° O INIMIGO ESTÁ A ESPREITA °

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Lívia

-— Que tipo relação você mantém com o imperador de Alzihah? – meu avô me questiona.

Opa, direto e reto. Nossa!

— Quero que aquele canalha morra!

— Haaliyah, eu preciso saber...

— Haaliyah? O que isso significa?

— Foi o nome que dei a você...– minha mãe fala.

E mais essa agora.

— Hum, me chamem de Lívia, ok?

— Haaliyah, a inseminação foi feita?

Poxa, ele parecia estar por dentro de tudo afinal.

— Ele é sempre assim?– pergunto a minha mãe tentando mudar o foco do assunto.

— Sim! E você se parece mais com ele do que imagina. – ela diz com um sorriso.

— Ainda estou esperando sua resposta, Haaliyah!– Ele nós interrompe com semblante sério.

— Não vai mesmo desistir de me chamar desse nome?– tento mais uma vez mudar de assunto e sei que já estou parecendo uma idiota.

— Não! E responda o que perguntei...

A leve alteração em sua voz me fez estremecer.

— Não, não! Na hora que era para fazer o procedimento, invadi os aposentos dele, o seduzi e tentei matá-lo...

— Você fez o quê?

O brado dele quase me fez saltar da cadeira de susto.

— Hum... Tentei matá-lo?– falei sem graça - Mas ele mereceu...

— Não estou falando disso, a morte dele não seria de todo ruim...

Aquela conversa estava cada vez mais estranha. Se ele não estava bravo porque tentei matar aquele cretino, era por que então?
Minha mãe deve ter visto minha confusão e explicou que ele estava falando sobre eu ter seduzido o imbecil.
Oras, o que tem demais nisso? Fiz o que estava ao meu alcance, caramba.

— Você não compreende a gravidade do que fez, não é?– a voz do meu avô é de preocupação.

— Ok! Agora estou assustada...

— Diga exatamente o que aconteceu, sem ocultar nada! – ele é incisivo.

Mas que merda! Não quero falar disso com eles, só com Maressa.
Droga, ela é minha mãe e ele meu avô.
Como vou dizer que me esfreguei num homem sem roupa.
Sinto minhas bochechas queimarem só de pensar nisso.

— Não quero falar disso...

— Fale, eu exijo...

Mas que velho insistente.
Percebi que ele não desistiria e não teve jeito. Narrei tudo nos mínimos detalhes e comecei a suar frio com aquela situação vergonhosa.
Quando acabei de falar, só queria um buraco bem fundo pra me enfiar dentro.
Não tinha como isso piorar, ou tinha?

— Agora tudo faz sentido! Você o despertou para algo primitivo, que os seres da geração dele não conhecem. Por isso, ele não abriu mão de reclamar seu direito, ele a quer de volta.

— Como assim? O que quer dizer?

Agora estou realmente apavorada.

— Seduzí-lo foi uma péssima ideia. Sua ação desencadeou nele uma reação química que o ligará para sempre a você.– minha mãe me diz

— Ah, então é isso? Pouco me importa, para lá eu não voltarei! – desdenho.

— Tu não sabes o que diz! – meu avô diz e sinto sua irritação pungente — És uma princesa, então se comporte como tal...

— Princesa? Eu mal cheguei aqui e já querem enfiar um título goela abaixo em mim? Escutem aqui...

— Insolente! Como se atreve a falar comigo assim?– ele interrompe se levantando.

Eu também faço o mesmo e dou uns passos para trás.

— Perdoe-a meu pai, ela ainda não conhece nossos costumes...– minha mãe intercede.

Meu avô recua e volta a se sentar. Pensei que o velho pularia no meu pescoço. Misericórdia!

— Com o que fez, deixastes duas opções ao imperador: ou ele a tem ou a mata para se livrar da ligação que os une. Espero que ele decida tê-la.

— Pois tenho uma terceira opção: ele que aprenda a conviver com essa ligação ou sei lá o quê, porque daqui vou direto para a Terra.– digo muito brava — Agora, se me dão licença, irei me retirar!

Falo e já vou no rumo da saída. Não há mais o que conversar.

— Teimosa!

— Velho ranzinza!– resmungo.

— O que disse menina?

— Eu? Nada...– me faço de desentendida.

— O que ela quis dizer com isso?– Ouço ele perguntar pra minha mãe.

— Ela o chamou de mal humorado...

Agora eu estava ouvindo atrás da porta. Não recrimine, fiquei curiosa.

— Mas que afronta! Ela age assim e ainda me chama de mal humorado?

— E o senhor esperava menos de quem enfiou uma espada no peito do poderoso Hámmon?

— Pois trate de ensinar boas maneiras a ela...

Mas que velho ranzinza!
Saio dali antes que me peguem ouvindo atrás da porta. Ando por alguns minutos e vou sair num jardim interno com um chafariz.
Agora simplesmente não consigo parar de pensar em Maressa.
Meu Deus, como será que ela está? Pelo que está passando? Ao menos sei que não foi estuprada por aquele brutamontes.
O remorso de não ter, ao menos, tentando salvá-la me corroía por dentro.
Tive vontade de pedir ajuda ao regente, meu avô, mas fiquei com medo de receber uma negativa.
Então, lembrei que minha mãe poderia mediar essa situação.

Saí dali correndo e fui procurá-la, mas para minha surpresa, ela explicou que não poderiam fazer nada, pois diferente de mim, Maressa não tinha ligação alguma com sua raça que pudesse ser usada como barganha.

— Se não podem fazer nada, me mande de volta pra Terra. Não quero ficar aqui! — fiz birra.

— Você não entende nossas tradições. Acaso quer que comecemos uma guerra? Quer que pese sobre sua cabeça a responsabilidade de sacrificar milhares de vida para salvar apenas uma?– ela foi dura comigo — Você realmente não se comporta como uma princesa, mas como uma menina mimada!

Poxa, eu não merecia ouvir isso. Passei por muitas coisas nos últimos dias e ela me trata assim?
Corri para o meu quarto e me tranquei lá para ninguém me incomodar. Vez ou outra eu ia até a sacada e observava o movimento lá fora, mas me limitei a isso.

— Devia descer para um passeio! – Khepere me sugeriu, inclusive insistiu por algumas vezes, mas não cedi.

A noite, minha mãe veio me ver e a recebi, afinal, já havia me acalmado.

—Desculpe pelo modo que falei!

— Não se preocupe! A senhora tem razão, eu estava pensando só em mim!

— Se é assim, tenho algo mais a lhe dizer! Não a impediremos se quiser partir, mas precisa estar ciente de que seu pai estará em risco se o fizer. Não há como protegê-los lá.

— Do que está falando?

— O elo que liga Hámmon a você o fará achá-la onde quer que se escondas. Aqui em Heneida estarias segura e consequentemente, seu pai.

Só agora eu entendia a gravidade do que provoquei. Mas eu não tinha como saber.
Eu estava de mãos atadas e não havia nada a se fazer.
Jamais iria pôr meu pai em risco, portanto, o remédio era ficar aqui, ao menos por enquanto.
Só pedi um pouco mais de paciência comigo para que eu pudesse me habituar à nova vida aqui, o que não seria nada fácil.
E imaginar que não veria mais meu pai fazia meu coração sangrar.

Outro Mundo: Contos AlienígenasOnde histórias criam vida. Descubra agora