrepio me percorrer e já nem sei o que estou fazendo aqui fora. Parece tão errado agora.

- Perdão! Acho que estou nervosa com o dia de amanhã.

- É natural!- ele diz beijando minha mão- Não quero que se sinta minha prisioneira, mas deves convir que até um homem poderoso como eu tem muitos inimigos.- completou muito cortês.

- Sim! Tens razão, meu senhor! -Concordo - Se me permite, voltarei para os meus aposentos, estou indisposta!

- Faça isso!

Saí dali o mais rápido que pude, mas com Frida em meu encalço.
Eu queria gritar, mas não sabia o porquê.
Meu ser estava revolto e por isso, passei o resto do dia inquieta e sem apetite.
Não comi nada do que me foi servido.
Aliás, até a comida era estranha, embora minha mente dissesse que era familiar.
Eu estava enlouquecendo. Não tinha outra explicação.

No dia seguinte, acreditei que estaria melhor, mas não aconteceu.
Muitas damas vieram me ajudar a me arrumar para a celebração de união. Não resisti a nada, nem as roupas, nem quando fui levada para o imperador, nem quando fui anunciada como imperatriz. Não resisti quando me levaram de volta aos aposentos e fui instruída a me preparar para a inseminação.

A NADA. NÃO RESISTO A NADA, MAS DEVERIA.

Agora é como se minha mente gritasse comigo.
A lembrança de uma mulher ao lado do general Khalil, se comportando como um animal de estimação, fez meu ser se revoltar.
Eu andava pelo quarto com punhos fechados, como se fosse socar alguém.

- A senhora está bem? - Frida me questiona.

- Sim!- garanto.

Obviamente uma mentira.
Minha finíssima roupa de seda não me fazia sentir menos pesada.
Pedi para que ela saísse, enquanto eu aguardava que viessem me buscar para a inseminação.
Voltei a andar de um lado para o outro, se não fosse o tapete de lã, eu já estaria com calos nos pés.

Canalha.

Minha mente grita tão alto que eu jurava que alguém tinha gritado em meu ouvido.

- Meu Deus do céu...- balbucio.

Minhas pernas fraquejam repentinamente.
A mulher com Khalil é minha amiga Maressa.
Merda!
Lembrei-me de tudo.
Corro para a sacada e além de estar muito alto, tem muitos sentinelas de guarda daquele lado.

- Calma, Lívia! Você precisa se acalmar...ah, droga...vamos, pense! Pense, caramba!

Respirei compassadamente. Meus batimentos voltaram ao normal.
Eu estava ciente do procedimento que me levariam logo mais, pois o retorno da memória antiga não alterou as que adquiri nós últimos dias.
Então, uma ideia iluminou minha mente e indo até a porta, pedi a sentinela de plantão que me levasse aos aposentos do imperador.

- Não posso senhora!- ele se negou.

- Vai recusar uma ordem de sua imperatriz? Vamos ver o que sua majestade tem a dizer sobre isso! - ameaço.

A contra gosto, ele fez o que pedi.
Entrei nos aposentos do infeliz e a porta foi fechada atrás de mim.
Cheguei ali disposta a mentir; diria que estava naqueles dias, se é que isso impediria um procedimento assim.
Não entendo nada disso.
Mas, então, vi a espada dele na cabeceira junto à cama.

E por que não?

Matá-lo seria bem melhor e eu não teria o menor remorso de fazer isso.
Caminhei na direção da sacada e vi que era protegida por uma espécie de vidro transparente, ao contrário do meu quarto.
Devia ser algum aparato de segurança.
Toquei e fiquei deslumbrada com o tanto de pontinhos luminosos que apareceram no meu campo de visão.

- O que faz aqui?

A voz do brutamontes alienígena ecoou até por meus ossos.

Estou ferrada!

Outro Mundo: Contos AlienígenasOnde histórias criam vida. Descubra agora