73.

333 23 4
                                    

Califórnia — Monterey — 20:01.

Point Of View — Maia Carttini.

Se algo era mais tentador do que um buraco para me esconder eu desconheço. Era tudo o que eu queria agora. Me deparar com Andie com os seus olhos cor de mel me fitando com um olhar indecifrável era como andar no escuro, eu não sabia o que ela estava pensando e nem o que faria em seguida.

Justin foi o primeiro a se levantar do sofá, ainda dando gemidos baixos pela dor no corpo e os curativos que eu nem havia finalizado ainda. Ele caminha lentamente enquanto Andie o seguia com os olhos até ela. Seus dedinhos eram agitados sob a bandeja de salada.

— Andie, eu... Eu e sua mãe precisamos conversar com você, só... Só não sabemos como você irá reagir. — Ele se agacha em sua frente e ela mantinha o mesmo olhar indecifrável.

— Angel, me ouve. — Tento me aproximar de forma espontânea. — Lembra aquelas histórias que eu contava pra você antes de dormir na Argentina? — Ela assente, concordando, enquanto Esther toma a bandeja de suas pequenas mãos, percebendo que ali haveria uma complicada conversa. — Então, nem sempre os finais daqueles contos haviam um final feliz, certo? — E ela apenas concordou, novamente. — Eu e o seu papai Wyatt não tivemos um final feliz, mas a nossa história foi linda com você e Colin.

— Eu... Eu não entendo, o que o meu papai Wyatt fez pra mamãe não gostar mais dele?

— Ele não fez nada. Só não tivemos um final feliz, porquê... Porquê a mamãe é como a Rosália daquele livro, que se casou com o Heron mas na realidade amava outra pessoa. — Andie parecia confusa, sues olhinhos pequenos intercalam entre eu e Justin e pareciam inquietos. — Você me entende ou é confuso pra sua cabeça, querida?

Ela parecia pensativa, mas ainda não sabia dizer se ela estava tranquila demais ou chocada o suficiente para manter uma tal postura que eu jamais imaginei que ela teria, mesmo que seja extremamente esperta.

— Rosalia amava o Heron, e eles se beijavam... Você e Josti também... Você ama ele, mamãe?

E então eu me travo. Porém as mãos de Justin acaricia minhas costas, como se quisesse demonstrar apoio e aquilo estava dando certo, eu não estava me sentindo insegura e nem sozinha naquele momento, ele estava aqui pra me dar a mão.

— Sim, Andie. — As palavras saem da minha boca com mais dificuldade do que eu imaginava. — Eu o amo.

— Eu também amo a sua mãe, filha.

— Filha? — Ela franze o cenho e pela primeira vez demonstra uma reação notória.

— Eu posso te chamar assim?

E então engulo seco, pensando que Justin havia sido rápido demais, mas apenas me atento em reparar na feição de Andie que estava à minha frente ainda com as mãos inquietas.

— Mas... O meu papai é o Wyatt.

— Sim, mas não seria legal ter dois pais?

— Isso também acontece nos contos? — Pergunta entusiasmada. — Eu vou ser a única da escolinha que tem dois pais.

— Isso foi um sim?

— Sim. — Ela ri nervosa. — Acho que sim.

Justin me encara como se estivesse contraindo um surto, lutando pra parecer o mais natural possível, como se o fato de ter tido o consentimento de Andie para lhe chamar de filha não tivesse mexido com ele o suficiente.

— Você é muito amada, meu amor. — Me aproximo mais, dando-lhe um beijo na testa, fazendo com que ela fechasse os olhos.

—  E vocês se amam, mesmo? Não é uma piadinha? — Ela nos pega de surpresa com essa pergunta. Confesso me sentir meia desajeitada, como uma criança fugindo do chinelo da mãe.

Ruin above causesOnde histórias criam vida. Descubra agora