CAPÍTULO 27
A TEMPESTADE…
Keila apertou o botão da descarga vendo toda a imagem da indigestão da sua alma ir para o esgoto junto com as lágrimas que derramou no processo de regurgitação. Limpou a boca com o dorso da mão e cuspiu no vaso sanitário um tiquinho a mais do problema que parece ter arranjado a sua infinita lista de problemas. A respiração arfante, destaca o medo, a surpresa e principalmente a tristeza disso estar acontecendo nesse momento tão conturbado da sua vida.
Já passou por isso uma vez. Conhece os sintomas. E eles se fazem presentes já alguns dias. Ignorou por absoluto pensando ser uma estafa do estresse que está passando. Engoliu a saliva com dificuldade pelo bolo de tristeza que se formou na sua garganta. Precisava manter a calma. A lucidez era imprescindível nesse momento.
Deu passos suficientes para se encostar na parede atrás de si e deixar o corpo escorregar até o chão. Abraçou suas pernas assim que se sentou ao piso e as recolheu junto ao corpo e escondeu o rosto nos joelhos tentando sufocar os soluços que pareciam fazer seu peito explodir. Chorar não adiantava. Não resolveria a situação. Mas, apazigua os hormônios bagunçados em tempestade no seu corpo.
Definitivamente, o universo a odiava. Poderia se perguntar o que fez para tanto? Mas, sabia a resposta. Tentou se recompor enxugando as lágrimas incessantes do seu rosto. Era quase impossível contê-las. Deu uma fungada e sentiu aquela onda nauseante lhe subir pela garganta novamente.
Quase em um pulo, abraçou a privada uma outra vez colocando, para fora todo desgosto que a sua próxima decisão traria. Agradeceu em pensamento por seu cabelo estar tão curto. Pois do contrário, não conseguiria evitar que se misturassem a lambança que estava em sua frente. Escorou a testa na porcelana fria e ensaiou uma oração. As palavras eram embaralhadas, sem contexto um suplício que só a fazia vomitar mais.
- Souza!- Deu a descarga mais uma vez e tentou pedir socorro. A situação tinha fugido do seu controle. - Souza! - gritou um pouco mais alto tentando ser ouvida.
Sabia que fechar a porta não tinha sido uma boa ideia. Não queria testemunhas para sua vergonha, só que agora, sua voz era abafada por ela e o amigo distraído na oficina não pudesse lhe ouvir.
- Que droga! - socou o vaso e tentou levantar.
As pernas estavam fracas. A tremedeira quase sem controle em seu corpo dificultava essa simples tarefa. Respirou fundo, teve que se apoiar na pia para não cair de cara no chão. Foi como correr uma maratona. E o cansaço excessivo a assustava.
O espelho em sua frente, retrata com êxito o seu estado deplorável. Estava pálida como um fantasma, olheiras profundas, as pálpebras inchadas de tanto chorar. Os cabelos, um perfeito desalinho e os verdes de seus olhos apagados de vergonha. Jogou água fria no rosto tentando aplacar a situação. Precisava voltar ao carro. Tinha poucos dias para deixá-lo preparado para o plano. Lembrar dele, era empestear o ar com cheiro de motor e gasolina. E essa lembrança, a fazia voltar ao vaso para uma nova onda de um nada mais que tinha para pôr pra fora...
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Sequestrando o Playboy
RomancePara ela... A vida era um eterno competir em quatro rodas. Sentir o motor do carro pulsar na mesma frequência do ritmo do seu coração. A adrenalina pulsando nas veias em cada segundo que antecede a largada, a emoção da vitória, o suspense do percu...