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Califórnia - Monterey - 05:30

Point Of View - Justin Bieber.

Eu odiava sentir que estava deixando algo pendente. Justin Bieber nunca deixa um problema mal resolvido, nunca foge de suas responsabilidades embora cumpri-las, as vezes, seja tão entediante. Porém, todavia, abrir mão do meu orgulho tem sido algo que tenho feito com frequência.

O coração pode te mandar fazer coisas estúpidas, mas a razão é coerente. Decido ir até o hospital do irmão, ou irmã de Maia. É bem confuso pra mim compreender que uma mulher nasceu no corpo de um homem, é como se me dissessem que o ser humano pode morar em dois corpos. Jamais fui preconceituoso, mas há certas coisas na vida que pressupõe nossa vã filosofia.

Eu precisava vê-lo. Acidentar uma pessoa inocente nunca foi minha intenção. Eu queria acidentar a pessoa que estava me seguindo naquele dia, porém o destino comi sempre caçoando da minha cara, decidiu que essa pessoa seria Maia. De certa forma, eu deveria preferir Maia nessa situação, mas não consigo me imaginar fazendo algum mal à ela, embora ela merecesse.

Me sinto uma pessoa derrotada após liberar os escravos. Aliás, combinei com Domenic que iria sustentar família por família. Temos os dados de todos, sabemos a conta corrente, o endereço, o cpf de cada um. Hoje, transferimos meio milhão na conta de cada um, em meu nome. Meio milhão de dólares compra qualquer silêncio, até mesmo o silêncio de alguém que foi escravizado e hoje tenta recomeçar.

Eu não nasci pra ser preso, nasci pra liberdade.

[....]

- Está me dizendo que eu não posso entrar naquele maldito quarto? - Questiono a recepcionista do hospital pela segunda vez. Segurando para não quebrar cada vaso de flor exposto naquela sala. - Se esse hospital está de pé é graças a mim, eu praticamente pago o seu salário, se vira e me coloque dentro daquele quarto. - Bato forte com as mãos sob o balcão e a mesma se assusta, empurrando sua cadeira para trás em alguns centímetros.

- Eu vou chamar o diretor do hospital.

- Faça isso. - Digo com desdém, não estava afim de discutir com uma assalariada maldita à essa hora da manhã.

Após alguns longos segundos encarando a cara de fuinha, observando alguns jalecos brancos passando pelo corredor, o barulho de tic tac do relógio ecoava na minha cabeça. Olho para o final do corredor e vejo Severo caminhando em minha direção, consertando sua gravata e esboçando um leve sorriso de lado, e eu balanço a cabeça em forma de cumprimento.

- Como vai, Bieber? - Ele estende suas mãos velhas em minha direção, porém não me dou o trabalho de retribuir tal ato.

- Estarei melhor quando liberaram a chave do quarto do paciente Ally Carttini.

- Não me hesitarei. Mas você sabe, o paciente está dopado de medicamentos. Hoje ele teve uma aula de fisioterapia intensa e está cansado.

- Eu não quero saber se ele está cansado, não vou transar com ele. Me dê a chave.

- Peço desculpas pelo transtorno, esse hospital só é o melhor da Califórnia por sua causa. - Ele envolve seu braço em volta do meu ombro e eu o tiro de imediato, caminhando na frente.

- Qual quarto é o dele? - Encaro porta por porta, entrando em um dos corredores.

- Peço para que não demore muito, senhor.

- Cinco minutos. - Digo, antes de parar na porta onde ele indica ser o quarto que ele está.

Ele assente e se retira. Eu entro no quarto na ponta dos pés, vendo o corpo magro deitado na maca. Eu já havia a visto antes, até mesmo participei de uma aula teórica na piscina, mas jamais imaginei que ela era a mulher que havíamos deixado tetraplégica. Esse mundo é mesmo muito pequeno e cheio de sabotagens.

Ruin above causesOnde histórias criam vida. Descubra agora