Capítulo 19A VIDA É UM JOGO…
Ver as duas garotas se encarando uma diante a outra deixava Souza aflito. Os olhares que trocavam, tão profundamente, que deveria dar até para ver a alma uma da outra simultaneamente o instigava. Faziam mais de três horas que elas nem sequer piscavam. Imaginava aquelas belas íris delas tão secas como o deserto do Saara por falta da lubrificação lacrimal. Eram duas belas esculturas em formas femininas fixadas ao assento de cadeiras sem demonstrar nenhum sentimento. Eram duas incógnitas indecifráveis.
"É só a porra de um jogo!"
Dizia-se para si mesmo. Mas, para elas, parece uma batalha mortal. Ele até tentou entender a lógica de toda aquela morbilidade entre as duas, porém desistiu nos primeiros quarenta minutos de observação. Era extremamente cansativo ver aquelas sombras diante do tabuleiro de xadrez.
Leu, releu, marcou todos os pontos necessários no mapa e continuava sem ter uma solução para a fuga deles. Pontos marcados e muito bem vigiados por todos os olhares mais astutos e cruéis que poderiam ter provocado. Era uma sinuca de bico. Alguém tinha um taco mirando em suas cabeças e ele não sabia como defender elas. Baixou com força o mapa sobre o seu colo já irritado com aquilo. Com a caneta presa aos lábios, dispensava mais uns minutos para observar elas.
"Chega! Basta!"
Declarou a si mesmo levantando da poltrona em silêncio e contornando a pequena mesa que elas dividiam. Uma fixa no olhar da outra. Elas pareciam nem respirar. A tensão entre as duas era palpável e ele sentia-se tentado a interromper isso. Só que, não era um homem corajoso para tanto.
Mirou o tabuleiro entre elas. Cada uma com um peão em mãos. Imóveis. Elas definiam a melhor estratégia de jogada. Um peão de cada e já estava nesse nível de tensão? Olhou do alto a visão delas sobre o jogo. Primeiro os possíveis movimentos da morena. Depois o da loura. Que parecia, a princípio, ser a próxima a jogar. Não entendeu bulhufas. Tentou mexer uma peça, mas antes sequer que a tocasse...
- Se presa pela sua vida, nem ouse! - Keyla deixou as palavras fluírem como se estivessem vindo do além.
- E só xadrez! - Deu de ombros aproximando os dedos de um cavalo. - Além do que, sou muito bom em xadrez!
- Encoste a mão no meu cavalo e vou enfiar o meu punho na sua cara! - Ela o segurou a milímetros de alcançar a peça.
Lince, apenas sorriu mostrando os dentes branquíssimos dela. Estaria ele pronto a fazer uma jogada errada? Olhou novamente a peça. Calculou a trajetória. As possíveis revanches. Não aguentava mais ver elas ali como duas idiotas petrificadas. Foi então que uma dúvida surgiu.
- O que estão apostando? - Olhou quase simultaneamente para as duas e viu que os sorrisos responderam sua pergunta. - Me digam por favor, que é só um delírio meu?
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Sequestrando o Playboy
RomancePara ela... A vida era um eterno competir em quatro rodas. Sentir o motor do carro pulsar na mesma frequência do ritmo do seu coração. A adrenalina pulsando nas veias em cada segundo que antecede a largada, a emoção da vitória, o suspense do percu...