° UMA COMPANHEIRA PARA MIM °

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Hámmon

Aquela fêmea humana ultrapassou todos os limites aceitáveis.
Ela acertou meu rosto como nenhum guerreiro jamais ousou.
Sou o imperador de toda uma galáxia e respeitado e temido por todos que estão sob meu poder.
E uma fêmea vinda de uma galáxia primitiva me fez sangrar?!
Isso não ficaria assim.

Agora estou me dirigindo ao laboratório, porque fui informado que a fêmea é extremamente resistente, até mesmo aos nossos métodos invasivos.

— Vocês não vão entrar na minha cabeça! Evoluíram e é só isso que têm?!

É o que ouço a fêmea gritar assim que entro no recinto.
Ela ria e chorava ao mesmo tempo, enquanto se contorcia na mesa com as ondas de choque.
Vejo ela perder os sentidos e o semblante confuso dos mestres.

— Mesmo inconsciente, ela não nos deixa entrar em sua mente.- Kiros me diz.

— Como não?

— A fêmea é imune aos nossos métodos! Nunca vi nada parecido. Poucas raças superiores o são. Se continuarmos tentando submetê-la sua luz se apagará.

Ainda mais irritado me aproximo da mesa e nesse momento ela retorna da síncope.
Seu olhar sobre mim é feroz e desafiador.

— Veio me torturar pessoalmente?!– ela me questiona com um sorriso divertido.

— Depende do quanto mais resistirás à mim...

— Ah, estou ótima!- ela desdenha.

— Senhores, vamos recomeçar os procedimentos?! Ela pediu dor, concedam-lhe  seu desejo.

A fêmea, desta vez, não chorou ou gritou.
Vi seus punhos fecharem quando a energia a atravessou e como seu corpo se enrijeceu.

— É só isso?!– ela me provoca.

— Intensifiquem!– ordeno.

— Mas senhor...– Kiros quis intervir.

— FAÇA!

A potência máxima a deixou novamente em síncope e imediatamente uma de suas memórias foi acessada. As imagens apareceram nítidas nos monitores.

— Ela está sonhando com um ancestral!– Kiros anuncia.

Sim, era uma imagem de sua tenra infância; uma memória que provavelmente ela já não teria acesso, devido a sua pouca idade. Ela era só um bebê ali e em circunstâncias naturais os humanos não tinham acesso a esse tipo de lembrança.
Ela sonhava com seu avô.

— INCOMPETENTES! –Brado ao reconhecer o macho na imagem — Acaso não fizeram uma avaliação nela antes de começarem os procedimentos?!

— Não julguei necessário!– o chefe do setor admitiu, enquanto me olhava em absoluta confusão.

— Ela é descendente do regente de Heneida, nosso aliado militar.– Falo zangado — Como puderam deixar algo assim passar despercebido?!

— Senhor, isto é desconcertante! Cruzamento entre espécies não é algo novo para seres evoluídos como nós, mas com humanos? Isso vai além do que imaginávamos, eles são uma espécime primitiva. – Kiros mostra-se aborrecido — Não entendo como o povo de Heneida escolheu misturar seu DNA com uma raça tão inferior quanto essa.

Refleti um pouco em suas palavras, mas não fiquei surpreso. O regente daquele planeta era muito condescendente com outros povos.
Agora eu estava com um impasse em mãos.
Então, fui até a fêmea e segurando-lhe o rosto, a chamei:

— Acorde, querida! Olhes para mim!

Ela abre os olhos ao meu chamado e me encara.

— Esqueça tudo! Sua vida pertence a mim, seu imperador, seu reino...

Inebriada  por meu poder, ela assente e volta a dormir.

— Tudo teria sido mais fácil se tivesses me deixado fazer isso desde o princípio.– digo me sentindo vitorioso.

— O que pretende fazer, meu senhor?!

— Não importa quem ela seja, ela ainda é minha! Vou tornar minha vingança contra essa fêmea oficial! É hora de termos uma imperatriz.

Noto o semblante de Kiros ficar sério. Ele sabe bem o que isso significa.
Vou tentar a procriação com essa fêmea e mesmo que ela seja uma híbrida, dificilmente resistirá a uma gestação com um filho meu.

Por conta de uma catástrofe natural, há milhares de ciclos, nosso povo foi quase extinto e os sobreviventes sofreram uma mudança genética que nos forçou a readaptação.
Além disso, as muitas habilidades e dons que possuímos foram aprimorados, resultando numa raça mais forte e praticamente imortal.
Com o tempo, percebemos que os novos poderes trouxe consequências devastadoras. Não conseguíamos mais procriar entre nós e tivemos de buscar outras raças no universo.
O planeta Terra foi imediatamente descartado por ser tão primitivo.
Não aceitei misturar nosso DNA, ainda assim, as fêmeas humanas serviram de receptáculos para receber óvulos fertilizados de nossas fêmeas com seus companheiros; contudo, a experiência foi desastrosa, as humanas não resistiam à gestação ou os bebês não vingavam em suas estruturas frágeis.

Mas por serem extremamente adaptáveis e suscetíveis aos nossos poderes, mantivemos humanos como escravos.
Poucos deles, que estão sob controle de natalidade para não se proliferarem.

Agora eu tinha uma fêmea híbrida, mistura de uma raça inferior com uma raça guerreira e única raça em milhares de anos luz de distância capaz de se opor ao meu poder.
Isso sim, era uma grande surpresa.
Eu, como imperador de uma galáxia, não me submetia às leis como os outros do meu povo ou os que estavam sob minha jurisdição.
Eu não tinha descendentes e só poderia me dá ao luxo de tentar com minha própria companheira, portanto, aquela híbrida seria minha companheira e pagaria com a vida por ter me desafiado.

Eu poderia simplesmente acabar com ela agora, mas queria vê-la agonizar.
Seria bem mais divertido.
Sim, ela receberia a forma mais pura de minha semente em seu ventre e isso acabaria com ela.
Uma inseminação com uma semente modificada seria seu fim.

De todo o povo de Alzihah, minha família foi a mais afetada pela catástrofe, pois estivera no epicentro de tudo. Isso nos tornou ainda mais poderosos dentre os Sobreviventes.
Não era atoa que as fêmeas de outras espécies me evitavam. Tinham medo de morrer se tivesse que carregar um herdeiro meu.
Eu não as culpava.
E quanto as nossas, nem mesmo nossa mais avançada tecnologia pôde dá um jeito de fazê-las gestar em seus próprios corpos, e também, as experiências com implantes de casulos gestacionais deram errado.
Parecia uma maldição que recaira sobre nós.

Acredito que os deuses estavam zangados conosco, mas eu poderia sobreviver com isso.
Sem problemas.
Eu era um conquistador de mundos e tinha milhares de anos à frente para resolver essa questão de ter um descendente.
Um herdeiro para me suceder com uma fêmea digna de carregar minha semente.
E com certeza, não seria com aquela fêmea inútil.

Outro Mundo: Contos AlienígenasOnde histórias criam vida. Descubra agora