° O INFERNO SE ABRIU °

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Lívia/Haaliyah

Se eu ainda tinha dúvidas que sou uma garota azarada, agora tenho certeza.
Esses dias, durante meu treinamento, fiquei sabendo de um torneio que aconteceria por aqui. Na hora, sequer me importei, mas depois, por conta da animação de Khepere, acabei buscando saber mais do assunto.
Yillaweh até chegou a afirmar que se eu não fosse a princesa de Heneida, estaria pronta para participar, o que me deixou bem feliz.

Reparei na movimentação dos preparativos para receber os participantes. Khepere me explicou que era uma tradição e que nessa data, Heneida abria suas fronteiras para receber outros povos, o que só acontecia a cada 70 anos. Durante o torneio marcial, os melhores guerreiros de seus respectivos planetas se apresentavam para a disputa. Isso me fez lembrar de Dragon ball.
O que isso tem a ver comigo? Não teria, mas aí descobri que Hámmon em pessoa iria participar. E pelo que soube, ele jamais participou do torneio no passado.

Minha próxima tentativa desesperada foi tentar vetá-lo, mas meu avô ranzinza não me atendeu. Segundo me explicou, o torneio significava a trégua e a paz entre os reinos planetários e muitas alianças eram forjadas durante eles. Levei nome de caprichosa e mimada.
Ai, que ódio!
Aquele imperador de meia tigela me pagaria.

O grande dia chegou antes que eu pudesse desejar ou me acostumar com a ideia. Não posso negar que a abertura das festividades estava memorável. Ruim mesmo foi ter sido apresentada a todos como uma vaca premiada, ao menos era assim que eu estava me sentindo.
Muitos soberanos vieram me cumprimentar e advinha quem estava entre eles? Pois é...

— É um prazer revê-la princesa Lívia, ou seria Haaliyah?

Tive de me segurar pra não revirar os olhos.

— O prazer é todo meu!– garanti com toda minha falsidade.

— Concede-me a honra de me acompanhar até a arena?

Meu avô que estava a espreita me fez um sinal positivo. Ou seja, eu não poderia negar.

— Pois não!– digo me obrigando a oferecer-lhe o braço.

Mal damos alguns passos nos afastando e ele me questiona:

— E então, será nos meus aposentos ou no seu?

Juro que se ele não tivesse me segurando eu teria caído durinha. Eu sabia bem o que ele queria dizer e era hora de ser esperta. Bom, passar mal sempre dava certo e foi o que fiz. O imperador me segurou. Pelo menos não deixou eu me estatelar no chão. Todos os olhares se voltaram para mim.

— Perdoe-me, majestade! Ainda estou me adaptando ao clima do planeta, se me permite, vou descansar...

— É claro!

Posso ver o quanto ele está contrariado e provavelmente sabe que estou fingindo.
Khepere se aproximou e me deu apoio para sair dali. Nesse momento, olhei rapidamente para minha mãe e avô, que pareciam bem preocupados e pisquei de olho, esperando que eles pudessem entender o significado.

— A senhora está com algum problema no olho?

— Não, Khepere! Isso é uma forma de dizer que estou só fingindo...

— Mas senhora...

— Não me recrimine.

Ela apenas deu seu melhor sorriso divertido e fomos para meu quarto. Só que bem mais tarde eu descobriria que as coisas podiam piorar. Hámmon ficara instalado bem ao  meu lado e imaginar que só havia uma parede nos separando me deixou furiosa.
E lá vai eu cobrar satisfação do meu avô; acho que aquele velho estava contra mim.

— Ah, vovô, aí já é demais! Como pode colocar aquele cretino bem ao meu lado?

— Acalme-se! É tradição que os soberanos fiquem em aposentos reais e todos os candidatos são dispostos conforme a ordem de seus nomes...

— Então me mude de lugar..
No hangar das naves... qualquer outro lugar...

— Haaliyah, minha querida, acaso darás gosto a ele de vê-la assim tão transtornada?

— Ai, eu mato ele...– resmungo antes de sair.

O remédio era tentar evitá-lo o máximo possível e trancar bem a porta. Com a mesma alegação de que não me sentia bem, jantei no quarto, evitando a confraternização com os candidatos no grande salão real.
Depois me arrumei para dormir e perambulei pelo meu espaço privado tentando me concentrar na leitura de um livro. Obviamente não deu certo.
O próximo destino foi a sacada e como sempre, a noite estava magnífica.
Sentei-me no parapeito e me distrai pensando nas meninas e no meu pai.
Como será que eles estavam?

— Vossa alteza se sente melhor?– ouço alguém me perguntar.

Foi aí que notei a presença de um soberano na sacada da esquerda, o que significa que Hámmon está à minha direita.

— Sim!– respondo um tanto confusa.

— Não se recorda de mim?

— Se não me engano, príncipe Hyank, de Lynaih.

— Sim! Além de bela, tens uma ótima memória.

— Agradeço!

— Permite-me uma observação?

Xi, lá vem. Não sei porquê, mas não fui com a cara dele. Esse branquelo me provoca arrepios.

— Faça!– digo mesmo assim.

— Eu já tinha ouvido falar dos humanos, mas é a primeira vez que tenho a oportunidade de vislumbrar um tão de perto. Aliás, meio humana.

— Espero não tê-lo decepcionado.

— De forma alguma, és perfeita! Pulsante...

Mas que merda de papo é esse?

— Como é seu planeta?– interrompo-o evitando aquela conversa estranha.

— Gelado, pouca luz natural...

— Ah! Isso explica muita coisa! – imagino seu tom de pele — Não sei se eu conseguiria viver num lugar assim, sem ofensa!

— É pouco provável, mas não pelo motivo que imaginas e sim por conta de nossos hábitos alimentares.

— Como assim?– minha curiosidade falou mais alto.

— Costuma fazer parte da nossa dieta fluidos corporais de outros seres. O que pulsa em vossa alteza me parece bem apetitoso, inclusive...

Merda!
Não acredito que meu avô me deixou entre um psicopata e um vampiro. Não tem como eu dormir assim. Isso é demais pra mim.

— Basta príncipe, Hyank! – ouvi Hámmon dizer e já vou logo revirando os olhos — Não percebe que está assustado a princesa?

— Não, não está!– Nego irritada, o que é uma total mentira.

— Perdoe-me alteza! Não foi minha intenção, mas não há o que temer, comigo a senhorita não corre perigo.

— Imagino que não!

— Apreciei nossa conversa! Com sua licença, irei me recolher...

— É claro! Farei o mesmo...

Eu fui no rumo do quarto, mas nem consegui fechar a porta da sacada e me vi presa contra a parede.

— Espere, ainda não terminamos!

— Hámmon? Como?

Droga!
Agora eu estava em apuros.

— Cuidado com o príncipe Hyank, ele é perigoso.

— Agradeço sua atenção! Deve ser uma sina viver entre homens perigosos...– alfinetei tentando manter a calma.

— Tu nem imaginas...

— Escute, você vai me soltar ou terei de chutar seu traseiro para fora daqui?

— Já esqueceu nossa conversa? Não estás pronta para me receber?

Socorro, meu Deus!
E agora?

Outro Mundo: Contos AlienígenasOnde histórias criam vida. Descubra agora